05 Julho 2013
A nossa esperança é de que os núncios tenham ouvido e recebido a mensagem de Francisco do último dia 21 de junho e de que eles mantenham esses critérios em mente ao procurarem novos candidatos ao episcopado.
Publicamos aqui o editorial do jornal National Catholic Reporter, 03-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
"Manso e misericordioso": isso soa semelhante ao seu bispo ou ao tipo de bispo que você espera que possa ser nomeado para a sua diocese? O que você acha de um bispo local que você pudesse descrever como "manso, paciente (...) que ame a pobreza interior (...) e também a simplicidade e austeridade de vida"? O que você pensaria de um bispo que não fosse ambicioso e não estivesse em busca de uma sede maior e mais prestigiosa? E de um bispo sem "a psicologia dos príncipes"?
Essa não é uma lista de desejos dos católicos progressistas. Essas são qualidades que os candidatos episcopais deveriam ter, de acordo com o que o Papa Francisco disse em uma reunião de embaixadores papais no dia 21 de junho. Os núncios papais e os delegados apostólicos vieram dos mais distantes cantos do globo para um encontro de dois dias.
In loco, esses homens são o lendário corpo diplomático papal. Eles detêm postos de privilégio dentro do establishment político de uma nação, mas também estão bem conectados aos movimentos populares por causa dos seus vínculos com a Igreja local. Um dos seus deveres, uma "delicada tarefa", disse Francisco, é localizar talentos e avaliar os candidatos episcopais.
"Fiquem atentos para que os candidatos sejam pastores próximos das pessoas", disse ele. Como é de seu estilo, Francisco usou uma linguagem bastante tradicional. Ele disse que os bispos devem ser "esposos de uma Igreja", no sentido de que eles devem ter fortes laços com a Igreja local e não estar "em constante busca de uma outra".
A sua advertência de que os bispos devem "vigiar o rebanho que lhes foi confiado" e estar atentos "aos perigos que o ameaçam" não é um convite para construir muros contra um mundo exterior hostil. Ao contrário, disse, os bispos devem "vigiar [e] cuidar da esperança, que haja sol e luz nos corações, sustentar com amor e com paciência os desígnios que Deus atua no seu povo".
Alguns notaram que o que faltou na lista de atributos episcopais de Francisco foi lealdade e ortodoxia, os dois critérios que dominaram o processo de nomeação com os papas João Paulo II e Bento XVI.
Francisco disse aos seus diplomatas para se lembrarem desse "critério fundamental na escolha de quem deve governar: si sanctus est oret pro nobis, si doctus est doceat nos, si prudens est regat nos – se é santo, que reze por nós; se é douto, que nos ensine; se é prudente, que nos governe".
Parece que Francisco está à procura de pastores que tenham um senso de alegria e que possam compartilhar essa alegria com os outros. Ele está buscando ouvintes que possam se sintonizar com os "desígnios que Deus atua no seu povo".
A nossa esperança é de que os embaixadores papais tenham ouvido e recebido a mensagem de Francisco e de que eles mantenham esses critérios em mente ao procurarem candidatos episcopais.
Nós gostaríamos de acrescentar apenas uma coisa. Gostaríamos de sugerir que, além desse conjunto de critérios, os embaixadores também verifiquem junto ao povo sobre o novo bispo que estará servindo. Em dezembro passado, o abade beneditino Peter von Sury, da Abadia de Mariastein, na Suíça, abordou a necessidade de uma maior consulta local ao se selecionarem novos bispos.
Von Sury disse que, durante o primeiro milênio, três autoridades eram decisivas na nomeação de um novo bispo para uma diocese, a saber, os fiéis locais, o clero local e os bispos vizinhos, que hoje seriam o equivalente à conferência local dos bispos.
"Esse é um procedimento que faz sentido", disse ele. Nós concordamos.
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''Os critérios de escolha dos bispos podem ir um pouco mais longe'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU