05 Novembro 2013
O mundo está longe de evitar que o aquecimento da Terra ultrapasse a marca dos 2°C neste século. Este "longe" é algo entre 8 bilhões de toneladas de CO2 e 12 bilhões de toneladas de CO2 lançadas à atmosfera. São bilhões de toneladas de gases-estufa sobrando na matemática das emissões e que podem fazer com que o impacto da mudança do clima seja ainda maior do que o esperado.
Há outro agravante: quanto mais o mundo demora em ter ações fortes e ambiciosas no combate ao aquecimento, mais se estreita a janela de oportunidades de chegar a uma economia de baixo carbono a custos mais baixos.
A reportagem é publicada pelo jornal Valor, 05-11-2013.
"Isto significa cortes muito maiores nas emissões no médio prazo", alerta um estudo feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e divulgado hoje simultaneamente em Berlim e Nairóbi. O atraso em cortar mais emissões de gases-estufa "provocará maior dependência em tecnologias de eficácia ainda não comprovada no médio prazo e causará maiores gastos de mitigação", continua o relatório. E alerta que o atraso pode significar "grande risco de fracassar em atingir a meta dos 2° C".
Para tentar assegurar que o aquecimento da Terra chegue a 2°C no máximo, cientistas estimaram que as emissões globais deveriam ser de 44 bilhões de toneladas em 2020 e cair para 40 bilhões de toneladas em 2025. Teriam que ser 35 bilhões em 2030 e 22 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (medida que nivela todos os gases-estufa ao potencial de aquecimento do CO2) em 2022.
Mas não é esta a tendência que se verifica no mundo - ao contrário, nos cenários prováveis sobram os bilhões de toneladas mencionados acima. O cálculo leva em conta as promessas e os resultados de cortes de emissões de gases-estufa feitos por muitos países.
O relatório "The Emissions Gap" - algo como "A Lacuna das Emissões" - foi elaborado por 70 cientistas de 17 países e financiado pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha para o Pnuma. Esta é a quarta edição do estudo iniciado em 2010, logo depois das promessas feitas por alguns países durante a Conferência do Clima de Copenhague, em dezembro de 2009, de reduzirem suas emissões.
"À medida que vamos a Varsóvia para as últimas rodadas de negociação, há uma necessidade real de que todos os países aumentem a ambição nos cortes", registrou Achim Steiner, subsecretário geral da ONU e diretor executivo do Pnuma. Segundo o estudo, há chances de se alcançar a meta dos 2 °C se as promessas de corte de emissão forem mais fortes e existirem iniciativas de cooperação internacional em eficiência energética, reforma dos subsídios aos combustíveis fósseis e investimentos em energias renováveis. A agricultura também pode contribuir, já que o setor responde por 11% da emissão global de gases-estufa.
O relatório mostra que "para onde o mundo está indo e com as reduções que os países se comprometeram até agora, a diferença entre o que deveria estar sendo emitido e o que está realmente sendo lançado à atmosfera está aumentando", explica Roberto Schaeffer, professor do programa de planejamento energético da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o único brasileiro a participar do estudo.
Schaeffer explica que o estudo de 64 páginas trabalha com um cenário de custos mínimos. "Quanto mais nos afastarmos dos níveis que deveríamos estar em 2020, mais nos restringiremos a duas opções: ou não vamos mais conseguir manter o aquecimento em 2 °C ou conseguiremos, mas com custos muito maiores." Em outras palavras: "em um dos cenários, a meta é possível, mas mais cara. Em outro, o problema não é mais de custos, torna-se uma impossibilidade."
Sobre a crise econômica, Schaeffer lembra que os países que mais puxam as emissões hoje - emergentes - não estão em dificuldades financeiras. "Se por um lado um país rico em crise emite menos, por outro não faz investimentos na matriz energética para limpar a economia", diz. "Se não fizer hoje, o risco é de, lá na frente, perder o bonde da energia renovável."
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Meta de corte de CO₂ está distante - Instituto Humanitas Unisinos - IHU