Por: André | 12 Dezembro 2012
O grupo Cristãos para o Terceiro Milênio questionou a hierarquia católica argentina e considerou que o documento publicado pelos bispos foi um “texto cheio de intencionalidade política”. Também pediram que a Igreja apoie os julgamentos por crimes de lesa humanidade.
A reportagem é de Washington Uranga e publicada no jornal argentino Página/12, 11-12-2012. A tradução é do Cepat.
O grupo Cristãos para o Terceiro Milênio emitiu uma nova declaração pública, dirigida também aos bispos católicos, em que lamenta pelo conteúdo do último documento da hierarquia católica que considera de “linguagem retórica e confusa” e um “texto cheio de intencionalidade política”. A organização cristã já se havia dirigido aos bispos para pedir, em primeiro lugar, que se expressassem em relação às declarações do ditador Jorge Videla e, depois, para rechaçar os termos de uma resposta que os bispos lhes dirigiram. Agora os cristãos insistem em suas demandas e exigem dos bispos um apoio explícito aos processos judiciais contra os acusados de terrorismo de Estado.
O mesmo grupo enviou uma nota e solicitou uma audiência com o arcebispo de Luján-Mercedes, Agustín Radrizzani, pelo fato de que a prisão de Marcos Paz, onde se encontram cumprindo pena Jorge Videla e o sacerdote Christian Von Wernich, também condenado por crimes de lesa humanidade, encontra-se na jurisdição eclesiástica do arcebispo de Luján-Mercedes. Solicitam ao titular daquela diocese para que tome medidas para “fazer cessar o pecado público de escândalo que se configura hoje” pelo fato de que o ditador Videla continua tendo acesso à eucaristia e que o sacerdote continue celebrando os sacramentos.
Em seu texto, os Cristãos para o Terceiro Milênio escrevem que “com surpresa e reiterada dor tomamos conhecimento do segundo texto da última Assembleia Plenária da Conferência Episcopal, reunida em Pilar no começo de novembro passado. No primeiro deles tratou-se com sucesso de não dar nenhuma resposta às reivindicações que fizemos chegar a vocês, em nossa nota ‘A resposta das declarações do ditador Jorge Rafael Videla’. Esta persistência na ambiguidade mediante uma linguagem rebuscada e eufemística obriga-nos a fazer chegar até vocês uma nova nota, intitulada ‘Aos nossos pastores’, para a qual estamos esperando uma resposta que ainda confiamos receber”.
Mas de imediato o grupo retoma seus argumentos sobre a mensagem de Natal dos bispos, que consideram “cheia de intencionalidade política”, embora “desde a sua publicação, porta-vozes da Conferência tenham tentado sem sucesso ‘defender’ a neutralidade do texto e a suposta generalidade de seus destinatários”.
Dizem os Cristãos para o Terceiro Milênio que “está longe da nossa intenção entrar em uma controvérsia indiscriminada com a hierarquia episcopal, já que o nosso esforço como grupo está, e estará centrado, em tornar visível uma Igreja que, como Povo de Deus, caminha pelo mundo iluminada pela luz da fé e do Evangelho e vê muitas vezes dificultada sua já trabalhosa travessia pelas condutas ambivalentes de seus pastores”.
Não obstante isso, prosseguem, “preocupamo-nos especialmente com os nosso filhos e netos que, batizados e educados na fé, afastam-se da Igreja institucional que assimilam como uma estrutura a mais de um poder estabelecido que rechaçam, por representar interesses contraditórios com os valores evangélicos e com a construção de uma sociedade onde a dignidade e a justiça nos alcance a todos por igual”.
Insistem, então, na necessidade de que os bispos tomem decisões em relação ao ditador Videla para fazer cessar “o pecado público de escândalo que se configura hoje, quando um criminoso convicto e confesso de crimes de lesa humanidade, sem arrependimento nem manifestar vontade alguma de reparação das atrocidades cometidas, tem acesso ao sacramento da Eucaristia”. Solicitam também que a hierarquia exija “aos capelães militares e às forças de segurança, sacerdotes, religiosos, religiosas e cristãos em geral para que disponibilizem qualquer informação que tiverem sobre os menores sequestrados, ou sobre o destino dos desaparecidos” e pedem que os bispos “abram os arquivos da Conferência Episcopal, diocese castrense e capelanias das forças de segurança”.
Entendem que, caso isso acontecer, “estas ações serão uma contribuição muito importante para a construção reconciliatória que reclamamos e com a qual todos estamos comprometidos, sobre as condições ineludíveis da memória, da verdade e da justiça”.
Os Cristãos para o Terceiro Milênio também acrescentam que “gostaríamos de ouvir da Conferência Episcopal uma expressa aprovação e apoio aos importantes processos judiciais que contra centenas de responsáveis do terrorismo de Estado se encontram ainda em pleno andamento. A realização destes julgamentos honra e distingue o povo argentino e o sistema democrático que queremos consolidar, defender e aprofundar”.
O documento é assinado pela equipe de coordenação integrada por: Hernán Patiño Mayer, Angel A. Bruno, Alicia Pierini, Gustavo Bottini, Ana María Biancalana, Rodolfo Luis Brardinelli, Cristina Domeniconi, Ricardo Mc Loughlin, Ana Cafiero, Rodolfo Valerio Briozzo, Fernando Portillo e Felipe Solá.
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Documento dos bispos da Argentina. “Linguagem retórica e confusa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU