24 Março 2012
Recordar Romero hoje não só onde ele atuou, mas em todo o mundo, significa, acima de tudo, posicionar a questão da pobreza, da luta contra a exclusão como central na ação da Igreja e dos Estados.
A opinião é do estudante italiano Francesco Scoppola, em artigo publicado no jornal L'Unità, 22-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Neste sábado, 24 de março, celebra-se o aniversário da morte do arcebispo salvadorenho Óscar Romero, assassinado há 22 anos, enquanto estava celebrando a missa. Uma figura única no panorama não só da Igreja, mas da história, um mártir que deu plenitude à sua existência mediante a centralidade daqueles princípios de solidariedade e de missão que inspiraram a sua vida.
Mas por que ainda o forte desejo de celebrar a sua recordação depois de tanto tempo? Por um lado, seguramente, por causa da beatificação ainda em aberto, mas principalmente por causa das características fundamentais da sua obra, capaz de atuar para que a mensagem evangélica pudesse se traduzir concretamente em ações pelo seu povo, pela sua gente. Elemento de continuidade entre então e hoje é a dramática situação econômica do Estado salvadorenho, com cerca de 80% da população abaixo do nível mínimo de pobreza e com taxas de desemprego recordes.
Recordar Romero hoje não só onde ele atuou, mas em todo o mundo, significa, acima de tudo, posicionar a questão da pobreza, da luta contra a exclusão como central na ação da Igreja e dos Estados, significa reportar concretamente o sofrimento a paradigma de uma época como a nossa, em que ele se manifesta de várias formas; significa refocalizar a atenção da Igreja sobre o povo, entendido como companheiro e destinatário das atenções e da solidariedade humana profunda, orientar a política à busca do bem comum.
Romero, com a sua conduta, configura uma Igreja profética, pobre, aberta, uma Igreja não elitista, mas popular; ele convidou os ricos à conversão e à partilha plena das suas riquezas e posses. Em sua última homilia, ele apelou de maneira direta à consciência dos soldados para que não matassem, para que recusassem uma ordem contrária à vontade de Deus. Essa é uma mensagem que repropõe a atualidade de um pacifismo não retórico e animado constantemente por grupos de traço religioso.
A atualidade dessas mensagens e a modernidade veemente que delas se move estão na base da histórica visita que, no ano passado, o presidente Obama fez a El Salvador, visita que se concluiu precisamente com a visita ao túmulo do arcebispo. Os escritos de Romero nos oferecem hoje um ponto do qual partir, ou talvez partir de novo, memórias que têm a força da profecia e que, se lidas atentamente, podem fornecer uma agenda, ainda antes do que para a Igreja, para a Política.
"Uma Igreja autenticamente pobre, missionária e pascal, desligada de todo o poder temporal e corajosamente comprometida com a libertação do homem todo e de todos os homens".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
El Salvador, os pobres e o exemplo de Romero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU