Por: Cesar Sanson | 08 Junho 2012
Das 90 metas ambientais mais importantes traçadas pelos países nos últimos 40 anos, só 4 avançaram significativamente. Divulgado ontem, o diagnóstico fez soar o alerta a uma semana do início da Rio+20: de nada adiantam os acordos se não houver prazos, monitoramento e cobrança.
A reportagem é de Roberta Pennafort e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 07-06-2012.
A conclusão é fruto do Panorama Ambiental Global (GEO-5), análise cuidadosa feita por cientistas de todo o mundo a cada cinco anos, coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
O relatório, que consumiu dois anos e meio de trabalho de mais de 300 especialistas, enumera desafios já conhecidos, como as mudanças climáticas, a perda progressiva de biodiversidade e a escassez de água.
O diagnóstico será enviado aos mais de 180 representantes de governos presentes à Rio+20. A ONU espera que os dados - em sua maioria alarmantes, apesar de alguns aspectos positivos na comparação com os GEOs anteriores, como a redução do desmate na Amazônia e o esforço chinês para o reflorestamento, a diminuição da poluição do ar e os investimentos em energias renováveis - impactem as decisões. No entanto, não há garantias.
"Nos últimos 20 anos, muitos desses relatórios foram jogados no lixo. Mas hoje existe uma inquietação na sociedade que não permite que aconteça de novo", disse Achim Steiner, do Pnuma.
"As ações têm que começar ontem. Estamos vindo de uma inércia de 20 anos, e a Rio+20 é o momento de romper com isso. Em muitos aspectos já não há mais volta", disse Carlos Nobre, que representou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Entre as 90 metas, as 4 mais bem-sucedidas foram o fim da produção de substâncias que destroem a camada de ozônio, a eliminação do chumbo em comestíveis, a melhoria do acesso à água e o incremento nas pesquisas para reduzir a poluição.
Já nas áreas de preservação de estoques de peixes e de freio nos processos de desertificação, secas e de mudanças climáticas não se avançou. Em 24 metas verificou-se pouco ou nenhum avanço e em 8, entre elas a relacionada às condições dos recifes de coral no mundo, uma piora do quadro em relação aos relatórios anteriores.
O momento é, portanto, de urgência na reversão de danos e do modelo de desenvolvimento atual para um que contemple a sustentabilidade. Para tanto, o GEO-5 explicita a necessidade de objetivos claros, de curto e longo prazo, com previsão de sanções - justamente um dos pontos frágeis da Rio+20.
Segundo o relatório, decisões de governos são responsáveis por 39% das políticas que se provaram bem-sucedidas; enquanto isso, só 22% dependem de empresas e comunidades. "Não tivemos mais avanços porque os governos não abraçaram o desenvolvimento sustentável. Essa é a primeira vez que, desde o início da discussão, as áreas econômica e ambiental estão juntas", apontou Henrietta Elizabeth Thompson, coordenadora executiva da ONU para a Rio+20.
O capítulo dedicado à América Latina e Caribe - região detentora de um terço da água do planeta e um quarto das florestas - lista como maior problema a desigualdade social.
Em Nova York, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pressionou ontem os países integrantes das Nações Unidas a intensificarem os esforços para a conferência ser um sucesso. "A Rio+20 é uma chance em uma geração para conseguir progressos em direção à economia sustentável no futuro", disse Ban em entrevista coletiva na sede da ONU. Apesar de seu perfil tradicionalmente reservado, ele fez a advertência de que, "se a perdermos, precisaremos esperar por muito tempo" para ter uma oportunidade semelhante.
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Avanço de metas ambientais globais em 40 anos é quase nulo, mostra ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU