Por: André | 06 Julho 2012
O Governo de Ollanta Humala está para completar um ano e já é responsável por 15 mortes em enfrentamentos entre a população e as forças da ordem em diferentes conflitos sociais onde se confrontaram os interesses dos cidadãos com os das empresas ou o Governo. O último episódio aconteceu na terça-feira na praça das armas de Celendín, província da região de Cajamarca, na serra norte, onde foram mortos a tiros três civis – entre eles um menor – e ficaram feridos outros 22 e dois policiais. Horas depois, o ministro da Justiça, Juan Jiménez, declarou estado de emergência nas províncias de Celendín, Hualgayoc e Cajamarca.
A reportagem é de Jacqueline Fowks e está publicada no jornal espanhol El País, 04-07-2012. A tradução é do Cepat.
O estado de emergência voltou a ser declarado nas três províncias da região de Cajamarca seis meses depois e no dia em que houve 32 mobilizações contra o milionário projeto mineiro de Conga, das empresas Yanachoca e Newmont. Os protestos de dezembro provocaram a queda do ex-primeiro-ministro Salomón Lerner e sua substituição por Óscar Valdés. A administração Humala aceitou que uma equipe de especialistas internacionais avaliasse seu impacto ambiental, e em abril os peritos recomendaram que a operação não destruísse as lagoas das cabeceiras das bacias onde se encontra o projeto. Em junho, a empresa indicou que aceitaria algumas das recomendações, embora não tenha garantido que pudesse preservar as lagoas. O presidente Humala saudou a “nova mineração” como mais respeitosa.
“Os enfrentamentos começaram quando um grupo de pessoas tentou impedir que o prefeito de Celendín entrasse no Ajuntamento e cercaram o local”, comentou ao El País de Cajamarca o jornalista do Noticias Sur, Aldo Santos. O prefeito deixou sua cidade e seu escritório há meses, devido ao fato de que os munícipes o rechaçaram por ser favorável ao projeto Conga. “Atacaram o local do Serenazgo e a Prefeitura (no Ajuntamento) e então a polícia entrou em ação”, acrescentou Santos.
O ex-sacerdote Marco Arana, líder da organização política Terra e Liberdade, por sua vez, indicou ao Canal N que um grupo de operários da construção exigia, fora do Ajuntamento, o pagamento atrasado pelos trabalhos em uma escola e, ao mesmo tempo, protestava em solidariedade à população de Celendín contra o projeto de mineração. Segundo o Ministério do Interior, os manifestantes tentaram tomar o prédio armados e atiraram nas pernas de dois suboficiais da polícia.
Foi então que a polícia se retirou e efetivos do Exército intervieram para atirar contra aqueles que estavam destruindo material na sede da prefeitura.
No enfrentamento morreram Eleuterio García Rojas, de 50 anos, José Faustino Silva, de 35, e o menor C.M.A., de 17 anos. Enelva Hoyos, funcionária do hospital de Celendín, disse ao El País que na noite de segunda-feira estavam programadas operações em alguns dos 22 feridos enquanto chegavam especialistas e anestesistas porque em sua única ambulância já tinham mandado para a capital da região um ferido com prognóstico reservado.
Na semana passada, Newmont e Yanacocha anunciaram o início da construção de depósitos que substituirão a água das lagoas destinadas ao projeto Conga. Um setor de cajamarquinos e de autoridades locais é favorável a esta operação, mas são contrários os citados Marco Arana, o presidente regional de Cajamarca, Gregorio Santos, a Frente de Defesa de Cajamarca e a Plataforma Institucional de Celendín.
Consultado, na segunda-feira, o presidente Humala sobre a situação em Cajamarca, pois a empresa havia solicitado garantias para poder começar as obras dos depósitos, disse que aqueles que não respeitarem a propriedade privada teriam que “ater-se às consequências”.
No sábado passado, a paróquia N. Sra. do Carmo, situada na praça das armas de Celendín, divulgou um comunicado com a presença massiva das forças da ordem no qual urgia “à Polícia e ao Exército, com presença desnecessária em nossa província, para manterem uma postura de serenidade e compreensão com um povo que não tem outra pretensão senão fazer ouvir sua voz em defesa da água e da vida”.
Com a declaração de emergência retorna a tensão extrema entre o governo e aqueles que protestam contra o projeto, que representa um investimento de 4 bilhões de dólares. A situação retorna ao mesmo ponto morto de há seis meses. O bispo emérito de Chimbote Luis Bambarén pediu na terça-feira a mediação da Igreja, como indicou na quinta-feira da semana passada o presidente da Conferência dos Bispos do Peru, Salvador Piñeiro, ao apoiar a participação do sacerdote Gastón Garatea neste conflito.
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Novos protestos contra uma mina no Peru provocam três mortes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU