23 Novembro 2011
A Igreja Anglicana entra em campo unida contra o governo de centro-direita liderado por David Cameron. Até agora, as críticas às políticas sociais do Partido Conservador e do seu aliado liberal-democrata foram frequentes, mas sempre expressadas a título pessoal, por expoentes individuais da hierarquia religiosa britânica. Mas neste domingo, o jornal Observer hospedava uma carta aberta assinada por 18 bispos representando 43 dioceses, com o aval das duas autoridades máximas do clero inglês, os arcebispos de Canterbury e de York. Sob acusação, os cortes indiscriminados do welfare e, especialmente, as consequências que produzirão sobre as inúmeras famílias pobres.
A reportagem é de Gabriel Bertinetto, publicada no jornal L`Unità, 21-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A crise econômica não é uma invenção dos herdeiros de Margaret Thatcher. Mas, para sair dela, o Chanceler do Tesouro (ministro das Finanças), George Osborne, propõe receitas indigestas à maior parte da população, especialmente porque as classes mais ricas são substancialmente isentadas dos sacrifícios.
No programa, embora não imediatamente, está até a abolição da alíquota de 50% introduzida pelo executivo trabalhista anterior encarregado das rendas mais altas. No perfeito estilo ultraconservador, além disso, está o "não" seco pronunciado há alguns dias à proposta da chanceler alemã, Angela Merkel, para uma ação coordenada em nível europeu e a introdução de um imposto sobre as transações financeiras (Tobin Tax).
Assim, depois de um ano e meio no poder, enquanto as estatísticas descrevem um país assolado pela taxa de desemprego mais alta já conhecida desde 1994 (8,1% em escala nacional, mais de 20% entre os menores de 25 anos), Cameron e Osborne encontram-se diante de um protesto popular crescente, que vai do mundo religioso até os indignados do movimento Occupy.
Nesse clima, a Grã-Bretanha se aproxima do dia 30 de novembro, dia em que todas as atividades serão paralisadas pela greve mais massiva "da última geração", nas palavras de Brendan Barber, líder da TUC (Confederação das Trades Unions – Sindicatos).
Pelo menos dois milhões de funcionários públicos cruzarão os braços para protestar contra uma reforma do sistema previdenciário que, dizem os sindicatos, significa para os trabalhadores "mais anos de trabalho e tributos mais altos a pagar, para depois receber uma pensão inferior no futuro". Escolas, tribunais, hospitais, escritórios estaduais e municipais serão fechados. "Uma ação absolutamente inapropriada e irresponsável" para o ministro Francis Maude, dado que "as negociações ainda estão em curso". Mas o ministro-sombra da Economia, Ed Balls, replica acusando o governo de ter "provocado" os sindicatos com negociações prolongadas e propostas confusas. Afirmação ainda mais significativa visto que o próprio Partido Trabalhista, até recentemente, criticava os sindicatos por terem proclamado com tanta antecipação a greve, em vez de tentar arrancar concessões na mesa de negociação.
E é Balls ainda que se inclina do lado dos bispos na polêmica com o governo, defendendo que "eles centraram o objetivo". Porque, explica, é justo limitar os excessos do assistencialismo, mas "não se pode fazer isso atingindo os mais pobres e jogando-os fora de casa". A imagem usada por Balls corresponde à previsão dos efeitos perversos que produziriam 7 bilhões de libras esterlinas que Osborne pretende subtrair, a partir de 2013, dos fundos destinados aos subsídios de desemprego, aos abonos familiares, aos aluguéis de casas populares, aos tratamentos domiciliares para os idosos, e assim por diante. Um estudo encomendado pelos municípios da capital estima que apenas em Londres 133 mil famílias já não seriam mais capazes de pagar o aluguel.
Para juntar esses 7 bilhões, Osborne projetar fixar um valor máximo à soma que qualquer núcleo de habitação pode receber, independentemente da diversidade das situações. Não se poderá ir além das 500 libras esterlinas por semana. O número pode parecer elevado, mas se revela modesto ou insuficiente no caso de famílias numerosas, especialmente se os pais não trabalham. A Children`s Society, uma associação de apoio à criança, calcula que 80 mil das 210 mil crianças que atualmente se beneficiam com as ajudas especiais ficaram sem teto. Esse é o chamado "conservadorismo compassivo" do qual às vezes os dirigentes do Tory o primeiro-ministro Cameron se orgulham.
Tudo isso será abordado nesta segunda-feira na Câmara dos Lordes, em uma sessão que será particularmente intensa. Em discussão, estarão algumas emendas ao Welfare Reform Bill, preparadas pelo bispo de Ripon e Leeds, o reverendo John Packer. Ele define como "incomum" a iniciativa da carta aberta. Mas o texto da lei sobre o welfare proposto pelo governo, afirma ele, contém medidas que poderiam "criar danos notáveis às crianças, especialmente aquelas que vivem em famílias numerosos, algo do qual não tem nenhuma culpa".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Welfare: Igreja Anglicana acusa Cameron - Instituto Humanitas Unisinos - IHU