Por: André | 11 Setembro 2012
Hoje, dia 11 de setembro, completam-se 39 anos do golpe de Estado no Chile. “Renovamos o nosso compromisso de conquistar um Chile justo como sonharam as nossas vítimas”, disse Lorena Pizarro, presidenta da Agrupação de Familiares de Presos e Desaparecidos.
A reportagem está publicada no jornal argentino Página/12, 10-09-2012. A tradução é do Cepat.
Cerca de 5.000 pessoas marcharam em Santiago para recordar as vítimas da ditadura militar liderada por Augusto Pinochet, que interrompeu a ordem constitucional do Chile, durante 17 anos, através do golpe contra o governo do presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. Os protestos terminaram com oito presos. “Apesar da tristeza que há em recordar 39 anos do golpe de Estado e o que significou para o nosso povo e nossos familiares, como não sentir satisfação pelo fato de que somos um povo que tem memória e consciência!”, exclamou a dirigente da Agrupação de Familiares de Presos e Desaparecidos (AFDD), Mireya García, aludindo à marcha. O deputado comunista Hugo Gutiérrez, por sua vez, manifestou que cada dia está mais contente com o fato de que as pessoas guardam em sua memória Salvador Allende e todos os que foram vítimas da violência genocida de um ditador.
A presidenta da AFDD, Lorena Pizarro, por sua vez, fez um apelo para que o governo de Sebastián Piñera dirija “um país em que as pessoas o escolheram não para reprimir, não para invisibilizar os direitos humanos, mas para acabar com a impunidade e avançar na verdade e na justiça”. “Hoje, a 39 anos do golpe fascista, nos reunimos mais uma vez em nosso Memorial, onde renovamos o nosso compromisso de conquistar um Chile justo como sonharam as nossas vítimas de ontem e de hoje”, disse Pizarro.
Os manifestantes partiram da praça Los Héroes, no centro de Santiago, com cartazes, bandeiras do Chile e do Partido Comunista (PC), cantando e dançando, para terminar no cemitério geral, onde foi erigido o Memorial do Preso Desaparecido e Executado Político, que recorda as vítimas do regime militar. Os protestos também recordam o suicídio do ex-presidente socialista Salvador Allende, no dia 11 de setembro de 1973, durante um bombardeio ao Palácio de La Moneda, em meio ao golpe militar.
Outro nome que foi reiteradamente mencionado na manifestação foi o do reconhecido cantor chileno Víctor Jara, preso no dia do golpe militar e assassinado quatro dias depois. “Estes atos me dão esperança para fazer uma campanha para buscar justiça para Víctor, queremos que ele seja a ponta de lança para que se coloque fim à impunidade dos assassinos”, disse Joan Jara, viúva do artista. A marcha, que homenageou os presos, assassinados e desaparecidos pelo terrorismo de Estado chileno, deu início às atividades em comemoração ao golpe de Estado, que continuarão hoje com uma visita ao monumento de Allende situado em frente ao La Moneda e uma concentração com velas fora do Estádio Nacional do Chile, emblemático centro de torturas.
No encerramento do ato, efetivos das Forças Especiais de Carabineiros entraram em choque com manifestantes nas proximidades do cemitério geral. Os enfrentamentos ocorreram após a manifestação pacífica, quando cerca de cinquenta encapuzados começaram a armar barricadas, acendendo fogo, ocupando semáforos, cartazes de propaganda eleitoral na entrada do cemitério municipal. A ação dos encapuzados motivou a reação da polícia, que começou a enfrentar os manifestantes, utilizando carros lança-água e gases. Assim mesmo, segundo precisou o portal do jornal El Mercurio, os manifestantes atacaram integrantes da imprensa que se encontravam fazendo a cobertura da manifestação, lançando-lhe projéteis.
A ditadura de Pinochet deixou um saldo de 3.200 mortos e 28.459 presos políticos, segundo dados oficiais. O ditador foi perseguido pela Justiça, que o manteve em prisão domiciliar por dois casos de violações aos direitos humanos, mas morreu no dia 10 de dezembro de 2006 sem receber nenhuma sentença. No total, 76 agentes da ditadura foram condenados até maio passado por violações aos direitos humanos, e 67 deles foram presos, segundo um recente estudo da Universidade Diego Portales, universidade privada. Os tribunais chilenos mantêm abertas 350 causas por desaparecimentos, torturas, prisões ilegais ou conspirações que datam do período ditatorial e que envolvem cerca de 700 militares e agentes civis.
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O Chile recorda suas vítimas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU