25 Fevereiro 2012
"É a falta de humildade que destrói a unidade" da Igreja. "A soberba é a raiz de todos os pecados". As afirmações são de Bento XVI, bispo de Roma falando de improviso aos párocos da sua diocese. Mais de 300 o ouviram nessa quinta-feira, 23 de fevereiro, na Aula Nervi, no tradicional encontro do início da Quaresma com os padres romanos.
A reportagem é de Roberto Monteforte, publicada no jornal L'Unità, 24-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Neste ano, em vez da troca de perguntas e respostas, o papa preferiu realizar uma lectio divina. Por uma hora, falando de improviso, ele lhes explicou as insídias das quais é preciso se resguardar. Assim como aos futuros 22 cardeais durante o último Consistório, ele indicou as lógicas mundanas, a busca do poder e do sucesso.
Só a humildade, conjugada com o realismo, proferiu o pontífice, que "nos torna verdadeiramente livres". Diante dos "corvos", do vazamento de documentos reservados dos Sagrados Palácios, evidente extensão pública de um confronto interno à Cúria Romana, o papa convida a olhar para a fé, para serviço e para amor à Igreja e aos irmãos.
Nessa quinta-feira, ele denunciou o carreirismo presente na Igreja. Convidou a fugir da "vaidade" que – afirmou, falando em primeira pessoa –, "no fim, é contra mim e não me faz feliz". "Devo saber aceitar – continuou – a minha pequena posição na Igreja". É essa humildade – acrescentou – que "leva a não querer aparecer, mas sim a fazer aquilo que Deus pensou para mim e que, para mim, faz parte do realismo cristão".
A humildade é central. "Os cristãos – observou – estão divididos porque falta a humildade". "A soberba – enfatizou – é arrogância. É a raiz de todos os pecados, a busca do poder, aparecer aos olhos dos outros, não se preocupar em agradar a si mesmo e a Deus. Ser cristão significa superar essa tentação".
Durante a audiência geral da quarta-feira e depois no rito das Cinzas celebrado à tarde na Basílica de Santa Sabina, o papa advertira contra a tentação do poder e do materialismo. Antes ainda, havia indicado o perigo representado pelo poder da mídia e das finanças. Na sua lectio, não faltou uma passagem crítica contra os "católicos adultos", contra uma "fé emancipada do magistério".
Mas, para Ratzinger, o resultado "é a dependência das ondas do mundo, da ditadura dos meios de comunicação, da opinião comum, ou seja, do modo que todos pensam e querem". É o neoconformismo. "Libertar-se dessa ditadura – disse – é libertar-se realmente".
O grande problema da Igreja, concluiu o Papa Bento XVI, é o da "falta de conhecimento da fé", do "analfabetismo religioso". Ele admitiu que, na Igreja, hoje, "nem tudo é fé e amor" e que "se destrói a esperança que torna visível o Rosto de Deus". Ele convidou os párocos romanos a viver a esperança. "Ela – assegurou – nos garante que os poderes não são diferentes, e, no fim, o líder não permanece, não permanece a sujeira do mal, do pecado. Permanece apenas a Luz".
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Papa aos párocos: ''Chega de carreirismo'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU