Por: Jonas | 05 Junho 2013
“Ameaça” e “apunhalada” foram os termos que Morales e Ortega usaram para descrever, negativamente, a aproximação do governo colombiano com a OTAN. Inclusive, o mandatário boliviano pediu uma reunião do bloco Unasul.
A reportagem é publicada no jornal Página/12, 04-06-2013. A tradução é do Cepat.
Bolívia, Venezuela e Nicarágua repudiaram, ontem, os acordos de cooperação entre Colômbia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O presidente da Bolívia, Evo Morales, qualificou como uma ameaça para o continente que o governo do presidente Juan Manuel Santos inicie um processo de aproximação da OTAN.
De sua parte, o mandatário nicaraguense, Daniel Ortega, considerou que os planos da Colômbia constituem uma apunhalada ao processo de integração latino-americana. Além disso, Morales pediu ao secretário geral da Unasul, o venezuelano Alí Rodríguez, que convoque uma reunião de emergência do Conselho de Segurança do bloco, para analisar o anúncio feito por Santos.
“Este mês que inicia, o mês de junho, a OTAN irá assinar um acordo com o governo colombiano, com o Ministério da Defesa, para iniciar todo um processo de aproximação, de cooperação, com vistas também a ingressar nessa organização”, havia informado Santos, no sábado. No entanto, a OTAN assegurou, ontem, que embora esteja interessada em impulsionar a cooperação com a Colômbia, e que está trabalhando para isso, o país não cumpre com os critérios geográficos para futuramente ingressar na Aliança Atlântica. Segundo estabelece o Tratado da OTAN, a adesão está aberta apenas para Estados da área do Atlântico Norte. Diferente de seu antecessor, Alvaro Uribe, Santos é o primeiro mandatário a firmar um acordo com a Aliança Atlântica. O tema é de especial sensibilidade, quando se leva em conta que a segurança regional está na agenda da Unasul.
Ao contrário, a OTAN explicou que está preparando um acordo que permitiria a troca de informação classificada entre a Aliança e Colômbia, que seria o precursor de qualquer possível futura cooperação com o país, desenvolvidas pelos aliados através da OTAN. Apesar dos impedimentos para se tornar membro pleno, Morales enfatizou as consequências que poderiam ter para a região os vínculos entre a aliança militar e Bogotá. “Quero que saibam: é uma agressão, uma provocação, uma conspiração a governos anti-imperialistas da Venezuela, Nicarágua, Equador, Bolívia, e não iremos permitir”, sustentou. Além disso, considerou que a OTAN é utilizada pelos Estados Unidos e Europa para invadir outros países e se valerem de seus recursos naturais.
“É uma apunhalada no coração dos povos de nossa América, é uma decisão na qual não encontramos nem pé, nem cabeça”, questionou Ortega, durante um ato celebrado na Praça da Revolução, em Manágua, em razão da visita à Nicarágua do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. “É inadmissível que um país como a Colômbia, que é uma potência militar, busque uma aproximação com a OTAN, que é conhecida por bombardear, assassinar, destruir outros povos, num momento em que a região se esforçou para propiciar a paz”, acrescentou. Também destacou que nenhum país na América Latina aplaudiu a decisão de Santos.
Nicarágua e Colômbia mantêm relações tensas depois que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) resolveu, no ano passado, uma disputa limítrofe entre os dois países, em que reconheceu o domínio de Bogotá sobre o arquipélago de San Andrés e ilhas adjacentes e conferiu a Manágua maior soberania no mar Caribe.
Ortega falou sobre o tema após assinar vários acordos de cooperação com Maduro, que por sua parte exortou, durante sua intervenção, que os países latino-americanos e do Caribe fortaleçam a unidade e declarem o continente livre da intervenção de exércitos estrangeiros, extra-regionais e de armas nucleares. “Há aqueles que, agora, pretendem trazer os exércitos invasores do mundo para a América Latina; isso contradiz a doutrina e a legalidade internacional sobre a qual se baseia a união no hemisfério”, advertiu Maduro. “Os promotores dessa iniciativa pretendem enrarecer as águas das relações políticas entre os governos da região, para empreender uma ofensiva feroz e impor os modelos de dominação que foram rejeitados durante séculos por nossos povos”, acrescentou, além de manifestar que está em jogo a defesa estratégica dos povos da América Latina e Caribe.
O ministro colombiano de Defesa, Juan Carlos Pinzón, entrou no assunto, ontem, ao assinalar que seu país se aproximou da OTAN porque tem forças militares respeitosas do Direito Internacional. “Assim como em outros aspectos, o país está pensando grande, em matéria de segurança também”, destacou.
“Quando internamente os Estados Unidos já não podem dominar países, governos, povos anti-imperialistas, como é possível que a Colômbia peça para fazer parte da OTAN? Para quê? Para agredir a América Latina, para subjugar a América Latina, para que a OTAN nos invada, como invadiu a Europa e África”, insistiu Morales.
A política de Santos é percebida como um capítulo a mais nas provocações à região, que inclui o encontro com o vice-presidente estadunidense Joe Biden e a reunião que teve com o líder opositor venezuelano Henrique Capriles, na semana passada. Com Biden, acertou o ingresso dos Estados Unidos na Aliança do Pacífico, o bloco político-comercial que busca fazer contrapeso ao Mercosul, como membro observador. Por outro lado, a visita de Capriles foi entendida como uma mensagem a Maduro, num momento em que a oposição venezuelana está realizando uma campanha internacional para desprestigiar o governo.
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Presidente colombiano se aproxima da OTAN e cria polêmica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU