28 Novembro 2011
Damasco coloca os jesuítas na mira. O governo sírio pediu nos últimos dias que as autoridades eclesiásticas expulsem do país o padre jesuíta Paolo Dall`Oglio, que atua há 30 anos na Síria e vive junto à comunidade monástica Mar Musa, católica de rito sírio, fundada por ele mesmo perto da cidade de Nabk, a cerca de 80 quilômetros ao norte da capital síria, Damasco.
A reportagem é do sítio Vatican Insider, 27-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Eu propus às autoridades sírias que me comprometeria menos com o fronte político e cultural e mais com o espiritual, de modo a poder evitar a expulsão do país", foi o que o religioso disse aos microfones da Rádio Vaticano.
Com relação à questão da expulsão, o Pe. Dall`Oglio afirmou: "A notícia é substancialmente exata: houve uma decisão do Estado sírio, que se segue a um parênteses à minha permissão de residência ainda em março passado e que agora chega a uma conclusão pouco feliz".
"Devo dizer – acrescentou o religioso –, com bondade, que o Estado sírio pediu ao bispo que atue de modo que seja uma questão simplesmente de polícia. O bispo, por enquanto, não está e, quando retornar, vai se ocupar disso. Eu proponho ao bispo – e propus isso ao Estado sírio na figura da sua mais alta autoridade – que aceito um tempo de meditação de minha parte, portanto, de um maior compromisso espiritual e menos no âmbito cultural e político, em troca – por assim dizer – de poder permanecer na Síria".
O jesuíta se destacou nestes meses difíceis por ter promovido uma posição de reconciliação nacional, de rejeição da violência e de abertura ao diálogo com as forças de oposição ao regime de Bashar al-Assad.
O que "irritou" o governo de Damasco foi a recente mensagem escrita pelo jesuíta para o próximo Natal e publicada nos últimos dias pela revista da Companhia de Jesus, Popoli. "Não sabemos como o nosso país vai ficar depois destes dias dolorosos para todos – escrevia o padre Dall`Oglio na mensagem de Natal – e ao mesmo tempo cheios de esperança e tristeza, entusiasmo e pessimismo, coragem e medo, sacrifício e crime".
"Estamos perplexos: poderá a nossa pátria conservar a sua unidade e de que forma? Os cidadãos – continuou – irão desfrutar de mais liberdade ou a perderão? Nosso povo irá obter uma democracia pluralista participativa, consensual, capaz de respeitar a todos, independentemente dos diversos aspectos da sua identidade? Ou, ao contrário, obterá um regime de opressão, onde o cidadão sofre injustiça em nome de uma maioria petrificada?".
Na mensagem, também se fazia referência ao papel dos cristãos e das comunidades religiosas: "Nesta crise, parece-nos que o nosso papel é o do diálogo, da mediação, da construção de pontes e do serviço da reconciliação". "A nossa escolha pela não violência nasce, talvez, do medo e da fraqueza – questionava o jesuíta – ou de uma virtude e de uma decisão? Talvez as duas coisas! Todavia, o medo nos subjugou durante muito tempo no passado e até hoje, e é isso que impulsiona alguns de nós a continuar tomando uma posição em favor da repressão das liberdades, da rejeição da mudança e do recurso e do apego ao passado".
"Pode ser esse – questionava Dall`Oglio – o caminho da salvação e da verdade? Por outro lado, anda, talvez, no caminho da esperança e da verdade aquele que escolhe perpetrar assassinatos com base na carteira de identidade, cometer sequestros ou assumir outros comportamentos criminosos?".
O religioso afirmava, portanto, que, "naturalmente, há um complô, ou melhor, complôs, mas a nossa salvação não consiste em nos deixar levar pela lógica dos complôs. A nossa salvação, ao contrário, está em buscar a colaboração com os homens livres e de boa vontade, seja na região, quanto no mundo".
"Isso é impossível sem acolher em verdade e sinceridade os diversos meios de comunicação, tanto árabes, quanto estrangeiros. De fato, a verdade se mostra através do pluralismo e da independência da imprensa", destacava, por fim, o jesuíta. "Ousamos também propor que se peça a ajuda de instituições humanitárias independentes como a Cruz/Meia Lua Vermelha para que ajudem o povo sírio, o nosso povo, a conseguir a interrupção do conflito armado e a proteção dos civis inermes".
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Governo da Síria pede expulsão de jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU