''Cardeais, a nacionalidade não conta. O importante é que ouçam o mundo''

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09 Janeiro 2012

O papa leva o Colégio Cardinalício novamente à sua plenitude em número de membros, como é seu dever. Mas o dever do Colégio é sentir junto com ele o que mundo espera da Igreja Católica.

A análise é Alberto Melloni, historiador da Igreja italiano, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação João XXIII de Ciências Religiosas de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 08-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Inserir novos membros no Colégio Cardinalício é uma das tarefas do papa. Ele pode fazer isso com calma e esperar três anos, como fez Bento XVI entre 2007 e 2010. Ou anunciar depois de apenas 13 meses uma nova lista de cardeais, como fez para a a Epifania. As decisões, independentemente de quem as ouve, são só suas: e sobre as suas decisões foram feitas várias observações de bom senso.

Foram notados os muitos europeus e italianos, embora figuras como Fernando Filoni e Giuseppe Bertello deem nova voz à experiência diplomática que formou grandes eclesiásticos. O chapéu dado ao bispo Tong de Hong Kong pareceu ser um gesto possibilista para com a China, que não é uma inimiga da Igreja, mas sim o seu destino. A púrpura dada a Giuseppe Betori dá um sinal importante para o catolicismo italiano, que, na pressa de cantar o Glória a Monti, esqueceu o Confiteor. Com os boatos e adiamentos (a postergação clamorosa de Luiz A. Tagle em Manila, a de Rino Fisichella na Cúria) pesam-se as alianças vaticanas, contra o pano de fundo de um conclave que, graças a Deus, em nada se anuncia iminente.

Porém, este Consistório de 2012 que ignora a África incendiada por uma guerra religiosa entre salafistas e pentecostais, que sistematiza pistas rápidas e pistas normais, é como se projetasse com as suas luzes e as suas sombras a grande questão que domina os bispos e o Colégio Cardinalício. A Igreja expõe um batalhão de cardeais europeus: que não poderão ficar mudos diante de uma crise que sacudirá não os odiados direitos de Nice, mas sim – veladamente, Mario Monti acenava isso neste sábado – a paz do continente.

Este Consistório de 2012 dá destaque a purpurados que não podem se calar diante da tragédia da Hungria, que se orgulha de suas raízes cristãs e humilha a democracia. Ele associa ao Senatus Papae príncipes que não deverão ficar surdos diante dos trovões de guerra que rugem da África a Hormuz.

O papa leva o Colégio novamente à sua plenitude, como é seu dever. Mas o dever do Colégio é sentir junto com ele como o mundo espera da Igreja Católica – família de iguais, societas permixta de pecadores e aduladores, sem armas nem interesses, em teoria – o bálsamo de verdades silenciadas há muito tempo.

Para fazer isso, pode-se ter nascido em qualquer parte do mundo, contanto que se tenha cabeça, coração e fé.