"Permitiu-nos renovar a ars credendi". Carta de Bento XVI ao Cardeal Gianfranco Ravasi

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24 Fevereiro 2013

"Apenas entrados, por assim dizer, no deserto seguindo as pegadas de Jesus, fomos capazes de atingir a fonte de água puríssima e abundante da Palavra de Deus, que o senhor nos guiou para tirar do Livro dos Salmos, o lugar bíblico por excelência no qual a Palavra se faz oração", escreve Bento XVI em carta enviada a Gianfranco Ravasi, cardeal, pregador dos Exercícios Espirituais para o Papa e a Cúria Romana.

O texto foi publicado pelo sítio do Vaticano, 23-02-2013.

Eis a carta.

Ao Venerado Irmão

Cardeal Gianfranco Ravasi

Presidente do Pontifício Conselho da Cultura

Desejo com todo o coração, Venerado Irmão, manifestar-lhe a minha profunda gratidão pelo serviço prestado pelo senhor a mim e à Curia Romana propondo as meditações dos Exercícios Espirituais. No começo da Quaresma, a semana dos Exercícios constitui um tempo ainda mais intenso de silêncio e de oração, e o tema deste ano – justamente o diálogo entre Deus e o homem na oração dos salmos – nos ajudou especialmente: apenas entrados, por assim dizer, no deserto seguindo as pegadas de Jesus, fomos capazes de atingir a fonte de água puríssima e abundante da Palavra de Deus, que o senhor nos guiou para tirar do Livro dos Salmos, o lugar bíblico por excelência no qual a Palavra se faz oração.

Cheio do seu conhecimento e da sua experiência, o senhor propôs uma fascinante viagem através dos Salmos, seguindo um duplo movimento: ascendente e descendente. Os Salmos de fato orientam principalmente para o Rosto de Deus, para o mistério no qual a mente humana naufraga, mas que a mesma Palavra divina permite captar de acordo com os vários perfis em que Deus mesmo se revelou. E, ao mesmo tempo, justamente na luz que resplandece do Rosto de Deus, a oração dos salmos nos faz olhar para o rosto do homem, para reconhecer na verdade as suas alegrias e as suas dores, as suas angústias e as suas esperanças.

Desta forma, querido Senhor Cardeal, a Palavra de Deus, mediada pela ars orandi antiga e sempre nova do Povo judeu e da Igreja, nos permitiu renovar a ars credendi: uma necessidade exigida pelo Ano da fé e agora ainda mais necessária pelo momento particular que eu pessoalmente e a Sé Apostólica estamos vivendo. O Sucessor de Pedro e os seus Colaboradores são chamados a dar à Igreja e ao mundo um claro testemunho de fé, e isso é possível somente graças a uma profunda e estável imersão no diálogo com Deus. Aos muitos que ainda hoje perguntam: “Quem nos fará ver o bem?”, podem responder todos os que refletem nos seus rostos e nas suas vidas a luz do rosto de Deus (cf. Sl 4:7).

O Senhor saberá, Venerado Irmão, recompensá-lo por este esforço, que o senhor tão brilhantemente assumiu. De minha parte, asseguro-lhe a lembrança sempre grata na oração pela sua pessoa e pelo seu serviço eclesial, enquanto que com afeto renovo-lhe a Benção Apostólica, estendendo-a com prazer a todos os entes queridos.

Cidade do Vaticano, 23 fevereiro de 2013

Benedictus PP XVI