07 Janeiro 2012
Em fevereiro, o Papa Bento XVI irá convocar um consistório para a nomeação de cerca de 15 novos cardeais [a lista oficial, divulgada depois da publicação desta notícia, conta com 22 nomes].
A reportagem é de Aldo Maria Valli, publicada no jornal Europa, 06-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Será o quarto consistório do pontificado Joseph Ratzinger e é notável porque, com as novas nomeações, dentro do Sacro Colégio, o número dos purpurados desejados por Bento XVI irá superar, pela primeira vez, a dos cardeais escolhidos por João Paulo II.
Falar de cardeais no início de um novo ano significa também atualizar a lista dos possíveis papáveis em caso de conclave, antigo "jogo" que, é inútil esconder, no Vaticano e entre os adeptos ao trabalho, sempre foi praticado.
Neste momento, um nome se destaca sobre todos: o do cardeal Angelo Scola, recém-nomeado arcebispo de Milão depois de ter sido patriarca de Veneza. Muitos elementos, no papel, são a seu favor. Ninguém como ele esteve em cátedras tão importantes quanto as de São Marcos e Santo Ambrósio. Ninguém como ele pode se considerar próximo de Joseph Ratzinger por história e afinidade (do pertencimento ao movimento eclesial Comunhão e Libertação ao fato de ter sido chamado justamente por Ratzinger para colaborar com a revista de teologia Communio). Ninguém como ele pode se orgulhar de um currículo de primeiríssima ordem do ponto de vista pastoral e também cultural e intelectual (foi reitor da Pontifícia Universidade Lateranense e, em Veneza, deu à luz a prestigiada fundação Oasis para o diálogo entre cristianismo e Islã).
Contra ele, no entanto, existem alguns fatores. O primeiro é resumido pelo velho ditado segundo o qual quem entra no conclave como papa sai como cardeal (na prática, o favorito muitas vezes perde). O segundo é a falta de feeling com a Cúria Romana. O terceiro é a idade. Tendo completado 70 anos em novembro passado, o tempo joga contra ele, porque é senso comum que os cardeais, depois de terem eleito em 2005 um idoso (Ratzinger tinha 78 anos), da próxima vez desejariam um papa mais jovem. Além disso, a sua proximidade com o Comunhão e Libertação determina, com relação a ele, uma forte polarização, em sentido positivo, mas também negativo.
Um segundo candidato que parece ter os papéis em ordem é o arcebispo de São Paulo, no Brasil, Odilo Pedro Scherer.
Ele guia a diocese mais importante daquele que é o maior país católico do mundo e, vindo da América Latina, pode garantir aquela descontinuidade geopolítica que a muitos parece ser necessária depois que a Europa já deixou de ser há muito tempo o continente mais católico.
A favor dele, jogam também a idade (ele nasceu em setembro de 1949) e o fato de ter trabalhado por sete anos na Congregação para os Bispos, deixando de si uma boa recordação na Cúria Romana. Jovem idade, origem geográfica, experiência curial, mas também pastoral: é um perfil perfeito.
O único e possível "não" pode ser o fato de ser filho de um casal de imigrantes alemães. Mesmo tendo nascido no Brasil, a sua cultura de origem é germânica, o que pode ser um problema vindo depois de um papa alemão.
Assim chegamos ao terceiro candidato, que nos leva para a África. É o cardeal ganense Peter Kodwo Appiah Turkson, nascido em 1948, atual presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, o dicastério vaticano que se ocupa com a promoção da justiça social no mundo. De pai católico e mãe convertida do metodismo, estudou no Instituto Bíblico de Roma, mas também com os franciscanos em Nova York. Bispo desde 1992 e cardeal desde 2003, somou à experiência pastoral a experiência curial depois de ter sido nomeado responsável pelo dicastério em 2009. Apreciado pela sensibilidade pastoral e pelo realismo unido a um ótimo caráter, poderia ser aquele papa africano desejado por muitos. No Iustitia et Pax, colabora com ele como secretário o monsenhor Mario Toso, salesiano, muito próximo do secretário de Estado, o seu coirmão salesiano e cardeal Tarcisio Bertone, e esses vínculos também poderiam ser importantes.
E, por fim, voltamos para as Américas com o cardeal canadense Marc Ouellet, (nascido em 1944), religioso sulpiciano (isto é, pertencente à Companhia dos Padres de São Sulpício, fundada no século XVII), atual responsável pela poderosa Congregação para os Bispos, o dicastério vaticano que escolhe e submete ao papa os homens a serem postos no comando das dioceses de todo o mundo. A sua experiência é versátil em todos os sentidos. Lecionou em Roma no Instituto João Paulo II para o Matrimônio e a Família, foi diretor da revista teológica Communio, fundada por Joseph Ratzinger e Hans Urs von Balthasar, trabalhou no Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (que se ocupa do ecumenismo) e, além disso, antes de se tornar arcebispo do Quebec (cargo ocupado por oito anos, em confronto direto com uma sociedade profundamente secularizada), esteve por 10 anos na Colômbia, como reitor do seminário maior de Bogotá, gerido pelos sulpicianos. Para coroar esse currículo excepcional, há depois os seus dotes de poliglota, porque fala perfeitamente inglês, francês, italiano, espanhol, português e alemão.
Neste momento, parecem ser esses o "quarteto fantástico" do próximo conclave. Mas o passar do tempo embaralha todas as cartas, como sabem muito bem o arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, e o de Tegucigalpa, em Honduras, Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, considerados papáveis ainda em 2005, mas cujas cotações parecem inexoravelmente em baixa, o primeiro por causa da profunda crise da Igreja austríaca, e o segundo pelo apoio dado ao golpe de Estado militar em Honduras em 2009.
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O ''quarteto fantástico'' do Conclave - Instituto Humanitas Unisinos - IHU