Por: André | 02 Mai 2013
“Francisco se inspira em João XXIII, inclusive como bispo de Roma e peregrino de Assis”. O arcebispo Loris Capovilla, histórico secretário do beato Roncalli, ilustrou para o Vatican Insider aquelas que, segundo sua opinião, são “mais que semelhanças” entre os dois pontificados.
A entrevista é de Giacomo Galeazzi e publicada no sítio Vatican Insider, 29-04-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Mons. Capovilla, ficou surpreso com a insistência de Bergoglio em se definir como “bispo de Roma”?
Também era um costume de João XXIII. Desde o instante em que foi eleito, deixou claro ao cardeal decano que não se tinha deixado encarcerar no Vaticano e que tinha levado a cabo entre os fiéis a missão de bispo de Roma. Depois de 60 anos de dificuldades relacionadas com a unidade da Itália, Roncalli retomou a atividade pastoral na cidade de Roma, transferiu os escritórios do Vicariato para São João e fez reformas em dois quartos no Palácio de Latrão (sede de seis concílios ecumênicos) para que “o Papa pudesse repousar em sua casa”.
Por que ambos decidiram visitar Assis?
É a cidade do Santo e o lar do Papa. Para sair de Roma, João XXIII escolheu Assis e atravessou de trem os antigos domínios pontifícios: não como príncipe sem potestade, mas como padre. Queríamos parar nas estações, mas na “vermelha” Terni das fábricas de aço, embora as escolas e as fábricas continuassem abertas, os estudantes e os operários estavam esperando João e rodeavam o trem para saudá-lo com um calor humano indescritível. Todo o percurso de Roma a Ancona foi um rio ininterrupto de gente. Ao longo das ruas, nos telhados, nas árvores. Em um momento da viagem, comovido e feliz, o Papa me disse: “Vês, Loris? Esta é a Itália, estes são os italianos que saúdam o velho padre que não tem nada a oferecer senão a bênção”.
Francisco lhe telefonou para saudá-lo com um gesto significativo. Considera que segue as pegadas de Roncalli?
Tem o mesmo impulso para as pessoas. João XXIII, no último mês da sua vida, enchia as periferias de Roma de fiéis. Deram-lhe o apelido de “O Papa Bom”, de que não gostaram muito em certos ambientes da cúpula, que se perguntavam: “Por quê? Acaso os outros eram maus?”. O povo o via como um filho que havia chegado ao Trono de Pedro. Francisco foi recebido universalmente como uma mensagem viva do diálogo e da fraternidade. Ele reúne o desejo de compartilhar, a busca de uma solução para o homem. Roncalli, no leito de morte, repetia: “Eu não mudei nada, recito agora as mesmas orações e o mesmo credo de quando era criança, mas agora começam a entender melhor o Evangelho”. Francisco, como João: onde apoiam a planta do pé também deixam o coração. E as pessoas entendem isso.
O que em Bergoglio mais lhe recorda Roncalli?
No exemplo que nos está dando com o contato com as pessoas. Quando vê alguém não se pergunta se é cristão, estadista ou uma pessoa humilde. Cada pessoa leva na fronte o selo de Deus e, portanto, deve ser amada. E se acolheu a Jesus, muito melhor. Francisco leva o Evangelho, não julga. A civilização cristã não tem a ver com as lutas entre irmãos. É uma característica que está passando “de moda” inclusive na sociedade. Na Igreja e na política se adverte sobre a necessidade de um espírito de reconciliação e de colaboração que indique o que nos une em vez de destacar o que nos divide. Esta é a grande lição de João e de Francisco.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Francisco se inspira no ‘Papa bom’”. Entrevista com Loris Capovilla - Instituto Humanitas Unisinos - IHU