03 Novembro 2011
Os conservadores norte-americanos se insurgem contra o Vaticano "indignado". Nos EUA, a direita católica contesta o documento com o qual o Pontifício Conselho "Justiça e Paz" invoca uma autoridade política única para regular os mercados mundiais. Na Cúria, responde-se afirmando que o documento (em continuidade com a encíclica social de Bento XVI, Caritas in veritate) não se desviou para a esquerda, acolhendo instâncias terceiro-mundistas, nem defendeu a trincheira liberal-liberalista bombardeada pela crise planetária. Em suma, ele nada mais é do que a leitura atualizada da tradicional doutrina católica da terceira via.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 01-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas, nos EUA, a direita católica pensa diferente. No National Review Online, um renomado site conservador, o intelectual "teocon" George Weigel limita a importância do texto e protesta com aqueles que querem reduzir o pontífice a "capelão do Occupy Wall Street". São "tolices", defende: "A verdade em todo esse caso é que "o Vaticano" (se com expressão se entende o papa, a Santa Sé, o ensinamento de autoridade do Magistério e as estruturas centrais de governo da Igreja) não tem nada a ver com isso. O documento é uma nota emitida por um escritório muito pequeno da Cúria. O documento não fala em nome do papa, não fala em nome do Vaticano e não fala em nome da Igreja Católica".
Além de tentar minimizar o porte do pronunciamento da Santa Sé, jornais e think tanks dos setores conservadores da Igreja norte-americana negam que seja possível e vantajoso uma drástica regulação das finanças globais. A galáxia, associativa e telemática, da direita cristã está em revolta.
A Associação Patriótica Católica, que se expressa através do blog CatholicVote.org, assinala que se trata de "uma nota burocrática da Cúria, não um decreto doutrinário do papa".
A Catholic League, de Bill Donahue, analisa o texto para demonstrar que não é perceptível a mão de Bento XVI: "Acima de tudo, não é uma encíclica, não é obra do papa. Uma grande parte do que é dito está em linha com o ensino social da Igreja há anos. A declaração usa os termos de autoridade supranacional e de instituição supranacional. Esses termos são simplesmente neologismos dos autores, o cardeal Turkson e o arcebispo Toso".
Thomas Peters, expoente de primeiro plano do site American Papist, atribui a responsabilidade da suposta "deriva à esquerda" da Santa Sé aos católicos de esquerda, que não entenderam o documento do Pontifício Conselho "Justiça e Paz". Os católicos progressistas, segundo o American Papist, "regularmente, e particularmente neste caso, buscam ler a doutrina social da Igreja como dogmática, e o ensino moral e religioso da mesma Igreja como opcional: de fato, a própria Igreja sempre tem o cuidado de indicar que o segundo é dogmático e obrigatório, enquanto a sua doutrina social é exortativa e prudente".
Na Cúria, rebate-se que o texto contestado oferece uma síntese global da doutrina social da Igreja com o seu ensinamento sobre a economia a serviço do homem, no confronto acirrado entre mercado e democracia. E, para o Vaticano, cabe à política dar as regras, apesar das resistências da direita norte-americana, que se inspira sobretudo na First Things, influente revista doutrinariamente ortodoxa (fundada por Richard John Neuhaus, ex-pastor luterano e depois sacerdote católico, e atualmente dirigida por R. R. Reno, professor de teologia da Creighton University).
Até agora, os "teocons" norte-americanos se propuseram a manter firme a "catolicidade norte-americana, que às vezes transpira pelagianismo", agora que, no tabuleiro mundial, forçam a hierarquia eclesiástica para a direita e pretendem até corrigir a Santa Sé. Um roteiro já experimentado há alguns anos na polêmica interna da Pontifícia Academia para a Vida sobre a excomunhão dos médicos no caso de uma menina de nove anos, engravidada depois de um estupro e que foi submetida a um aborto por estar em risco de morte.
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Vaticano "indignado" enfurece a direita católica dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU