14 Mai 2013
Quando o arcebispo Vincenzo Paglia, promotor da causa de beatificação do arcebispo Oscar Romero, de San Salvador, El Salvador, anunciou no dia 20 de abril que o processo havia sido "desbloqueado" – aparentemente com a aprovação do Papa Francisco –, ondas de alegria perpassaram toda a América Latina e muitas partes da Igreja global.
A reportagem é de Pat Marrin, publicada por National Catholic Reporter, 10-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O assassinato de Romero ao rezar a missa no dia 24 de março de 1980, por aclamação popular, levou a declará-lo como um bom pastor que entregou a sua vida pelo rebanho durante um tempo de violenta repressão no pequeno país da América Central. A sua liderança durante os anos que antecederam a guerra civil de 12 anos que custou 80 mil vidas também impulsionou a sua reputação mundial como um modelo da defesa da Igreja pelos pobres.
Nos anos seguintes, o caso de Romero para a santidade passou com sucesso por cada um dos níveis de análise para confirmar a sua ortodoxia e lealdade à Igreja. Nenhum milagre é necessário para a sua canonização, porque ele foi martirizado, algo que o Papa João Paulo II afirmou em uma cerimônia do Jubileu milenar em Roma, no ano 2000, quando ele pessoalmente acrescentou o nome de Romero a uma lista de mártires do século XX. Uma oração especial louvou o "inesquecível Oscar Romero, assassinado no altar". O Papa Bento XVI também reconheceu Romero como mártir da fé. No entanto, o processo permaneceu parado.
Trinta e três anos depois da morte de Romero, enquanto os aniversários vêm e vão e as expectativas são levantadas e derrubadas, o foco se deslocou para a questão de por que levou tanto tempo para beatificá-lo. Mesmo depois da última enxurrada de notícias, o arcebispo de San Salvador, Dom José Luis Escobar Alas, disse recentemente que nenhuma palavra oficial veio até agora de Roma.
Em 2010, quando a expectativa era alta por causa do 30º aniversário da morte de Romero, Escobar explicou que o fato de a beatificação estar parada era um resultado dos esforços de alguns de "manipular, politizar ou usar a imagem de Romero", obscurecendo assim o seu papel largamente espiritual. A mensagem era clara: Romero, embora proclamado publicamente como mártir e profeta, devia estar livre de toda a controvérsia para que o seu caminho até a santidade pudesse avançar.
A mancha da "teologia da libertação", rotulada pelos seus críticos como um impulso ideológico para derrubar governos, pela violência se necessário, tem sido um emaranhado que perpassa a Igreja desde o encontro regional dos bispos em Medellín, Colômbia, em 1968. Esse encontro produziu a famosa frase da "opção de Deus pelos pobres" e afirmou uma forma diferente de fazer teologia no mundo em desenvolvimento.
Para dar uma perspectiva, as palavras do falecido padre jesuíta Dean Brackley podem lançar alguma luz sobre a longa espera para reconhecer formalmente o que todo um continente já proclamou. Brackley, que morreu de câncer no pâncreas em 2011, foi para El Salvador em 1990 para ajudar a substituir os professores assassinados e outras pessoas no campus da Universidade Centro-Americana dos jesuítas, no auge da guerra civil. Em 2010, ele disse ao NCR: "É preciso suspeitar que, se Romero não fosse um bispo, ele poderia ter um caminho mais fácil para a canonização, porque nem todos na hierarquia católica estão confortáveis com o fato de apresentá-lo como um bispo a ser imitado".
Romero modelou a Igreja dos pobres para a América Latina, disse Brackley, mas "a mensagem é válida universalmente. A Igreja só será uma portadora de esperança crível para a humanidade se ela permanecer com os pobres, com todos os que são vítimas do pecado, da injustiça e da violência. Se caminharmos com eles, como Romero fez, encarnaremos a boa notícia que o mundo tanto almeja".
Três anos mais tarde, com um novo papa, a natureza chocante da morte de Romero e as implicações impressionantes do seu exemplo tornaram a sua canonização ainda mais relevante para a Igreja universal. O que os bispos em Medellín há 45 anos chamaram de "violência institucionalizada" da pobreza continua sendo o destino de bilhões de pessoas no mundo, e isso continua colocando a questão que Francisco está ecoando agora: "A Igreja caminha com os pobres?".
Foi isso que Romero fez, disse Brackley, "inspirando inúmeras outras a colaborar com ele. Isso trará perseguição e mal-entendido, mas essa é a quinta marca da Igreja verdadeira. Romero não buscou o que era melhor para a instituição como tal, mas sim o que era melhor para o povo. No longo prazo, isso é o melhor para a Igreja também. A instituição que se esforça para salvar a si mesma vai se perder. Se ela se perder no serviço de amor, ela vai se salvar".
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Causa de canonização de Oscar Romero: um caminho longo e emaranhado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU