As religiosas norte-americanas e o Vaticano: uma crise com passado

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Por: André | 30 Abril 2012

A Congregação para a Doutrina da Fé solicitou uma profunda reforma da Leadership Conference of Women Religious (LCWR), a organização que representa a maior parte das ordens religiosas femininas nos Estados Unidos. A iniciativa nasceu na Congregação para a Doutrina da Fé, dirigida pelo cardeal norte-americano William Levada, que após uma investigação concluiu que “a situação doutrinal e pastoral atual da LCWR é grave, e uma questão de grande preocupação”. A Congregação para a Doutrina da Fé conclui que uma ação do Vaticano é necessária para reformar o grupo. O arcebispo Peter Sartain, de Seattle, foi nomeado delegado vaticano para supervisionar a reforma. Terá que ajudar as religiosas da LCWR a revisar os estatutos do grupo, planejar os programas, revisar textos litúrgicos e voltar a considerar a filiação do grupo a outras organizações.

A reportagem está publicada no sítio Vatican Insider, 27-04-2012. A tradução é do Cepat.

A declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que se baseou nos resultados da visita apostólica realizada pelo bispo Leonard Blaire de Toledo, Ohio, identificou “sérios problemas doutrinais relacionados a muitas pessoas na vida consagrada”. Muitas religiosas norte-americanas se afastaram, segundo a Congregação para a Doutrina da Fé, “do centro cristológico fundamental”. Entre as acusações mais relevantes destaca a de ter desafiado os ensinamentos da Igreja sobre temas como a homossexualidade e o sacerdócio, e de ter promovido “temas feministas radicais incompatíveis com a fé católica”. Além disso, há indicações de que a organização fez declarações públicas que contradizem ou que “desafiam os bispos, que são os verdadeiros mestres da fé e da moral na Igreja”. Os bispos norte-americanos criticam alguns aspectos da reforma sanitária de Obama, mas dezenas de freiras assinaram um documento de apoio, que ofereceu uma “cobertura” católica à Casa Branca. A LCWR alega que conta com 1.500 membros, quer representam 80% das religiosas dos Estados Unidos.

Na realidade, trata-se de uma crise cujas raízes são profundas. “Depois de ter estudado o argumento durante muitos anos, creio que está amadurecendo há 40 anos”, declarou Ann Carey, autora de Sisters in crisis: the tragic Uraveling of Women religious communities. Desde 1971, quando a LCWR modificou seus estatutos, as relações com o Vaticano estão tormentosas. “O Vaticano foi paciente, tratando de oferecer às freiras linhas guia para modificar a direção que estavam tomando, e elas colocaram resistências”. As mudanças foram tão drásticas que uma parte das freiras abandonou a LCWR e criou um grupo alternativo, conhecido como Conselho das Superioras Maiores das Religiosas (CMSWR). Mas (e provavelmente esta é uma das tantas razões que provocaram a reação da Santa Sé e em particular da Congregação para a Doutrina da Fé) enquanto parece que nesta a vida religiosa seja muito mais “suave”, é justamente nesta minoria onde se registra o maior número de vocações. Com efeito, o número de religiosas diminuiu notavelmente nos Estados Unidos: de 179.954, em 1965, para 55.000, hoje.

Depois da primeira reação, as religiosas do LCWR se dizem abertas, cautelosamente, ao diálogo com a comissão de bispos norte-americanos nomeada por Roma. “Nos comprometeremos com o diálogo. Na medida do possível estaremos abertas ao movimento do Espírito Santo. Pedimos orações para nós e para a Igreja neste momento crítico”, se pode ler em uma declaração. Dom Sartain, que dirigirá a reforma, também disse estar comprometido e querer “ajudar as religiosas da LCWR a reconhecer que estamos todos juntos nesta tarefa”, e acrescentou que aprecia “o papel das religiosas dos Estados Unidos” e “todas as coisas extraordinárias que fizeram”. Sartain está buscando uma via diplomática. Outros, ao contrário, são mais duros. Como o cardeal Raymond Leo Burke, que dirige o supremo tribunal vaticano. Há tempos vem denunciando “a pública e obstinada traição da vida religiosa por parte de algumas religiosas”.