24 Outubro 2011
No dia 23 de setembro, foi iniciada a semana de jejum e oração organizada pela comunidade de Deir Mar Musa, em favor da reconciliação na Síria. Em uma carta enviada por Paulo Dall"Oglio, jesuíta e fundador da comunidade, são apresentadas as dificuldades e as esperanças de quem participa da iniciativa.
A reportagem é da revista dos jesuítas italianos, Popoli, 29-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Hoje é o terceiro dia que passamos a água (ou melhor, mais precisamente, a chá...). Hoje de manhã, eu não estava bem, mas agora me recuperei. Depois do pôr-do-sol, eu começo a beber novamente. Somos um pequeno grupo de monges e monjas, mais alguns amigos, outros fazem a primeira refeição depois do pôr-do-sol e asseguram os serviços para todos. Os muçulmanos também jejuam. Recebemos jovens que buscam, através desse exercício espiritual, renovar a esperança.
Na página do mosteiro no Facebook, buscamos prestar contas das reflexões cotidianas produzidas pela oração em comum no lugar do almoço.
Ontem, Michel Kilo veio com sua esposa, e foi muito comovente. Ele gostou do nosso logotipo, que reúne as cores nacionais com o desejo de paz e o respeito pelas muitas vítimas e suas famílias.
A senhora embaixadora da Bélgica se uniu a nós para um dia de jejum. Pedi-lhe para que aja para que seja possível uma transição sem guerra civil e sem divisão. Os sírios não merecem isso!
Alguns dias atrás, houve um boato (pelo que eu saiba, infundado) de que o embaixador dos EUA queria visitar o mosteiro. Na estrada de acesso, foi organizada uma manifestação em favor do poder sírio com um posto de bloqueio para impedir que o diplomata viesse até aqui.
Há muito tempo, acusações indiretas, mas graves e injustas, me são dirigidas. Eu seria um colaborador do intervencionismo ocidental orquestrado pelo sionismo. No entanto, é um fato que, em 2003, jejuamos contra a intervenção armada norte-americana (mais aliados, incluindo a Itália) no Iraque. As minhas posições "anti-imperialistas" foram impressas e divulgadas ao longo dos últimos 30 anos.
Mas eu certamente não concordo com aqueles que consideram que as questões da democracia e dos direitos humanos se referem exclusivamente às populações envolvidas e não devem interessar a comunidade internacional. O cinismo do não intervencionismo comercial e comerciante de armas sempre me escandalizou. Muitas vezes são os próprios comerciantes que apoiam e incitam os conflitos armados. Sobre o violento expansionismo sionista, além disso, eu nunca fui suave! Porém, eu ficaria feliz por fazer alguma coisa pela pacificação da região e entre os filhos de Abraão...
Neste momento, se eu pudesse expressar um desejo, que só se realizaria se eu continuasse jejuando até a morte, seria o de obter uma verdadeira, protegida e internacionalmente garantida liberdade de informação (também para a árabe e estrangeira) e de opinião neste país, a fim de permitir um exercício não violento do direito de manifestar pacificamente meu próprio dissenso e favorecer aquela transição democrática sem vinganças a que a grande parte do país já aspira.
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Jejum e oração pela reconciliação da Síria. Depoimento de um jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU