Por: Jonas | 15 Agosto 2012
Alejandro Solalinde Guerra (foto) é, talvez, o sacerdote católico mais famoso do México. Nos últimos anos, monopolizou a atenção da imprensa devido ao seu trabalho em favor dos migrantes, que atravessam seu país, em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. Esta semana, envolveu-se numa polêmica por uma suposta remoção de seu cargo, abrindo um debate sobre o papel dos padres: homens de Deus ou ativistas sociais?
A reportagem é de Andrés Beltramo Alvarez, publicada no sítio Vatican Insider, 14-08-2012. A tradução é do Cepat.
Em 2007, Solalinde fundou o albergue “Irmãos no Caminho”. Ao contrário do que se pode imaginar, esse refúgio não se encontra na fronteira norte, mas, ao sul do território mexicano. Na localidade de Ciudad Ixtepec, Estado de Oaxaca.
Hoje, todo o México é rota de passagem para pessoas das nacionalidades mais diversas (inclusive africanos e asiáticos) que buscam chegar aos Estados Unidos. Caminhando, no trem ou em velhos caminhões, eles percorrem milhares de quilômetros antes de alcançarem o objetivo. Um caminho perigoso, que os tornam vítimas preferidas, não apenas dos bandos criminais, mas também dos corruptos agentes da lei, acostumados com a extorsão.
Por seu serviço, Solalinde foi integrado ao setor da Pastoral da Mobilidade Humana, na Conferência do Episcopado Mexicano. Dele se aproximaram expoentes históricos da esquerda mexicana, dentro e fora da Igreja. A imprensa começou a reverenciá-lo e, para alguns, foi útil alimentar seu carisma público. Assim, se tornou “paladino” dos direitos humanos.
Repentinamente, no dia 7 de agosto, ele anunciou que seu bispo e pastor da diocese de Tehuantepec, Óscar Armando Campos Contreras, havia lhe pedido para deixar seu trabalho no albergue, supostamente por causa de seu “protagonismo”, e continuar sua missão numa paróquia, como todos os presbíteros.
“Não me parece muito evangélico. Disseram-me para que dedique meu tempo livre aos pobres, mas não se deve dar as sobras para os pobres. Assim, não aceito assumir uma paróquia. Eu posso lutar contra cartéis, mas não contra a Igreja”, destacou.
A notícia correu com reações em cadeia. Os primeiros a sair em defesa do padre foram os ativistas, políticos e jornalistas. Por acaso, os mesmos que constantemente criticam e insultam a Igreja, com o Papa na liderança. E a polêmica chegou até a nunciatura apostólica no México, a cujo titular, Christophe Pierre, a equipe do albergue enviou uma carta expressando “consternação”.
A pressão pública foi tanta, que o bispo Campos se viu obrigado a esclarecer que nunca pediu para o defensor dos migrantes deixar seu posto, e negou ter desvalorizado seu trabalho. Só desta maneira a tormenta midiática foi aplacada.
Neste ritmo, o caso abriu um inexorável debate sobre o papel dos sacerdotes católicos. Toda a defesa de Solalinde foi baseada numa denúncia: “pretendem confiná-lo numa paróquia”. De início, ele mesmo aceitou deixar o albergue, mas esclareceu que não abandonaria o atendimento aos migrantes. E disse que estaria disposto a perder sua condição clerical por isso.
Porém, seus detratores consideram sua atitude incongruente, uma ofensa ao resto dos presbíteros. Nenhum se sente “confinado” numa paróquia. Não sem razão, sustentam que qualquer paroquiano pode ajudar os migrantes, mas que apenas os sacerdotes têm o poder de administrar os sacramentos.
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Sacerdotes ou ativistas sociais? Caso de padre mexicano abre o debate - Instituto Humanitas Unisinos - IHU