14 Novembro 2011
Fala o cardeal Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz: "O texto não é um dogma: não nos perdoam por ter colocado em dúvida o capitalismo liberal".
A reportagem é de Antoine-Marie Izoard, publicada no sítio Vatican Insider, 11-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Se a nota publicada no final de outubro pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz para propor a criação de uma autoridade pública mundial, a fim de remediar a atual crise financeira, recebeu uma acolhida tépida dentro da Cúria Romana, o cardeal Peter Turkson acredita que o seu dicastério simplesmente fez o seu dever. O cardeal de Gana se pergunta se ele não tem sido criticado por ter posto em dúvida o capitalismo liberal.
No último dia 24 de outubro, o Conselho Pontifício Justiça e Paz apresentou à imprensa uma nota sobre a "reforma do sistema financeiro internacional na perspectiva de uma autoridade pública de competência universal". Segundo várias fontes, esse documento teria desencadeado a ira do secretário de Estado e do próprio papa, que consideram que o dicastério do cardeal Turkson não tenha recebido o encargo de realizar essa análise, apresentada à imprensa na véspera da cúpula do G20 de Cannes. O vaticanista italiano Sandro Magister defende, em particular, que esse documento "desconcertou muitas pessoas, no Vaticano e em outros lugares", "que está em flagrante contradição com a encíclica Caritas in veritate do Papa Bento XVI" e que já não será mais publicado nenhum texto "sem controle e autorização preliminares da Secretaria de Estado".
"Sobre uma nota como essa – e nós a publicamos há muito tempo, sobre o ambiente, sobre racismo etc. –, ninguém nos perguntou se tínhamos recebido a aprovação do Vaticano", defende-se o cardeal Turkson.
O alto prelado se pergunta se não está sendo criticado, na realidade, por ter "posto em dúvida o capitalismo liberal". Quando lhe foi perguntado se ele se uniu aos "indignados" que se manifestam contra a crise financeira em todo o mundo, o cardeal Turkson respondeu: "Eu não saí às ruas. Nós simplesmente fazemos o nosso trabalho: temos o direito de divulgar a doutrina social da Igreja e de promover estudos como esse".
"O Santo Padre, quando ele escreveu livros de teologia sobre Jesus, não assina como papa, mas como Joseph Ratzinger. Ele desenvolve um trabalho como teólogo, que pode ser posto em discussão por outros teólogos", explica o presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz. "Do mesmo modo – continua –, tudo o que provém do dicastério não é dogma ou fé. Publicamos essa nota para abrir um debate na véspera do G20 de Cannes e para enfrentar a crise que estamos atravessando há muito tempo".
Questionado sobre as reações à nota, o cardeal Turkson afirma: "Há aqueles que nos aplaudem e que nos dizem: "Agora tenho orgulho de pertencer à Igreja Católica"; há também aqueles que estão menos contentes. E depois há quem diga que traímos o ensinamento do Papa Bento XVI, já que ele nunca falou de uma autoridade política".
"Mas é preciso ler o documento do papa", observa o cardeal Turkson, abrindo a encíclica Caritas in veritate, na qual o papa afirma que é "urgente instituir uma verdadeira autoridade política mundial".
"Se, por causa das reações ao documento, o secretário de Estado decidisse que as nossas análises devem ser revistas, isso não seria um problema para mim", assegura ainda o cardeal Turkson, que afirma estar no Vaticano "para servir o papa" e diz ainda não ter "recebido nenhuma comunicação desse tipo".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"Era um dever publicar a nota sobre a autoridade pública mundial", afirma cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU