19 Novembro 2012
"Jerusalém não está ferida desde ontem. Jerusalém está ferida há 60 anos. E não foi só um míssil que a feriu: são os tanques que destroem as casas, os fuzis com as quais as pessoas estão ameaçadas, as balas que matam os seus habitantes".
A reportagem é de Francesca Caferri, publicada no jornal La Repubblica, 17-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há dor e amargura na voz de Susan Abulhawa, a escritora americano-palestina que com o seu livro Mornings in Jenin contou a epopeia de quatro gerações de palestinos em 60 anos: um livro traduzido em todo o mundo que comoveu milhões de leitores.
Eis a entrevista.
Jerusalém é uma cidade sagrada: os mísseis do Hamas não lhe impressionam?
Certamente eu sinto dor. Mas a Jerusalém atingida não é mais a cidade que foi durante séculos, aquela em que as religiões conviviam, cada uma rezando ao próprio Deus. É uma cidade racista e dividida, da qual milhares de pessoas foram expulsas para abrir espaço para novos habitantes em nome de uma suposta superioridade religiosa. A Jerusalém de hoje é o lugar onde a filha de uma dinastia que viveu lá por 900 anos, como eu, não pode voltar, mas onde o meu vizinho nos Estados Unidos, que é judeu, pode ir viver.
Isso não significa que seja legítimo atacá-la.
É claro que não. Eu amo Jerusalém. O que eu digo é que ela se tornou um lugar onde as pessoas que se sentem superiores expulsam aqueles que eles não consideram dignos.
Em Jerusalém também vivem palestinos e cristãos: todo lugar sagrado poderia ter sido atingido, toda pessoa de qualquer religião...
Eu sei bem disso e estou entristecida. Eu só gostaria que, ao lado da indignação por Jerusalém, houvesse também a indignação pelas pessoas de Gaza, que não tem um lugar para fugir ou para se refugiar diante dos mísseis israelenses.
Mas o Hamas tem responsabilidades específicas na escalada dessa crise...
Essa crise começou quando os israelenses mataram uma criança palestina que estava jogando futebol. Foi depois dessa ação que o Hamas começou o lançamento dos mísseis. Os israelenses jogam toda a culpa sobre o Hamas, mas sabemos bem que é uma desculpa: eles nos atacariam mesmo que não houvesse o Hamas. Eu não posso compartilhar o que o Hamas faz, mas os palestinos têm o direito de escolher quem deve governá-los. Israel também tem os seus criminosos de guerra.