Por: Jonas | 21 Março 2013
Em meio a uma crescente expectativa, às 8h30min da manhã desta terça-feira, começou um dos processos judiciais mais esperados na história da Guatemala: o julgamento do ex-ditador Efraín Ríos Montt (foto), acusado de genocídio e crimes de lesa-humanidade, cometidos durante seu mandato, entre 23 de março de 1982 e 8 de agosto de 1983.
A reportagem é de José Elías, publicada no jornal espanhol El País, 20-03-2013. A tradução é do Cepat.
Desde o início do julgamento, os defensores do velho general mostraram determinação para evitar que Ríos fosse julgado. Em sua primeira intervenção, anunciou-se uma mudança na defesa, a partir de agora sob a responsabilidade do advogado Francisco García Gudiel, que pediu que a audiência fosse suspensa, durante cinco dias, para conhecer “em detalhe os termos da denúncia”.
A juíza Barrios rejeitou o pedido, por considerar que o novo advogado, ao aceitar a defesa, deveria ter conhecimento do caso. A esse respeito, o até então defensor de Ríos, o ex-comandante guerrilheiro Danilo Rodríguez, visivelmente incomodado, declarou que recebeu o aviso que abririam mão de seus serviços nesta mesma manhã, exatamente quando chegava ao Tribunal. “Decididamente, é uma estratégia para evitar o debate”, disse Rodríguez, dizendo que o próprio Ríos o telefonou para comunicar-lhe: “decidi a substituição de minha equipe de defesa”.
Na Praça dos Direitos do Homem, onde se localiza o Tribunal, reuniram-se cerca de 1.500 pessoas, contando com familiares das vítimas e ex-patrulheiros da autodefesa civil (civis mobilizados para os serviços de extermínio), que foram apoiar o seu líder. Entre os familiares das vítimas, ouviam-se argumentos que sinalizavam para o fato de que colocar Ríos no banco dos réus, “permitirá conhecer a verdade”, algo que se traduzirá no “fortalecimento da justiça e no fim da impunidade na Guatemala”.
Enquanto o julgamento continuava nesse cabo de guerra entre a defesa e o Tribunal, a filha do militar, Zury Ríos, sentada primeira fila, afirmou que a serenidade que seu pai demonstra corresponde ao fato de que “todos os dias se reúnem para orar pela Guatemala e para dar graças a Deus pela vida”. Acrescentou que aguardam que no processo reine a justiça com letras maiúsculas, longe do revanchismo político.
Estando sempre na primeira fila e separada por poucos metros da senhora Ríos, Rigoberta Menchú comentou que “hoje é um dia extraordinário”, por marcar o “fim do ciclo da dor” para os povos maias. Recordou que, embora hoje estejam sendo julgados crimes contra a etnia Ixil (Quiché, norte), “a repressão contra os indígenas foi generalizada”.
A deputada Nineth Montenegro, fundadora do Grupo de Apoio Mútuo (GAM, grupo semelhante às Mães da Praça de Maio da Argentina), comentou que este julgamento permitirá aos guatemaltecos “encerrar a dor” que os 36 anos de guerra civil deixaram.
O também congressista Carlos Mejía, da Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca (URNG, antiga guerrilha), denunciou que possui notícias de uma tentativa de mobilização das paramilitares Patrulhas de Autodefesa Civil, simpatizantes de Ríos e dos setores mais intransigentes do Exército, o que poderia desvirtuar o processo e abrir as velhas feridas. “A Guatemala perderia com isso”, sublinhou.
Enquanto isso, o representante na Guatemala do Alto Comissariado da ONU em matéria de direitos humanos, Alberto Brumori, pediu aos guatemaltecos para “respeitarem a sentença final, seja qual for”.
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Arrancada no julgamento do ditador guatemalteco Ríos Montt - Instituto Humanitas Unisinos - IHU