08 Março 2013
Enquanto esperamos por uma data para o conclave [que foi definida nessa sexta-feira: o conclave irá iniciar na próxima terça-feira, 12 de março], há três novos desdobramentos no drama do pré-conclave que vale a pena trazer à tona.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 07-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O veterano escritor italiano Sandro Magister ofereceu uma propaganda importante para a candidatura do cardeal Timothy Dolan, de Nova York, como o próximo papa, definindo-o como a grande esperança dos cardeais não romanos que querem romper o controle dos "senhores feudais da Cúria".
Magister abala a sabedoria convencional ao sugerir que Dolan realmente é um candidato mais forte do que o seu companheiro norte-americano, o cardeal canadense Marc Ouellet, que em geral se encontra muito mais perto do que Dolan do topo das listas de papáveis.
Ele também sugere que a candidatura do cardeal Odilo Pedro Scherer, do Brasil, está sendo lançada pela velha guarda do Vaticano, que, afirma Magister, o vê como "dócil e insosso". Em parte, a análise se baseia no fato de que Scherer atuou na Congregação para os Bispos de 1994 a 2001 sob o cardeal Giovanni Battista Re, um infiltrado vaticano consumado e, presumivelmente, um daqueles "senhores feudais" que Magister tinha em mente.
Magister inclui todas as qualificações usuais sobre o fato de se tratar de uma disputa aberta, observando que o cardeal Sean O'Malley, de Boston, também é um candidato norte-americano plausível, mas ele encerra prevendo que Dolan poderia receber relativamente muito votos no primeiro escrutínio.
O artigo de Magister não cita fontes, e grande parte dele é mais análise do que reportagem. Mesmo assim, continua existindo um certo frisson em torno Dolan que não pode ser ignorado. Alguns dias atrás, surgiram rumores em círculos jornalísticos de que o cardeal Camillo Ruini, o ex-presidente ainda poderoso da Conferência Episcopal Italiana, estava dizendo às pessoas que Dolan era o seu "candidato dos sonhos".
Por enquanto, a sabedoria convencional continua sendo a de que o impetuoso Dolan pode ser um pouco norte-americano demais para ser eleito. Há também a preocupação em alguns âmbitos de que a força da sua personalidade, inevitavelmente, ofuscaria todos os outros.
Como disse um observador da Igreja, "se Dolan for eleito, os outros 5.000 bispos do mundo poderiam muito tirar os próximos 15 anos de folga, porque eles nunca mais vão ser vistos ou ouvidos de novo".
A Rede de Sobreviventes dos Abusados por Padres (SNAP, na sigla em inglês), o principal grupo de defesa das vítimas de abuso clerical dos Estados Unidos, tem realizado briefings de imprensa quase diários em Roma, na preparação rumo ao conclave.
Na última quarta-feira, a SNAP emitiu uma lista de 12 cardeais "sujos", cujos históricos sobre a crise dos abusos, aos olhos da SNAP, desqualifica-os para serem eleitos papa. A lista inclui todos os três norte-americanos, vistos como nem mesmo remotamente plausíveis, incluindo Dolan, O'Malley e o cardeal Donald Wuerl, de Washington.
Nessa quinta-feira, a SNAP divulgou uma curta lista de três prelados que eles consideram aceitáveis: os cardeais Luis Antonio Tagle, das Filipinas, e Christoph Schönborn, da Áustria, assim como o arcebispo Diarmuid Martin, da Irlanda. (Ou seja, a SNAP teve até que buscar fora do Colégio dos Cardeais para encontrar um terceiro nome que eles pudessem engolir.)
Fui perguntado por uma série de colegas se a SNAP provavelmente terá alguma influência no conclave. Em suma, minha resposta se resume a: "Não, mas talvez sim".
É "não" porque muitas lideranças da Igreja acreditam que nada que eles poderiam fazer alguma vez satisfaria os seus críticos mais ferozes. Além disso, há um forte tabu em permitir que terceiras partes de qualquer tipo influenciem a eleição do papa.
O "mas, talvez sim" se refere a que muitos cardeais estão genuinamente preocupados que o novo papa seja percebido como alguém de mãos limpas, porque eles não querem que os seus primeiros dias sejam ocupados por explicações do seu histórico na crise dos abusos. Se a SNAP ou qualquer outra pessoa tem provas contra ou a favor de um dos papáveis, os cardeais certamente vão levar isso a sério.
Em muitos casos, no entanto, as razões apresentadas sobre a lista dos "12 sujos" para vetar um candidato não são uma acusação de que ele se envolveu nos abusos, seja cometendo-os ou encobrindo-os, mas, ao contrário, que ele fez comentários insensíveis ou surdos sobre a crise. Em alguns casos, esses comentários remontam a vários anos, e, enquanto isso, o cardeal ou se desculpou pelo comentário ou ao menos o explicou. Por si sós, essas polêmicas recicladas provavelmente não serão suficiente para afetar a candidatura de alguém.
Ponha as palavras "Vaticano" e "escândalo" em uma frase, e a maioria dos norte-americanos provavelmente irão presumir que você está falando sobre a crise dos abusos clericais. Em Roma, no entanto, o vencedor mais claro no medidor de escândalos é o Vatileaks, com uma rodada diária de especulações e análises nos meios de comunicação italianos sobre seu possível impacto sobre o conclave que se aproxima.
O jornal La Repubblica, na última quinta-feira, fez uma entrevista anônima, dizendo ser com um dos "leakers", que afirmou que o mordomo do papa não agiu sozinho, que há pelo menos 20 homens e mulheres dentro do sistema prontos para revelar outros segredos e que a renúncia de Bento XVI desafiou-os a redobrar os seus esforços para promover a transparência.
O padre jesuíta Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, se recusou a comentar os detalhes da reportagem, embora aparentando ter dúvidas sobre a entrevista, mesmo reconhecendo que os cardeais quase certamente estão discutindo a questão dos vazamentos dentre muitas outras questões durante as reuniões das Congregações Gerais.
(Essa parte da coletiva de imprensa provocou um momento divertido quando outro jornalista italiano basicamente pressionou Lombardi a emitir uma negação firme, ao dizer que "há provavelmente 30 de nós nesta sala que poderiam fazer uma entrevista dessas ao menos uma vez por dia". Lombardi se recusou a ser arrastado para essa discussão intermural.)
Enquanto isso, o respeitado escritor vaticano Andrea Tornielli informou no jornal La Stampa que um cardeal, na última quarta-feira, mencionou os nomes de dois leigos suspeitos de estar envolvidos no escândalo dos vazamentos, solicitando informações sobre eles, o que provocou uma resposta do cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio, pedindo que os cardeais não mencionassem nomes, a menos que tenham total certeza a respeito.
Na tarde dessa quinta-feira, um dos cardeais eleitores que participam dos encontros das Congregações Gerais falou com o NCR em off, dado o acordo informal ao qual os cardeais chegaram sobre não dar entrevistas.
Esse cardeal apresentou dois pontos:
• Ao contrário do que tem sido noticiado por alguns meios de comunicação, não há nenhuma pressão forte entre os cardeais para que lhes seja mostrado o relatório secreto entregue a Bento XVI por três cardeais ultraoctogenários sobre o caso Vatileaks.
• Os cardeais estão levando "muito a sério" o escândalo dos vazamentos, disse ele, mas a maioria acredita que eles têm informações adequadas dos autores do relatório, que estão participando das reuniões das Congregações Gerais. Ele disse que não há nenhuma "batalha real" sobre o Vatileaks dentro da Congregação Geral e manifestou a suspeita de que alguns dos relatos da mídia têm a intenção de "pressionar" o conclave.
Em geral, as consequências do caso Vatileaks parecem ter reforçado a convicção entre muitos cardeais de que o governo será uma questão-chave nesta eleição, e que o próximo papa deverá ser alguém com a "força" para fazer avançar uma reforma séria da burocracia vaticana.
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Um impulso ao cardeal Dolan, o efeito SNAP e o Vatileaks - Instituto Humanitas Unisinos - IHU