28 Agosto 2012
Alguns dos maiores depósitos de ouro e cobre do mundo encontram-se  sob o terreno acidentado dessa região andina, mas os planos de uma  empresa dos Estados Unidos para explorá-los enfrentam forte oposição de  agricultores, políticos e grupos ambientalistas locais.
A reportagem é de Robert Kozak, publicada no jornal The Wall Street Journal e reproduzida pelo jornal Valor, 27-08-2012.
Por  dois anos, milhares de pessoas têm realizado manifestações, bloqueado  estradas e, ocasionalmente, liderado protestos violentos no norte do  Peru. Cinco manifestantes morreram em julho, durante confrontos com a  polícia.
Agora, a Newmont Mining Corp., com sede em  Denver, no Colorado, diz que os protestos ameaçam seu investimento de  US$ 5 bilhões, um dos maiores da história do Peru. Os enormes caminhões  de mineração da Newmont ainda não conseguiram chegar ao local, chamado Minas Conga,  embora a empresa já tenha investido centenas de milhões de dólares no  projeto localizado quase 4.000 metros acima do nível do mar.
"Neste momento, não vemos o ambiente ideal [para uma operação bem-sucedida] em Conga", disse numa entrevista Richard O'Brien, diretor-presidente da Newmont. "Precisamos de uma mudança significativa para que isso aconteça."
A disputa está emergindo como um teste para o presidente do Peru, Ollanta Humala,  que fez campanha contra o projeto, mas tornou-se seu defensor depois de  vencer as eleições no ano passado. A mudança reflete modificações mais  amplas em seu estilo de governo, de populista a pragmático, dizem  analistas. As revoltas populares contra o projeto levaram o presidente a  demitir dois primeiros-ministros e reformular seu gabinete.
O  boom da mineração é uma das principais razões pelas quais a economia do  Peru cresceu a um ritmo anual médio de 6,5% nos últimos dez anos, uma  das expansões mais impressionantes entre países da América Latina. A  renda per capita aqui triplicou no período. Autoridades do governo dizem  que cerca de US$ 50 bilhões em projetos de mineração estão previstos  para os próximos anos.
Agora, o aumento da oposição à mineração ameaça arruinar grandes investimentos e desacelerar o crescimento.
No  sul do Peru, os ativistas têm explorado as preocupações sobre a  poluição e outros problemas para impedir a instalação de uma grande mina  de cobre planejada pela peruana Southern Copper Corporation, uma  afiliada do Grupo México, um empresa mexicana. Protestos em 2011  levaram o governo a cancelar a autorização para um projeto de prata  liderado pela Bear Creek Mining Corp., do Canadá.
As  disputas ilustram as crescentes dificuldades que as mineradoras  enfrentam com projetos de grande escala em toda a América do Sul.  Projetos no Equador, Bolívia e Venezuela sofreram atrasos ou  expropriações definitivas por governos socialistas nos últimos anos.
Até recentemente, o Peru foi uma exceção.
"Sempre  houve problemas sociais em todo o setor de mineração no Peru, mas a  forma como a questão foi 'sequestrada' por causas radicais e populistas  está prejudicando a imagem do Peru como destino de investimento em  mineração", disse Luis Zapata, diretor para a América Latina do banco canadense de investimentos Canaccord Genuity.
A Newmont, a segunda maior mineradora de ouro do mundo, vem extraindo o metal no norte do Peru desde 1993, depois de criar a Minera Yanacocha com a empresa local Compañía de Minas Buenaventura SAA.
A mina Yanacocha tem dado bons resultados para a Newmont. A Yanacocha produziu 3,3 milhões de onças de metal em 2005, tornando-se a maior  mina de ouro do mundo naquele ano. Mas a produção caiu para cerca de 1,4  milhão de onças este ano e as operações poderiam deixar de existir em  cinco anos. O esgotamento dos depósitos e os altos preços dos metais  levaram a Newmont a planejar a Minas Conga na mesma região.
 
A Newmont já enfrentou contratempos no Peru antes. Um vazamento de mercúrio em 2000 manchou a reputação da Minera Yanacocha e da Newmont. Protestos devido a temores de contaminação das águas subterrâneas, em 2004, puseram fim nos planos de expansão da mina Yanacocha.
 
O'Brien, da Newmont, reconheceu que sua empresa deu seus tropeções. "Nos 20 anos da relação entre a Yanacocha e Cajamarca, houve bons momentos e houve momentos em que poderíamos ter feito um trabalho melhor", disse.
 
A população de Cajamarca explodiu recentemente, ampliando a desigualdade econômica e desafiando a infraestrutura antiquada.
 
"Adeus, Newmont", dizem pichações num muro ao lado de uma  estrada que leva ao local do projeto, cerca de 650 quilômetros ao norte  de Lima, a capital. "Ollanta traidor ", diz outra.
 
Em 2010, o governo do Peru, aprovou o estudo de impacto ambiental para a Minas Conga.  Mas os opositores têm se concentrado em quatro lagos nas montanhas que a  empresa pretende drenar ou usar no projeto. Eles dizem que isso poderia  afetar o abastecimento de água do vale.