Por: André | 29 Junho 2013
O cardeal arcebispo de Sidney, George Pell, que se encontra em Roma para uma série de compromissos no Vaticano, concedeu esta entrevista no dia 24 de junho. Ele compartilhou suas impressões sobre os primeiros 100 dias do Pontificado de Francisco e sobre a reforma da Cúria Romana.
“O tipo de Papa que temos agora é diferente e está fazendo muitas coisas”, disse o cardeal. Mas também expressou suas preocupações com a saúde do Papa, que está trabalhando sem descanso.
Pell (na foto), um dos oito conselheiros nomeados por Francisco, prevê uma “mega reorganização” da Cúria Romana e espera que se possam encontrar métodos mais eficazes para a seleção de seus membros.
A entrevista é de Gerard O’Connell e publicada no sítio Vatican Insider, 27-06-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Francisco completou 100 dias como Papa. O que mais recorda destes dias?
Creio que o encontro que acaba de ter com os motociclistas da Harley Davidson: foi emblemático. O Papa sentiu-se completamente à vontade com eles e os abençoou. Creio que isto demonstra que temos um Papa diferente agora. É um Papa que entende a importância dos símbolos e, além disso, trata de explicar as narrativas e parábolas de que fala.
Escolheu o nome de São Francisco, que se distinguiu em muitos aspectos. Conta-se que disse aos seus irmãos: “Preguem o Evangelho com ações e, se for necessário, usem também as palavras”. Penso que o Santo Padre entende muito bem disto e por isso seu estilo de ensino é muito diferente do de Bento XVI. Alguns disseram que Bento XVI era um bom mestre para os intelectuais, bispos e sacerdotes, mas Francisco é muito mais imediato e direto: fala para as pessoas comuns.
O que acha da sua decisão de morar na Casa Santa Marta?
Penso que a decisão foi tomada por uma pessoa que claramente gosta da companhia e, se posso lançar uma hipótese, suspeito que esta é a ação de um homem que não quer ser vigiado nem controlado. Sou a favor dos Papas que fazem o Papa.
Que mais recorda destes 100 dias do Papa Francisco?
Penso que deveria cuidar sua saúde. Não é nenhum jovem e parece que está trabalhando sem descanso. Evidentemente, é muito forte, depois de anos de trabalho, mas penso que a todos nós interessa que não exagere no trabalho; ou seja, que trabalhe intensamente, mas de maneira que possa suportá-lo. A verdade é que está mantendo um ritmo extraordinário.
Com seu compromisso e seu apelo a uma vida simples, marcada pela pobreza, Francisco converteu-se em um exemplo (para sacerdotes, bispos e papas). Você acredita que muitos bispos e sacerdotes refletem sobre seu estilo de vida a partir deste exemplo?
Sem dúvida. O estilo de seu pontificado, seus ensinamentos e o estilo de vida de Francisco influirão na vida de toda a cúria. O papa não quer que o Vaticano seja visto como uma corte renascentista ou como uma corte do século XVIII, mas como um lugar em que as pessoas levam a sério o serviço para Cristo e para o próximo.
Você é um dos oito cardeais escolhidos como conselheiros por Francisco. Quais são as principais reformas que gostaria ver no Vaticano?
Em vez de partir com uma grande reorganização da cúria (embora seja feita em grande medida), penso que deveríamos nos concentrar em alguns problemas concretos. Devemos melhorar a disciplina e a moral. Penso que Francisco deu grandes passos na relação com o IOR, mas se poderia fazer muito mais. Penso que as finanças vaticanas e os supostos mal-entendidos com o arcebispo Viganó são alguns dos aspectos que precisam ser enfrentados. Para ser mais específico, penso que deveria haver uma auditoria externa anual, como se faz no mundo anglo-saxão. E depois, nas realidades vaticanas que se ocupam da comunicação falta coordenação e se gasta muito com certas agências. Estes são alguns aspectos práticos com os quais temos que nos ocupar.
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O Papa Francisco não quer uma “corte renascentista”, segundo o cardeal Pell - Instituto Humanitas Unisinos - IHU