11 Outubro 2013
Um primeiro fruto do encontro dos dias 1º a 3 de outubro do novo Conselho de Cardeais do papa já está claro, com o anúncio do tema para o próximo Sínodo dos Bispos e os planos para mudanças significativas no processo destinado a torná-lo mais participativo, substancioso e eficiente.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 08-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Vaticano anunciou na última terça-feira que o tema do Sínodo será "Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização", cujo encontro irá ocorrer entre os dias 5 e 19 de outubro de 2014, em Roma.
Dado o tema, a espinhosa questão pastoral da comunhão para os católicos divorciados e recasados civilmente está destinada a surgir. Em outras ocasiões, Francisco deu pistas no sentido da abertura a um maior grau de flexibilidade sobre o assunto, talvez seguindo as linhas da tradição ortodoxa.
Demonstrando o seu interesse pelo iminente Sínodo, na segunda-feira, Francisco deu o passo incomum de deixar a Domus Santa Marta, onde ele está vivendo e onde as pessoas que têm negócios com o papa normalmente vão ao seu encontro, a fim de descer a Via della Conciliazione de carro para participar de uma reunião de trabalho dos bispos que compõem o secretariado do Sínodo.
O Conselho de Cardeais dedicou uma boa parte do seu primeiro encontro com o papa na semana passada ao Sínodo, em parte porque Francisco tinha indicado que queria que ele acontecesse logo, mas de uma nova maneira.
Fundado pelo Papa Paulo VI em 1965, no encerramento do Concílio Vaticano II, o Sínodo dos Bispos foi concebido como uma forma de o papa ouvir a voz das Igrejas locais na tomada de decisões. Geralmente, ele reúne cerca de 300 bispos e outros participantes para uma reunião de três semanas em Roma.
Ao longo dos anos, os críticos se queixaram de que os preparativos para o Sínodo muitas vezes não promovem uma verdadeira consulta, que as conclusões às vezes parecem previamente determinadas e que muito tempo é desperdiçado na discussão das decisões.
Fontes disseram ao NCR que as revisões iminentes ao Sínodo preveem um processo multifásico envolvendo oportunidades generalizadas para a participação da base, incluindo o uso da internet para recolher sugestões.
Depois de um primeiro encontro em Roma, um esboço conjunto de propostas para o papa será enviado de volta para as bases para uma maior reação e discussão, e só seria adotado em uma segunda sessão.
A figura solitária de fora do Conselho de Cardeais que falou ao grupo na semana passada foi o arcebispo italiano Lorenzo Baldisseri, indicado por Francisco no dia 21 de setembro como novo chefe do Sínodo dos Bispos.
Em outras frentes, fontes dizem que o Conselho de Cardeais discutiu o futuro do secretário de Estado, considerado por tradição como o primeiro-ministro do Vaticano, com um sentido básico de que pode ser um erro concentrar a responsabilidade tanto pelas relações externas quanto pela governança interna da Igreja em uma única figura.
A Secretaria de Estado já está dividido em duas seções, correspondentes a essas duas tarefas. Resta saber se elas serão formalmente separadas em dois departamentos separados ou se Francisco irá gradual e informalmente transferindo a responsabilidade pela governança interna para outro lugar, permitindo que o novo secretário de Estado, o arcebispo italiano Pietro Parolin, se concentre nos assuntos externos.
Parolin deve tomar posse no dia 15 de outubro. A maioria dos cardeais do Conselho pareceu ver a nomeação de Parolin de forma positiva, com base na sua reputação de competência e de uma forte ética de trabalho, embora um cardeal, em off, tenha expressado esperança de que Francisco não confie exclusivamente em "diplomatas italianos" para preencher os papéis fundamentais com o passar do tempo, desejando um maior grau de "internacionalização" das operações vaticanas.
Aparentemente, houve um interesse entre os cardeais pela hipótese de uma nova posição para coordenar o trabalho dos vários departamentos do Vaticano, embora provavelmente não sob o título de "moderador da Cúria". Em parte, isso se deve ao fato de esse ser um termo no direito canônico usado por um oficial diocesanos que muitas vezes também é o vigário para o clero, e os cardeais não querem criar um "vice-papa".
Fontes enfatizaram que o Papa Francisco se envolveu altamente nas discussões com os cardeais, mostrando um forte domínio dos detalhes.
O NCR confirmou que outros dois assuntos surgiram durante as discussões: os escândalos de abuso sexual da Igreja e a questão dos títulos honoríficos concedidos pelo papado.
Lombardi disse aos jornalistas durante uma coletiva de imprensa no dia 3 de outubro que não houve qualquer discussão sobre a questão dos abusos sexuais, mas, aparentemente, isso surgiu no fim da tarde.
Em geral, fontes dizem que Francisco afirmou o seu compromisso com uma forte política de "tolerância zero" ao abuso por parte dos membros da Igreja.
Antes da reunião do Conselho, Francisco tinha usado um consistório do dia 30 de setembro, convocado para ratificar a data de canonização dos Papas João Paulo II e João XXIII, para medir a temperatura dos cardeais sobre a ideia de criar tribunais nacionais ou regionais para os casos de abuso sexual, medida vista por especialistas como potencialmente útil especialmente para as regiões do mundo que não possuem expertise e recursos na área.
Fontes dizem que, no entanto, esse projeto pode não avançar em breve, em parte porque ainda há oposição em alguns setores às novas regras adotadas por Bento XVI segundo as quais esses casos são tratados – inclusive, dizem as fontes, preocupações com os direitos ao devido processo por parte dos padres acusados.
O Conselho de Cardeais também levantou a questão de conceder títulos honoríficos, como o hábito de nomear sacerdotes como "prelados honorários", permitindo-lhes, assim, usar o título de monsenhor.
O Papa Francisco deu mostras de que o seu desejo é voltar atrás com relação a essas práticas, como parte de um esforço mais amplo para projetar uma visão mais modesta e pastoral da liderança eclesial.
Finalmente, os cardeais, aparentemente, também expressaram o desejo de ver um papel dos leigos mais forte dentro do próprio Vaticano, incluindo a possibilidade de que certos cargos estritamente administrativos, como o Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, não precisem ser confiados ao clero.
Francisco atualmente tem uma comissão de oito membros que está estudando as estruturas econômicas e administrativas da Santa Sé, e um cardeal disse ao NCR, em off, que a comissão está "trabalhando muito bem".
"Aqueles que querem ver uma mudança real", disse o cardeal, "têm razão para estar otimistas".
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Um Sínodo renovado sobre o casamento é o primeiro fruto do G8 de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU