Por: André | 02 Agosto 2013
Qual é a nossa atitude em relação ao dinheiro? Queremos sempre mais dinheiro para garantir o nosso futuro? Como nós o ganhamos? Somos livres diante do dinheiro que temos ou que queremos adquirir? Estas são as questões que devemos responder, como cristãos, como discípulos de Cristo.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette (Quebec), Canadá, e publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 18º Domingo do Tempo Comum – Ciclo C do Ano Litúrgico (04 de agosto de 2013). A tradução é do Cepat.
Referências bíblicas:
Primeira leitura: Ecl 1, 2; 2, 21-23
Segunda leitura: Cl 3, 1-5.9-11
Evangelho: Lc 12, 13-21
Eis o texto.
No caminho para Jerusalém, por entre incidentes, encontros e palavras que pontuam a viagem, Lucas nos ensina como tornar-se discípulos do Jesus ressuscitado. No domingo passado, aprendemos a rezar; no próximo domingo, aprenderemos a vigilância nas responsabilidades que nos são confiadas; hoje, aprendemos como nos guardar das falsas seguranças, que consistem em acumular sempre mais bens materiais para si mesmos em vez de buscar partilhá-los com os outros. A questão que nos é colocada é a seguinte: queremos nos tornar ricos de celeiros ou de coração? Que mensagens podemos tirar da Palavra de Deus de hoje?
1. O dinheiro
Qual é a nossa atitude em relação ao dinheiro? Queremos sempre mais dinheiro para garantir o nosso futuro? Como nós o ganhamos? Somos livres diante do dinheiro que temos ou que queremos adquirir? Estas são as questões que devemos responder, como cristãos, como discípulos de Cristo.
O teólogo francês Michel Hubaut escreve: “Alguns arruínam sua saúde em horas extras para poder pagar uma segunda casa, outros se indispõem para sempre com sua própria família por brigas de herança ou perdem o sono e o apetite seguindo as flutuações das bolsas de valores. Uns e outros sacrificam tudo, descanso, equilíbrio pessoal, vida familiar, os simples prazeres do presente para se prepararem para o futuro! Aumentar sua fortuna, construir, ampliar, tornar-se rico, sempre mais rico... para desfrutar da sua aposentadoria! Assim, o homem é capaz de prever tudo, exceto o infarto e o acidente que, esta mesma noite, o levará brutalmente!”.
Este é o sentido do evangelho de hoje... Não que o dinheiro seja ruim, mas ele não deve ser o objetivo último da nossa vida. Há ricos que são livres em relação ao dinheiro e há pobres que são escravos dele. Podemos mesmo dizer que a riqueza material deve ser diretamente proporcional à riqueza do coração, para alcançar um melhor equilíbrio. Por quê? Lucas escreve: “Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens” (Lc 12, 15). E é verdade, pois sendo ricos ou pobres, todos morreremos! A parábola que Lucas é o único a contar quer ilustrar perfeitamente esta dura realidade.
2. Ricos em celeiros
No sistema capitalista que é o nosso, devemos ser vigilantes. Em nome do lucro, os dirigentes de empresas muitas vezes estão dispostos a sacrificar a segurança das pessoas para obter mais dinheiro. Temos o exemplo do que aconteceu há três semanas em Lac Mégantic [Referência ao acidente de trem ocorrido no começo de julho no centro desta cidade. O trem transportava derivados de petróleo. Com o descarrilamento, vários tanques pegaram fogo e explodiram, causando a morte de quase 50 pessoas e a destruição de cerca de 30 edifícios. (Nota do tradutor)]. Um desastre humano e ecológico ocorreu e pode ocorrer em outros lugares também, caso não fizermos nada para mudar a situação. Em nome do capital econômico e do lucro, as pessoas são capazes de destruir o planeta. É assim em todos os lugares onde o capitalismo é visto como um deus. Tomemos como exemplo as comunidades religiosas missionárias da América do Sul que há muitos anos denunciam a atitude das empresas mineradoras canadenses que exploram os pobres e que destroem o ambiente.
Recordemos também a última grande crise econômica nos Estados Unidos, onde pudemos ver a irresponsabilidade e a imoralidade de alguns dirigentes de empresas ou de bancos que se concederam bônus exorbitantes e injustificados, de sorte que o presidente Obama se viu obrigado a intervir para parar este flagelo. O afã do ganho espreita a todas e todos. Neste campo, o ser humano é capaz das piores injustiças e das piores atrocidades para poder enriquecer. O homem rico da parábola diz a si mesmo: “Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!’” (Lc 12, 18-19).
Por outro lado, pode acontecer o que os ricos não podem prever: “Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?’” (Lc 12, 20). Isso não significa que não devemos ser previdentes em relação ao nosso futuro, mas que devemos amontoar, não egoisticamente para nós mesmos, mas em vista de compartilhar suas riquezas com os outros, sobretudo os mais pobres. Lucas acrescenta: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus”. Este é o mesmo sentido que encontramos na primeira leitura de hoje do livro do Eclesiastes: “Vaidade das vaidades, dizia o Eclesiastes. Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!” (Ecl 1, 2).
3. Ricos de coração
Como tornar-se rico de coração? Quando se sabe que a vida é efêmera, que acreditamos na vida após a morte, que temos a profunda convicção de que somos filhas e filhos de Deus por causa do Cristo da Páscoa e que já somos ressuscitados com ele, devemos desenvolver a riqueza do coração. Na segunda leitura de hoje, o autor da carta aos Colossenses escreve: “Se vocês foram ressuscitados com Cristo, procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3, 1).
Sabendo disso, a nossa atitude e os nossos comportamentos em relação aos bens materiais não são mais os mesmos: “Façam morrer aquilo que em vocês pertence à terra: fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir, que é uma idolatria” (Cl 3, 5). Isso não significa que devemos viver como seres desencarnados, mas aspirar a mais espiritualidade, mais partilha, mais generosidade, mais justiça e mais dignidade. O autor de Colossenses acrescenta: “Não mintam uns aos outros. De fato, vocês foram despojados do homem velho e de suas ações, e se revestiram do homem novo que, através do conhecimento, vai se renovando à imagem do seu Criador” (Cl 3, 9-10). No fundo, a Palavra de hoje nos convida a nos tornarmos ricos de coração!
Para terminar, gostaria de partilhar com vocês esta bela reflexão do teólogo francês Marcel Metzger: “Renovar: Que maravilha esse transplante: para substituir um coração quase parado, um fígado cansado ou um rim desgastado, o cirurgião transplanta um outro em bom estado. Mas para isso foi preciso a morte de uma outra pessoa, um doador. No mistério cristão, vivemos uma realidade semelhante, que São Paulo exprime através de diferentes comparações: vocês foram enxertados, revestidos com uma nova humanidade, mergulhados na morte e na ressurreição. Porque foi preciso uma morte para permitir isto. No entanto, foi uma Ressurreição. O batismo e a confirmação operaram o transplante. Mas cada domingo, a Eucaristia renova nossos tecidos, irrigando nosso espírito pela Palavra de Deus, ao renovar o nosso ser pelo alimento divino”.
Se Cristo nos deu sua vida, é para que déssemos a nossa aos outros. Esta é a riqueza do coração!
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Ricos em celeiros ou de coração? (Lc 12, 13-21) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU