19 Outubro 2012
Há 50 anos, no dia 11 de outubro de 1962, abria-se em Roma o Concílio Vaticano II. O teólogo valdense Paolo Ricca era um jovem pastor recém-consagrado quando lhe foi pedido para acompanhar os trabalhos do Concílio em nome da Aliança Reformada Mundial (ARM), com o encargo de redigir um boletim periódico.
A reportagem é de Luca Maria Negro, publicada na revista Riforma, das Igrejas evangélicas batista, metodista e valdense italianas, 12-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Por que, em um período em que o ecumenismo com a Igreja Católica dava seus primeiros passos, as Igrejas reformadas sentiram a necessidade de acompanhar tão de perto o Vaticano II?
A ARM desejava ter um olhar aproximado do evento conciliar, consciente como era da sua importância. Lembro uma conferência do secretário do Conselho Ecumênico das Igrejas, o pastor reformado Visser't Hooft, em que ele disse, dirigindo-se aos protestantes: "Tua res agitur" (é algo que te diz respeito), querendo enfatizar o fato de que o Concílio, embora católico romano e, portanto, assembleia substancialmente confessional, era algo que nos dizia respeito de perto.
Por isso, a ARM pediu à Igreja valdense se havia alguém não tanto para escrever uma crônica dos trabalhos, mas sim para fazer uma avaliação teológica tanto dos fatos que ocorriam na aula conciliar, quanto dos textos que, pouco a pouco, o Vaticano produziria.
O boletim que eu redigia era publicado a cada duas ou três semanas de forma mimeografada e divulgado em cinco línguas nas diversas Igrejas reformadas do mundo inteiro. O material nunca foi publicado, mas uma cópia está conservada na biblioteca da Faculdade Valdense. Depois, eu resumi as minhas avaliações sobre o Concílio em um livro publicado em 1966 pela Juventude Evangélica Italiana, Il cattolicesimo del Concilio. Un giudizio protestante sul Concilio Vaticano II.
Que impacto teve o Concílio sobre um jovem pastor valdense (muito jovem e muito valdense)? Foi a descoberta de uma realidade nova ou o senhor confirmou velhas opiniões?
Seguramente, houve uma evolução do meu pensamento: eu comecei o meu trabalho com o preconceito de que "Roma não muda". Assim, nas primeiras correspondências, eu enfatizei mais o antigo no novo, ao invés de ver o novo no antigo. Mas, assim que as coisas prosseguiam, eu modifiquei um pouco esse modo de ver o Concílio e no fim tentei, ao contrário, ver o novo no velho.
O Concílio expressou tanto continuidade quanto ruptura, tradição e inovação, e pode-se dizer que quase em todo documento conciliar há essa dupla face. Mas, no fim, tentei ver sobretudo o novo que emergia.
O Concílio foi uma ocasião preciosa para conhecer de perto uma série de personalidades tanto do mundo católico quanto das outras Igrejas...
Sim, efetivamente havia muitos grandes teólogos, presentes como "peritos conciliares": Congar, Rahner, Küng e tantos outros. Lembro, por exemplo, uma conferência de Karl Rahner sobre a Igreja: no fim – cito de memória – o teólogo alemão disse que todos os discursos conciliares sobre a colegialidade, sobre o papel dos leigos a respeito da Igreja hierárquica, tudo isso era muito importante, mas, no fim das contas, a Igreja consiste na assembleia onde há fé, amor e esperança. Essa é a Igreja de Cristo, a comunidade cristã no mundo.
Assim também lembro bem as intervenções dos observadores de outras Igrejas, como o teólogo luterano dinamarquês Kristen Skydsgaard, que, em uma conferência sobre a colegialidade dos bispos, afirmou que, no Novo Testamento, a única colegialidade que se realizou plenamente é a da fuga: todos os apóstolos fugiram de Cristo e o deixaram sozinho. Ou ainda Oscar Cullmann, que, falando sobre a relação entre Escritura, tradição e magistério, propôs esta fórmula: a Escritura é a norma superior.
Há pequenas pérolas que eu recolhi em um tempo extremamente rico e talvez eu mesmo não me dei conta dessa riqueza quando a vivi, mas somente depois, como comumente acontece. Havia muitas outras realidades interessantes, como toda a efervescência dos latino-americanos, dos seus bispos e teólogos. Havia a relação privilegiada com o Secretariado Vaticano para a Unidade dos Cristãos, liderado pelo cardeal Bea... Em suma, podia-se encostar com a mão na riqueza, na multiplicidade e na vitalidade do catolicismo mundial.
No citado livro de 1966, faz-se um juízo muito articulado, mas substancialmente severo do Concílio: "O catolicismo pós-conciliar não será mais um catolicismo de Contrarreforma; mas também não será um catolicismo reformado segundo a Palavra de Deus" (p.10). Um juízo ainda válido a 50 anos de distância?
Substancialmente, eu diria que sim. Outro observador jornalista presente no Concílio, o professor Gottfried Maron, disse: com o Concílio, o catolicismo tornou-se mais católico, mas não menos romano. Mais católico no sentido da universalidade, mas não menos romano porque a centralidade do pontífice e também da Cùria permaneceu tal e qual. Aqui, talvez, esteja o principal ponto fraco do Concílio. A grande palavra de ordem do Concílio foi a da colegialidade episcopal, que deveria equilibrar o primado do papa afirmado pelo Concílio Vaticano I, mas que, na prática, nunca se realizou. De fato, o Sínodo dos Bispos, que devia traduzir a colegialidade em uma instituição permanente, tem poderes puramente consultivos e não deliberativos. Assim, o governo da Igreja continua substancialmente nas mãos do papa e da Cúria Romana.
Quais são as novidades do Concílio que, ao contrário, foram plenamente realizadas?
Vejo substancialmente duas: a reforma litúrgica e a redescoberta da Bíblia. Esta última talvez seja a mais importante herança do Concílio. Nesse campo, poderá amadurecer uma consciência cristã comum, que não poderá ser outra que a criada pela Sagrada Escritura quando ela se torne substância do pensamento, da oração, do discurso da Igreja.
E a abertura ao ecumenismo?
Certamente essa também foi uma das grandes novidades do Vaticano II, mas também aqui houve um revés. Por exemplo, no documento sobre o ecumenismo, diz-se que as Igrejas evangélicas também são "instrumentos de salvação": uma afirmação que quase nunca é retomada. Mas o mais importante não é tanto esta ou aquela citação: a grande diferença que eu percebo com relação a hoje é que, à época, havia um espírito diferente, de abertura e de renovação.
Hoje, vivemos infelizmente em um tempo de anti-Concílio, ao menos do ponto de vista do espírito que anima a liderança da Igreja Católica. Mas não devemos nos esquecer que o Concílio vive sobretudo na base, em setores nada minoritários da base católica que continua interpretando o Concílio não como um evento fechado, mas sim como um processo que deve continuar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Onde acabou a colegialidade? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU