12 Outubro 2011
O Átrio dos Gentios retorna em um outono [europeu] rico de encontros. Primeiro com o encontro de Bucareste nos dias 11 e 12 de outubro.
A reportagem é de Armando Torno, publicada no jornal Corriere della Sera, 08-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Gianfranco Ravasi, em visita à Romênia como ministro da Cultura do Vaticano, além dos colóquios e debates previstos, receberá um doutorado honoris causa da universidade da capital romena. A sua lectio magistralis será seguida de um diálogo com o físico e filósofo Horia-Roman Patapievici. E depois, no dia 12, haverá cinco intervenções de intelectuais romenos sobre o tema "Humanismo e espiritualidade". O subtítulo dessas conferências é uma pergunta estimulante: "É possível um diálogo sobre a transcendência?".
Ravasi nos confidencia: "Em Bucareste, tenho a intenção de falar nesses grandes eventos sobre Cioran e Ionesco, figuras ideais de um agnosticismo ou ateísmo marcado profundamente pela pergunta". Ele se detém em uma frase de Cioran: "Sempre girei em torno de Deus como um delator. Incapaz de invocá-lo, o espiei". E afirma: "Gostaria de apresentar a figura daquele que gira ao redor do átrio dos crentes e que busca o seu centro. Embora em outro texto seu ele chegue ao paradoxo segundo o qual "o nome de Deus é o Nada, isto é, Tudo", por toda a sua vida ele realizou essa obra de espionagem".
Além disso, dizíamos, Ionesco. O cardeal acrescenta: "Eu o apresentarei começando por uma declaração que ele fez em uma entrevista. Esta: "Todas as vezes em que o telefone toca, eu corro na esperança, todas as vezes desiludida, de que possa ser Deus me telefonando. Ou pelo menos um dos seus anjos de secretaria". Nele havia continuamente a esperança de uma epifania do divino. E, pouco antes da morte, no final de seu Diário, na última linha, há uma frase fulgurante. É a resposta a essa espera: "Rezar não sei para quem. Espero: Jesus Cristo".
O Átrio dos Gentios retorna a Florença, no dia 17 de outubro. É uma etapa obrigação desse projeto. Além disso, nas margens do rio Arno, realizou-se um milagre cultural, na época de Lorenzo, o Magnífico, que é comparado ao que ocorreu na Atenas de Péricles. No Palazzo Vecchio, no Salone dei Cinquecento, Antonio Paolucci, Moni Ovadia, Sergio Givone, Erri De Luca, Antonio Natali e, obviamente, o cardeal Ravasi irão falar sobre "Humanismo e beleza ontem e hoje".
Sua Eminência lembra a característica desse encontro: "O compromisso principal que eu gostaria de realizar entre arte e fé é reencontrar a sua irmandade radical, segundo a convicção expressa por Paul Klee: "A arte não representa o visível, mas o Invisível que se esconde no visível"". E depois de uma breve pausa, o purpurado explica: "Essa também é a meta da fé".
No dia 26 de outubro, um dia antes do encontro de Assis entre o papa e os representantes das grandes religiões (ao qual também são convidados não crentes, sejam eles ateus e agnósticos), o Átrio dos Gentios organiza uma mesa-redonda na Universidade de Roma Tre, com Giacomo Marramao. O tema está ligado à iniciativa do pontífice. Por essa razão, se responderá à pergunta: "Por que os ateus aceitaram o convite do papa?".
Entre os palestrantes estão Julia Kristeva, Remo Bodei, o filósofo mexicano Guillermo Hurtado, Anthony Graylings (da Academia Real Inglesa), Walter Baier (que já deteve cargos no mundo comunista), além do cardeal Ravasi. No dia 27, os relatores do Átrio dos Gentios "preparatório" participarão da jornada com Bento XVI.
Neste ano, os encontros inter-religiosos em Assis completam o seu 25º aniversário. Com o tempo, cresceram, ou melhor, já representam uma referência não apenas para o mundo da fé. O título escolhido para 2011 é "Peregrinos da verdade, peregrinos da paz".
Nos dias 14 e 15 de novembro, será a vez de Tirana, ou seja, o início de um diálogo com a Albânia. O Átrios dos Gentios começará à noite no pátio da catedral – um pouco como se fez em março passado em Notre Dame, em Paris – e irá abordar três temas: "Trabalho", "Espiritualidade", "Informação e comunicação". As falas, no dia seguinte, serão realizadas na Universidade Estadual de Tirana e, à tarde, em uma instituição privada, a Universidade Europeia.
Entre os nomes, não faltarão o escritor Ismail Kadare e o acadêmico e cientista Luan Omari, aos quais deve ser acrescentado também um especialista em história religiosa, além de deputado do Parlamento: Mark Marku.
Ravasi resume o sentido do encontro: "Aceitei o convite que vinha diretamente da Albânia por uma razão histórica: na época moderna, essa nação representa provavelmente o único Estado que colocava o ateísmo como artigo fundamental da Constituição. O pedido veio do professor de ateísmo da Universidade de Tirana, que ainda ensina essa matéria, mas ele é católico e teólogo".
O que dizer? Mesmo nos países do ex-bloco comunista, casos do gênero não são excepcionais. Ravasi especifica a esse respeito: "Tendo contatos continuamente com pessoas que ignoram ou rejeitam a fé, estou cada vez mais convencido da declaração do escritor francês Pierre Reverdy, que afirmava: "Há ateus de uma aspereza feroz que, no fim das contas, se interessam por Deus muito mais do que alguns crentes frívolos e levianos".
Despedimo-nos de Sua Eminência enquanto ele profere uma última frase, que também será objeto de reflexão. É de Giorgio Caproni: "Meu Deus, por que não existes? Por fúria de insistir, procura existir".
Mais informações em www.cortiledeigentili.com.
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A dúvida e a fé: apostas de Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU