Por: André | 21 Outubro 2013
O apreço da Igreja equatoriana não se fez esperar e, através do presidente dos bispos Antonio Arregui, chegou ao destinatário como elogio público “pela coragem e pela nobreza de ânimo com que se posicionou”. Um veredicto sobre as declarações do presidente do Equador, Rafael Correa, sobre a despenalização do aborto, caso a lei fosse aprovada no Congresso de seu país, com o apoio de seus companheiros de partido (Aliança País).
A reportagem é de Alver Metalli e publicada no sítio Vatican Insider, 18-10-2013. A tradução é de André Langer.
Como uma pedrinha no lago, o “católico” e “revolucionário” presidente equatoriano agitou as águas na América Latina, onde a esquerda, em seus diferentes graus, governa há uma década. E com um Papa como Francisco, “avançado” nos temas sociais, que propõe um “novo equilíbrio no edifício moral da Igreja”, também se embaralham as cartas da esquerda latino-americana.
O ex-presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, tomou a mesma direção que Correa, em 2008, e sua oposição a aceitar a lei custou-lhe o ostracismo de boa parte da Frente Ampla, em cujo nome governava como presidente. Apesar de tudo, não mudou sua postura agora que novamente é candidato, e voltou a insistir em que nenhum cientista medianamente sensato pode negar que um zigoto, fruto da fusão de duas células, é um indivíduo diferente do pai e da mãe. Com uma linguagem médica (não devemos esquecer que Tabaré Vázquez é ginecologista) esclareceu que a filiação não é determinada pelo alojamento no útero, mas pela fecundação, e esta não é uma questão religiosa, mas uma certeza biológica. Tabaré Vázquez, segundo as pesquisas, prepara-se para voltar a ocupar a cadeira presidencial que perdeu em 2010. As próximas eleições serão em outubro de 2014.
Na Argentina, enquanto a presidente Cristina Fernández mantém sua postura antiabortista em nível pessoal, embora a maior parte do “kirchnerismo” seja a favor, outro socialista, além de candidato à presidência, Hermes Binner (assim como Tabaré Vázquez), afirmou, “como médico”, que “defender a vida é ser contra o aborto”, mas sem compartilhar sua penalização. Algo semelhante opina o presidente boliviano, Evo Morales, quando sustenta que o aborto é um crime, embora pareça ser favorável à despenalização, que está em discussão no seu país.
Surpreende observar que a esquerda mais revolucionária, a que há algumas décadas era uma guerrilha, é também a mais intransigente contra o aborto. Provavelmente, porque historicamente está mais inclinada ao “sentir” popular das localidades rurais e majoritariamente católicas às quais se propunha levantar em armas.
O presidente de El Salvador, Mauricio Funes, por conta do FMNL, opôs-se em diferentes ocasiões à despenalização do aborto e afirmou recentemente que não promoverá nenhuma reforma constitucional que vá nesta direção. Daniel Ortega, sandinista e ex-guerrilheiro, inclusive rechaçou as emendas que despenalizavam o aborto terapêutico. A postura antiabortista do presidente nicaraguense é compartilhada também por sua esposa, Rosario Murillo, que com muita probabilidade o sucederá na presidência nas próximas eleições, segundo as pesquisas.
A esquerda que quer o aborto, embora com diferentes graus quanto à “livre auto-determinação da mulher”, tem seus paladinos no ex-presidente brasileiro, Lula da Silva (contrário ao aborto como cidadão, mas a favor como chefe de Estado) e na socialista Michelle Bachelet, cuja eleição, dada como certa, voltaria a propor a despenalização no código chileno.
São notáveis as posturas favoráveis da esquerda mexicana em geral e, em particular, do Partido Democrático Revolucionário, que no Distrito Federal já aprovou a despenalização do aborto, oferecendo o serviço público nos hospitais para a interrupção da gravidez. Enquanto isso, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, assim como seu predecessor Hugo Chávez, legalizaria o aborto apenas em caso de violação e incesto; ao contrário, o opositor Henrique Capriles, declarou-se “favorável ao aborto terapêutico e à pílula do dia seguinte”.
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América do Sul. A esquerda revolucionária contra o aborto. Efeito Correa? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU