02 Mai 2012
"Aqui, não estamos na Nigéria. Até agora, a violência no Quênia nunca teve uma coloração religiosa. A base nos aceita, a cúpula, não. É preciso entender quem está realmente por trás da granada lançada contra uma igreja". Desde 2009, o padre Stefano Giudici lidera em Nairóbi a Missão São João Batista na favela de Korogocho, uma das regiões mais desesperadas da África.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 30-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
A Nigéria está há muito tempo na mira da Boko Haram, a seita islâmica que, com centenas de mortes, tenta impor a Sharia [lei islâmica] no país. O "contágio" fundamentalismo está se espalhando para o resto da África?
Até agora, no Quênia, a presença cristã e os locais de culto nunca estiveram sob os tiros. Justamente nesse domingo, organizamos uma manifestação pela recuperação de crianças de rua cheiradoras de cola e alcoólatras. Discursaram inúmeros representantes das outras confissões, rezamos juntos. As relações inter-religiosas são boas, o clima de tensão existe por causa da luta contra o terrorismo, não por causa de conflitos entre as diversas crenças. As chamas e o sangue na igreja são uma trágica e alarmante novidade para Nairóbi. Que Deus não queira que esse seja o início de uma extremização que instrumentaliza a religião por objetivos de poder político e econômico.
As autoridades acusam os islamistas somalis. O senhor vê alguma outra "mão"?
Cuidado para não criar um bode expiatório. Precisamos ir além das primeiras reconstruções do acontecido e entender realmente quem está por trás do atentado cometido pouco instantes antes da missa. No mês passado, uma bomba em um terminal de ônibus causou nove mortes, e, desde então, os controles nos lugares públicos são muito severos. Deve-se determinar a natureza terrorista do gesto. Aqui, a nossa ação pastoral é bem recebida pelas pessoas. Na cúpula, não faltam incompreensões, como se viu durante o referendo constitucional, mas o confronto nunca desembocou na violência e se centrou principalmente na definição de valores a serem conferidos à ordenação. Com o componente muçulmano, o diálogo nunca se interrompeu.
Os somalis muçulmanos são numerosos no Quênia. Corre-se o risco de uma guerra religiosa?
Aqui, a Al Shabaab é ativa, e em Korogocho há um bairro inteiro somali e muçulmano. Hoje, o Quênia está comprometido com uma difícil ação militar na Somália, sob a égide da União Africana para defender suas próprias fronteiras dos terroristas. Até agora, a religião nunca foi fonte de violência, mas, nas várias comunidades de fiéis, os fundamentalistas buscam a radicalização. Portanto, no Quênia, é real o perigo de uma escalada de ataques por parte dos Shabaab somalis. E, de fato, ainda nesse domingo, recebi uma comunicação da embaixada italiana na qual se alertava contra os possíveis atentados e se exortava a máxima prudência.
No e-mail da embaixada, falava-se de perigos específicos aos lugares de culto?
Não, tratava-se de um alerta genérico, dirigido à embaixada italiana aos conterrâneos presentes no Quênia. Foi-nos dirigido um convite-padrão para sermos prudentes, provavelmente sob recomendação das autoridades locais. Não havia solicitações ou elementos relacionados às igrejas, paróquias, missões. Só uma cautela, ainda mais normal e compreensível visto o momento particular no qual a guerra contra o terrorismo está sendo realizada tanto no território nacional quanto do outro lado das fronteiras. As verificações se tornaram mais rigorosas, e também somos controlados na entrada dos supermercados e dos cinemas. Infelizmente, desta vez, a violência optou como alvo uma comunidade indefesa de fiéis em oração. Nós ficamos aqui, não temos medo, não escapamos. Estamos entre pessoas que gostam do nosso compromisso e compreende o sentido da nossa presença em um lugar tão repleto de problemas, emergências, desafios, mas também de potencialidades para o bem.
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''A embaixada tinha nos advertido: em Nairóbi, há o risco de guerra civil'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU