17 Outubro 2011
"Foi o papa quem quis os ateus em Assis". O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, de retorno de Bucareste, onde recebeu um diploma honoris causa e presidiu um encontro do Átrio dos Gentios, explica aos jornalistas os programas e projetos do seu dicastério. E explica também como nasceu a ideia de convidar, para o encontro inter-religioso de oração pela paz em Assis, no 25º aniversário do encontro liderado por João Paulo II em 1986, alguns não crentes.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vaticano Insider, 14-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Foi uma ideia de Bento XVI – diz o purpurado de Milão –, e ele mesmo a apresentou durante um encontro com alguns cardeais em vista da preparação de Assis". Com isso, explica Ravasi, "Ratzinger mostra levar em grande consideração um antigo ensinamento da teologia cristã: o homem é constituído de natureza e sobrenatural. O sobrenatural não remove ou destrói a natureza, mas a aperfeiçoa. Isto é, coloca-se como um elemento ulterior, mas não elimina a natureza humana. Portanto, no convite do papa, está a tentativa de reafirmar a importância da relação entre fé e razão".
Os quatro ateus que irão participar em Assis são a psicanalista e filósofa francesa Julia Kristeva (que irá falar perante Bento XVI), o pensador italiano e professor de filosofia na Universidade da Califórnia de Los Angeles, Remo Bodei, o filósofo britânico Anthony Grayling, que instituiu o New College de letras e filosofia de Londres, o mexicano Guillermo Hurtado, fundador do segundo período da revista de história e filosofia Dianoia. No dia anterior ao encontro de Assis, 26 de outubro, os quatro irão participar de uma mesa redonda na sala magna da Reitoria da Universidade Roma 3.
Traçando um primeiro balanço – positivo – o Átrio dos Gentios, iniciativa de diálogo com os não crentes desejada pelo pontífice, Ravasi não escondeu também um limite e um problema: "Eu percebi – afirma – que o problema certamente não é mundo ateu, que dialoga em alto nível e certamente não considera a religião como um elemento de subdesenvolvimento, mas sim a indiferença, a apatia, a ausência de perguntas, a banalidade e às vezes a vulgaridade... Em suma, precisamos nos confrontamo-nos com um horizonte mais difícil, uma espécie de mucilagem".
Além de apresentar os próximos eventos, como o que está programado para novembro em Florença (um debate entre Moni Ovadia e Sergio Givone, e entre Erri de Luca e Antonio Paolucci), Ravasi também respondeu a perguntas sobre os possíveis horizontes futuros do "Átrio", falando particularmente do Oriente Médio. "É um sonho meu – explicou – abrir um diálogo no território do mundo que é, em absoluto, o mais árduo mas também o mais criativo, porque ali há religiões que vivem o seu caráter fortemente identitário, mas também estão crescendo forças seculares nas sociedades. Seria bom poder levar um diálogo desse gênero entre crentes e não crentes a Israel, lá onde havia o átrio dos gentios original.
Finalmente, Ravasi e os seus colaboradores apresentaram o novo site do Átrio dos Gentios (www.cortiledeigentili.com) e também a sua chegada ao Twitter, onde o cardeal (cujo perfil é @CardRavasi) envia um pensamento bíblico diariamente, além de mensagens relacionadas à sua presença nos encontros e nos diálogos.
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"Ateus em Assis? É o desejo do papa", afirma cardeal Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU