15 Fevereiro 2013
Repetidamente ao longo dos últimos três dias, as agências de notícias me pediram para comentar sobre a seguinte questão: será que Bento XVI realmente renunciou só porque ele está velho e cansado, ou foi realmente por causa da crise dos abusos sexuais, da bagunça do Vatileaks e de vários outros colapsos ocorridos sob a sua supervisão?
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 13-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A minha resposta foi: nem uma coisa nem outra. Bento XVI pode não ter renunciado "por causa" dos escândalos de pedofilia ou por qualquer outra polêmica específica, mas é difícil acreditar que eles não tiveram um papel, ao menos como pano de fundo.
Certamente pode-se acreditar na palavra de Bento XVI de que ele sente que as suas forças estão desaparecendo e também acreditar simplesmente que ele não tem mais a capacidade para fazer o trabalho. No entanto, desafia a realidade acreditar que as várias fontes de turbulência nos últimos sete anos não cobraram o seu preço e que elas ajudam a explicar a fadiga que ele sente agora.
É claro que elas lhe causaram angústia. Ainda em 2009, quando a sua decisão de revogar a excomunhão de quatro bispos tradicionalistas desencadeou uma tempestade global quando descobriu-se que um deles era um negacionista do Holocausto, Bento XVI enviou uma carta a todos os bispos do mundo para explicar o que havia acontecido. Ele se desculpou pelo tratamento dado pelo Vaticano à situação e confessou abertamente a sua própria consternação diante da crítica que isso desencadeou.
"Fiquei entristecido pelo fato de que até mesmo católicos, que no fundo poderiam saber melhor como estão as coisas, se sentiram no dever de atacar-me e com uma hostilidade pronta ao ataque", escreveu ele em um ponto. Em outro, ele disse que sentia que havia sido tratado em alguns setores "com ódio, sem temor ou reserva".
Bento XVI é um realista e, sem dúvida, reconhece que os acidentes, como o caso Williamson, sugerem que algo precisa ser corrigido na gestão interna do Vaticano. Sua renúncia sugere que, dada a sua idade e talvez o seu conjunto de habilidades, ele concluiu que não é o único que pode corrigi-la.
Hoje, houve uma espécie de semiconfirmação dessa leitura dos eventos por parte do cardeal português José Saraiva Martins, um membro veterano do Vaticano, de 80 anos e que, portanto, não vai participar do próximo conclave. O jornalista italiano Andrea Tornielli perguntou a Saraiva Martins se o Vatileaks e os outros escândalos dos últimos anos podem ter feito parte da razão pela qual Bento XVI chegou a essa decisão.
"Eu imagino que também possam ter influenciado", disse Saraiva Martins.
Com o avanço das revelações, não se trata exatamente de algo surpreendente. No entanto, é a primeira vez que um cardeal vaticano disse em voz alta o que quase todo mundo acredita: o papa não vive no vácuo e, se ele se encontra fraco, a longa lista de incêndios que ele se esforçou para apagar deve fazer parte da razão que explica isso.