16 Fevereiro 2012
Um papa cercado por lobos, que não recua e não renunciará por medo. A uma curta distância um do outro, o diretor do L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, e o porta-voz papal, Lombardi, traçam o clima dramático que caracteriza a fase atual do pontificado de Bento XVI: enquanto o seu reinado entra no oitavo ano e se comemora o 30º aniversário da chegada de Joseph Ratzinger ao Vaticano.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 15-02-2012.
O L'Osservatore Romano desta quarta-feira, 15 de fevereiro, descreve um pontífice agredido "por lobos", uma Cúria em que se manifestam "comportamentos irresponsáveis e indignos", uma estrutura eclesial que, diante dos clamores midiáticos, deve saber "aproveitar a ocasião de uma purificação da Igreja".
O editorial de tons tão dramáticos e solenes do diretor do L'Osservatore Romano testemunha o impacto da publicação no Il Fatto Quotidiano da nota sobre os complôs antipapais, repassados pelo cardeal Castrillón Hoyos a Bento XVI em pessoa. Nota que se entrelaça com a avalanche de cartas internas ao Vaticano enviadas ao exterior para assinalar a insustentabilidade de uma situação de não governo e (no caso Viganò) de mal governo da máquina curial.
Truculenta nos tons, a nota tinha o objetivo, no momento em que foi posta preto sobre branco, de descobrir uma colônia de vermes. E assim foi. Malgrado seu, a Santa Sé foi obrigada a se confrontar com uma situação caótica e venenosa em que todo o pessoal curial dispara contra todos. Não adianta que os ambientes oficiais do outro lado do Tibre se lancem contra os jornalistas ou se afanem por usar a sua influência sobre os canais de televisão públicos e privados a fim de abafar a notícia.
O artigo alarmado do L'Osservatore revela a intenção de restaurar a ordem, a tranquilidade e a confiança em um contexto intratável. No entanto, a inquietação e o mal humor, que serpenteiam nos corredores do palácio apostólico, não parecem destinados a cessar.
No Vaticano, nestas horas, estão aterrorizados com a ideia de que possam sair novos documentos comprometedores da Secretaria de Estado ou de algum outro dicastério. Mas irão sair. Um desvio está em andamento. Muitos sinais indicam que se rompeu a tradicional "solidariedade palaciana" e que mais de um monsenhor está convencido de que as batalhas internas não devem ser mais combatidas como no passado através de "sussurros" de sala em sala, mas sim levadas para o lado de fora, na cena midiática.
O aspecto inédito dessa fase é caracterizado pelo fato de que personalidades muito católicas, conhecidas por serem totalmente fiéis ao Papa Ratzinger, se prestam, nestes dias, a lançar alertas e denunciar os efeitos negativos de uma evidente ausência de governo. O ex-vice-diretor do L'Osservatore Romano, Gianfranco Svidercoschi, fala abertamente de uma "crise de liderança". Certamente, explica, há comportamentos individuais de monsenhores infiéis, mas existe um problema de fundo: "A um papa teólogo, talvez devesse corresponder uma maior atenção por parte de uma estrutura fundamental da Igreja, como a Secretaria de Estado, para contrabalançar a atitude de um papa que não está tão presente na realidade eclesial".
Vittorio Messori – o escritor católico amigo de João Paulo II e do próprio Bento XVI – denuncia as falhas que ocorrem com "inquietante frequência" na máquina vaticana, em um redemoinho de "equívocos, distrações, gafes diplomáticas". A expansão burocrática no Vaticano e a vontade de manter um aparato barroco, defende Messori, leva inevitavelmente a "desvios e aos erros que são constatados na gestão eclesial".
Até a historiadora Lucetta Scaraffia, colunista do L'Osservatore Romano, sempre voltada a elevar lamentos contra jornalistas malvados que estariam intencionados a profanar a Sé Apostólica, foi obrigada a afirmar que, na Igreja, há "pesadas hipotecas de um passado e de um presente muito frequentemente opacos".
A linha oficial – para lançar uma palavra de ordem tranquilizante, enquanto cardeais de todo o mundo chegam a Roma para o consistório, inquietos pelo emaranhado de rixas internas – é que a confusão e os ataques de hoje são, indiretamente, o efeito do caminho certo tomado pelo Papa Ratzinger para renovar a Igreja, combatendo o fenômeno dos padres pedófilos e garantindo também uma "verdadeira transparência do funcionamento das instituições vaticanas do ponto de vista econômico".
O porta-voz papal, Lombardi, se encarrega de desmentir, na Rádio do Vaticano, todas as hipóteses de renúncia de Bento XVI. O papa, na realidade, está decepcionado e desencantado com o que está acontecendo ao seu redor. Mas, como a sua mentalidade, impregnada com o pessimismo de Santo Agostinho, já o levou no passado a condenar carreirismos e manobras curiais, no fundo, ele nem se admira muito. Ao invés disso, cresce a sua irritação contra a incapacidade do cardeal Bertone de manter a Cúria sob controle. Esse é um dado novo. Que abre novos cenários. A poltrona do secretário de Estado range.
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Os ''lobos'' ao redor do papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU