05 Março 2013
Os leigos não podem se encontrar realmente senão dentro de uma Igreja que seja toda laical, toda discípula, toda fraterno-sororal, toda ministerial, toda sacramental. Toda capaz de palavra de autoridade, porque toda em escuta.
Publicamos aqui a segunda parte da análise da teóloga leiga italiana Lilia Sebastiani, doutora pela Accademia Alfonsiana e professora do Liceo Scientifico Renato Donatelli, de Terni. Confira também a primeira parte.
O artigo foi publicada na revista Rocca, n. 4, 15-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Não lembro mais quem usou, anos atrás, a expressão "silêncio poli-a-fônico" para toda a situação dos leigos na Igreja, portanto, não só pelo seu falar ou não falar. Uma situação em que não se pode reconhecer uma responsabilidade eclesiástica, uma secular culpa cultural e estrutural que condiciona também muitos pastores de boa vontade, até hoje.
Um silêncio poli-a-fônico dos leigos
Silêncio poli-a-fônico, sempre um não falar, não poder fazer ouvir realmente a própria voz, não ter acesso à palavra de autoridade, que, porém, pode se manifestar de muitos modos diferentes e contraditórios, incluindo os modos "loquazes". Pode se manifestar no individualismo exasperado, mas também na atitude passiva de fazer mais ou menos o que todos fazem e aquilo que sempre se fez, sem o submeter a discernimento crítico.
Em ambos os casos, isso significa não se sentir realmente membros do povo de Deus, nem de uma Igreja local – no máximo percebida como distribuidora de sacramentos nas ocasiões devidas. Todos nós conhecemos leigos que estão sempre em silêncio e, quando solicitados a se expressar sobre um assunto sério, se apressam a responder que não sabem falar, que não têm nada a dizer, que prefere ouvir; e também leigos que falam continuamente, de modo superficial e cansativo, mesmo sobre questões das quais não têm nenhuma experiência.
Uns e outros manifestam de modo diferente a mesma realidade de marginalização e, infelizmente, oferecem ao clero, com o seu modo de agir, um argumento implícito para justificar essa marginalização.
É preciso aprender a distinguir entre o silêncio e silêncio. Há o silêncio do consentimento, da passividade, da preguiça; o silêncio da resignação, da rebelião, do desinteresse, da distância, do desamor, do tédio. Pode haver o silêncio quieto demais de quem não tem problemas (não de ordem eclesial, ao menos), e não os tem porque nunca se interrogou a respeito, talvez por desconfiança secreta, por medo de criar problemas.
O silêncio de quem se cala amuado, de quem se cala porque lhe parece óbvio e normal se calar, de quem fala mas não é ouvido, de quem fala de maneira indiscreta, entendiante, polêmica e incomposta, de quem simplesmente fofoca... Com efeito, onde a palavra é reprimida – referimo-nos à palavra de autoridade e significativa, a palavra eficaz que se configura como ação e evento – prolifica-se facilmente a fofoca.
Muito frequentemente os pastores parecem preferir um cristão que esteja quieto a um que fale e peça espaços, que faça críticas e se rebele. Este incomoda, enquanto o primeiro não perturba. Ou, melhor, este ouve que o silêncio do primeiro, muito mais negativo e destrutivo do que as eventuais intemperanças do segundo, é chamado pelos padres de "discrição"! Mas a chamada discrição (que, no sentido teológico-filosófico, quer dizer "discernimento" e, portanto, exigiria que não se calasse, mas sim que se falasse, discutisse, colocasse em crise o que parece óbvio...), muito frequentemente é preguiça, distância, estranhamento, às vezes também premissa para um distanciamento radical.
Os nossos pastores nunca aprenderam a ler, a ouvir o silêncio do seu povo. Nunca disseram abertamente que aquele silêncio também pode ser culpável, nem fizeram algo para ajudar realmente a superá-lo.
Um fenômeno atual em crescimento, geralmente pouco considerado nos textos oficiais, é o do pertencimento "com reservas". Uma realidade importante, dentro da qual se verificam alguns dos fenômenos mais promissores de hoje, e que não emerge o suficiente dos documentos.
As mulheres em particular
Já lembramos no artigo anterior que as aporias do ser leigo na Igreja valem para as mulheres de modo especial, visto que o homem leigo, ao menos em teoria, é alguém que pode ou poderia ter escolhido não ser leigo, mas sim clérigo; as mulheres, não. O que se determinou na história a respeito dos leigos – isto é, ser privados da palavra de autoridade, privados de uma identidade eclesial reconhecível, privados de poder de decisão, intimamente persuadidos do seu próprio ser cristão de segundo categoria ou ao menos de meio turno, portanto, excluídos da esfera do sagrado – vale muito mais para as mulheres: principalmente, é como se valesse "por natureza", por condicionamento biológico!
Sociologicamente falando, essa situação já indefensável é evidenciada e agravada pelo fato de que a "audiência" eclesial é muito mais feminina do que masculina.
A situação italiana não está muito avançada com relação às prerrogativas eclesiais reconhecidas aos leigos (ao menos "estruturalmente"), apesar da presença de pessoas leigas de alto nível e de profundo compromisso, que mesmo assim permanecem como figuras isoladas.
Um ministério laical
Em outros países, especialmente no norte da Europa, especialmente onde a população católica está misturado com a reformada, a situação pode parecer mais promissora: aqui nos referimos em particular ao ministério dos assistentes de pastoral. Talvez o termo, aos nossos ouvidos, não soe plenamente simpático, por ser mais ou menos equivalente a "colaborador", e sabemos o que ainda e normalmente o clero entende ao falar da colaboração dos leigos: um trabalho às vezes bem-intencionado, aproximativo; outras vezes, de bom nível ou até extraordinário em qualidade, generosidade e eficiência, mas que é acompanhado por um papel eclesial executivo e subordinado.
Mas os assistentes de pastoral são pessoas geralmente muito válidos, com competências e atitudes não raramente superiores às dos ministros ordenados. O seu serviço podia apresentar, sobretudo nos inícios, um certo caráter de "suplência" (para remediar a escassez do clero), na realidade tem um significado que vai muito além da utilidade prática: as comunidades cristãs se acostumam a ver leigos homens e mulheres que desempenham um papel de relevo na celebração eucarística, que explicam a Escritura e se inserem com autoridade no espaço sagrado.
O seu ministério, exercido de modo continuado, edifica a comunidade, em sentido significativo: isto é, sublinha o direito-dever dos leigos para adquirir uma verdadeira competência bíblica e litúrgica, faz evoluir a abordagem à Escritura com estímulos novos e diversas mentalidades, influindo, portanto, positivamente também sobre o clero e sobre os pastores, antecipa profeticamente um novo modo de ser Igreja, menos hierárquico-clerical e mais fraterno.
Mas, em 2008, o bispo de Chur, na Suíça, acreditou ser necessário reiterar a proibição aos leigos de proferir a homilia durante as celebrações litúrgicas (confirmação indireta do fato de que a pregação dos leigos havia se difundido como um fato normal).
A interdição de pregar
A proibição teve, então, um eco breve e circunscrito aos rumores e agências de notícias especializadas, despertando poucos comentários fora. Certamente não se tratava de uma coisa nova. A proibição ou quase proibição já existia, mesmo que em algumas circunstâncias ignoráveis.
Nos Princípios e normas para o uso do Missal Romano, de 1969, encontra-se apenas: "A homilia seja regularmente pronunciada pessoalmente pelo sacerdote celebrante" (nº 42), e o "regularmente" deixa alguma modesta abertura a uma prática diferente. Mais drástica é o Código de Direito Canônico de 1983: "(a homilia) é parte da própria liturgia e se reserva ao sacerdote ou diácono" (cânone 767, § 1), e os pronunciamentos oficiais dos últimos anos tendem a reiterar a norma, deixando aos leigos somente a possibilidade de breves admoestações ou "testemunhos" em ocasiões particulares, mas sempre à margem com relação à ação litúrgica, sempre cuidadosamente conotadas como palavra "não autorizada".
Porém, na primeira Igreja, o direito-dever de intervir durante as celebrações para instruir e exortar a assembleia era de todo cristão, incluindo as mulheres (como nos lembra 1Cor 11). A interdição aos leigos de pregar não explode de repente, mas ganha forma com a progressiva clericalização da comunidade cristã, até ser enrijecida e absolutizada na Idade Média em função anti-herética.
Francisco de Assis, que durante toda a vida se recusou firmemente a se tornar padre – ele não quer ser "alguém de importância" na Igreja –, a um certo ponto teve que aceitar entrar na Ordem sagrada, tornando-se diácono: porque queria pregar o evangelho. Em toda a parte, mas certamente também na Igreja. E, como leigo, não poderia fazê-lo.
Hoje, é relativamente frequente, certamente não nas missas festivas normais, mas em ocasiões especiais, celebrações de grupo etc. a homilia dialogada. É um fato positivo, porque, assim, desenvolve nos leigos o hábito de tomar a palavra no contexto litúrgico, mas também levanta perplexidade. Às vezes, a intervenção dos leigos é totalmente colateral: resulta daí uma homilia normal (isto é, do padre), com contornos de "pensamentinhos". Ou resulta daí uma homilia dispersiva, não unitária, superficialmente emocional.
Mesmo quando pode ser uma interessante experiência de grupo sobre a Palavra, é difícil que surja daí uma boa homilia – a menos que seja expressão de um grupo muito coeso, treinado a trabalhar seriamente sobre a Escritura e formado no estilo da liturgia.
Responsabilidade dos leigos
Não basta sofrer hesitações e ambiguidades da hierarquia, lamentar-se pelos pastores "fechados", esperar naqueles "abertos" (tentados a nos desesperar, aliás, quando descobrimos que a maioria deles é formada de pessoas "semiabertas" de várias maneiras, que sinceramente mostram boa vontade e ótimas intenções privadamente e em contextos confidenciais, mas evitando assumir publicamente qualquer posição profética ou simplesmente "decidida").
O problema é outro. É preciso que os leigos assumam uma consciência forte, mesmo que iluminada e comunitária, das suas responsabilidades, que implicam em direitos e deveres, inseparáveis. Não devem se deixar "silenciar", também na celebração litúrgica, mas, ao mesmo tempo, devem sentir a obrigação de crescer nos conhecimentos bíblico-teológicos e na competência.
O primeiro direito-dever na Igreja parece ser ainda e sempre o de participar, no sentido conciliar e pós-conciliar: tomar parte, reconhecer-se como parte viva, não simplesmente lá. Talvez todos concordem com isso, mesmo que a participação evoque ideias e exigências diferentes nas diversas pessoas.
O segundo é talvez menos óbvio: estudar, convite que soa um pouco assustador para muitas pessoas, mesmo cultas. Como fato puramente mental, distante do coração e da fé. Ao contrário, sabe-se que cada um de nós sente o dever de crescer também no conhecimento das coisas que o apaixonam. Como não sentir o mesmo dever com relação ao que se refere à fé, à comunidade da qual nos sentimentos membros? Estudar não é o remédio para tudo e certamente não é suficiente; simplesmente é indispensável, dentro e fora. Fora, para sermos levados em consideração como interlocutores não facilmente ignoráveis demais. E dentro para evoluir, para tornar possível a conversão permanente, para nos tornarmos capazes de discernir entre o essencial e o acessório, entre a Tradição e as tradições (o que, aliás, é fundamental para conservar a fé em boa saúde, nos momentos em que a palavra oficial da Igreja parece comprimir o espírito com e sem maiúscula).
Outro dever específico é o de falar. Rejeitar o silêncio, seja ele imposto, seja ele habitual; mas tornar a própria palavra comunicativa e de autoridade, e sempre fraterna. O clero não pode, para além de um certo limite, ignorar um interlocutor leigo "de qualidade", convicto e motivado, sempre pronto a dialogar e nunca a ceder.
O dever de falar implica o de discernir ou, melhor, de exercitar habitualmente o discernimento, visto que nem todas as coisas que nos vêm à cabeça são uma inspiração, e que nem toda insatisfação, todo entusiasmo, toda cólera são eventos eclesialmente construtivos.
Outro dever fundamental é, portanto, o de criar espaços para falar: assembleias eclesiais, por exemplo, em vários níveis, mas "verdadeiras". A maior parte dos cristãos entram em contato com a vida da Igreja somente nos momentos celebrativos (a missa, em geral). No momento celebrativo, assim como ele se configura habitualmente, não há espaços para falar e, mais em geral, para se expressar.
Para isso, é necessário multiplicar as comunidades, e não faço alusão aos movimentos de massa. Estes não parecem ser os lugares materiais e espirituais em que os leigos podem fazer ouvir a sua voz. Um certo tipo de grande movimento é mais uma forma para canalizar para dentro das estruturas de consenso vastas massas de cristãos muitas vezes ricos em fé e em boa vontade, mas sem nenhuma cultura teológica e de pouca "conscientização". Mais promissores parecem ser os cenáculos e os pequenos grupos, o mais informais possível, de preferência formados por leigos e clérigos juntos, em que o leigo também seja consciente do seu próprio munus sanctificandi, e que também o clérigo saiba pôr em discussão a si mesmo, não só como pessoa, mas como clérigo. Um pequeno grupo caracterizado também por forte coesão interna, mas não fechado em si mesmo; independente, mas vinculado o máximo possível a outras realidade do mesmo tipo.
Os leigos não podem se encontrar realmente senão dentro de uma Igreja que seja toda laical, toda discípula, toda fraterna-sororal, toda ministerial, toda sacramental. Toda capaz de palavra de autoridade, porque toda em escuta.
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Falando como leiga. Artigo de Lilia Sebastiani – 2ª parte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU