26 Junho 2013
Em São Paulo, 35 mil pessoas protestavam na avenida Paulista, no sábado (22), para a corrupção e o custo exorbitante da organização da Copa do Mundo de 2014. Vestidas com as cores nacionais, elas marchavam em um clima festivo, entre cantos, passos da dança e rojões.
Ao mesmo tempo, os bares da avenida transmitiam em um telão a partida entre a seleção nacional contra a Itália. Telespectadores com a camisa brasileira acompanhavam a vitória de sua equipe, saudando cada gol --a partida terminou com uma vitória do Brasil (4 a 2)-- com gritos de alegria que se misturavam às palavras de ordem dos manifestantes. Era impossível distinguir os dois lados, e com razão: muitas vezes eram os mesmos.
A reportagem é de Benoît Hopquin, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 25-06-2013.
Os moradores da capital econômica do Brasil são como todo o resto do país, divididos entre o amor pelo futebol e a repulsa diante de seus abusos financeiros: segundo uma pesquisa, 75% dos brasileiros apoiam as manifestações e 67% aprovam a vinda da Copa do Mundo.
Os brasileiros estão chocados sobretudo com a condescendência da Federação Internacional de Futebol (FIFA). Joseph Blatter, seu presidente, zombou dos manifestantes em uma entrevista ao jornal "Estado de São Paulo": "O futebol é mais forte que a insatisfação das pessoas". "Isso vai se acalmar", ele concluiu, não sem desdém.
Essas declarações vieram após as tiradas de Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA, que havia declarado que os brasileiros deveriam se dar "um chute no traseiro" se quisessem estar prontos a tempo. Ao mesmo tempo, o francês elogiou a Rússia de Vladimir Putin, responsável pela edição de 2018, e tirou a seguinte conclusão: "Às vezes menos democracia é preferível para organizar uma Copa do Mundo". Os decretos da Federação para obter uma exoneração de impostos ou para que fosse retirada a lei que proibia bebidas alcoólicas nos estádios, com o intuito de satisfazer uma cervejaria patrocinadora, contribuíram para a irritação.
"Falta de escrúpulos"
A FIFA foi alvo de chacota dos manifestantes e dois de seus veículos foram incendiados. Após tantas gafes, os caciques do futebol voltaram atrás em um comunicado, fazendo um mea culpa: "Nós apoiamos e reconhecemos o direito à liberdade de expressão e de manifestação pacífica".
O debate sobre a fatura da Copa do Mundo, que poderá chegar a € 11 bilhões, divide até os antigos astros do esporte nacional. O "rei" Pelé havia criticado as manifestações, antes de se desculpar. Rivaldo, campeão mundial de 2002, acreditou que era "uma vergonha gastar tanto dinheiro nessa Copa do Mundo e deixar os hospitais e as escolas em condições precárias".
Dois outros campeões mundiais, Romário e Ronaldo, se atacaram através da mídia. O primeiro, que se tornou deputado de um partido de esquerda, criticou a FIFA, sua "falta de respeito e sua falta de escrúpulos". O segundo, que é membro do comitê de organização, o tachou de oportunista. Há pouco tempo uma afirmação de Ronaldo ficou famosa: "Não se faz uma Copa do Mundo com hospitais". Uma gafe pela qual ele teve de se desculpar.
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Descontentamento de manifestantes se volta para a Fifa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU