06 Outubro 2011
As manifestações, que têm como epicentro o distrito financeiro nova-iorquino, se estendem a outras cidades, de Los Angeles até Maine. O magnata George Soros mostrou-se compreensivo com a briga dos indignados.
A reportagem está publicada no jornal argentino Página/12, 04-10-2011. A tradução é do Cepat.
Boston, Los Angeles, Chicago, Seattle e Maine se somaram à briga dos indignados de Nova York, que há duas semanas estão acampados no coração financeiro de Manhattan, onde já demonstraram que não pensam em ceder nas suas reivindicações, apesar das massivas prisões realizadas pela polícia durante o fim de semana. A criatividade demonstrada pelos estudantes chilenos – plasmada na coreografia de Thriller, o sucesso dos anos 80 de Michael Jackson – contagiou centenas de manifestantes que coreografaram frases para protestar contra a abatida economia norte-americana. Por isso, na segunda-feira percorreram novamente as ruas de Nova York, rumo à Prefeitura da cidade. Desta vez o fizeram disfarçados "zumbis corporativos". A ideia do movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street) era marchar com o rosto pintado de branco, os lábios manchados de sangue e comendo dólares do jogo Monopoly, dando as boas-vindas aos agentes de câmbio e financistas que chegavam para trabalhar, como um ato que reflete a metáfora de suas ações.
Os indignados norte-americanos procuram assim protestar contra a brutalidade da polícia nova-iorquina, que no sábado prendeu 700 membros do novo movimento que bloquearam a ponte do Brooklyn. Os manifestantes, que se pronunciam contra a cobiça dos bancos e a desigualdade social, estão cada vez mais organizados: estão com seus computadores sempre ligados na zona onde acampam dando a entender que estão dispostos a permanecer ali por um bom tempo. "O movimento Occupy Wall Street nos Estados Unidos – que exorta para a ocupação da Bolsa de Valores de Nova York – não tem um líder definido nem um propósito específico, mas conseguiu cativar suficiente atenção para começar a ganhar adeptos e estender-se pelo país", assinalou ontem a BBC.
O comparecimento do multimilionário investidor George Soros tomou a todos de surpresa. Ele garantiu que compreende a frustração que levou os indignados de Nova York a se manifestarem contra Wall Street e reconheceu que esses protestos vão se alastrar pelos Estados Unidos. "Eu entendo os seus sentimentos", assegurou Soros para a imprensa na sede da ONU em Manhattan. Ali se mostrou em público para mostrar o apoio de sua fundação a vários projetos humanitários para fomentar a continuidade dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em vários pontos da África. O investidor de origem húngara mostrou-se contido ao assinalar que entende o mal-estar que empurrou milhares de manifestantes para protestar contra o que chamam de avareza de Wall Street, já que há muitas pessoas sofrem em decorrência das medidas aplicadas pelos bancos.
"Há muitos pequenos empresários que viram como os juros de seus cartões de crédito subiram de forma espetacular durante a presente crise", ensaiou o magnata uma explicação, e assegurou que "essas pessoas dependem do crédito para continuar seus negócios, razão pela qual muitos tiveram que fechar as portas". Soros assinalou, por sua vez, que "simpatiza com os protestos" dos indignados, especialmente aqueles contra o sistema financeiro. E garantiu que a população viu como nesta crise se ajudou os bancos, entidades que "voltaram a ter lucros e a quem se permitiu obter prêmios extraordinários". O investidor explicou que a razão do nascimento destes protestos se deve precisamente ao contraste dessas duas realidades.
Van Jones, ex-assessor do presidente Barack Obama, se somou às opiniões de Soros e opinou sobre o convulsionado presente vivido pelos Estados Unidos. Jones chamou os ativistas progressistas dos Estados Unidos a agir como o Tea Party com a finalidade de recuperar a cena que o movimento ultraconservador conquistou nos últimos dois anos. "Sofremos uma ofensiva de um grupo neste país, onde as piores pessoas dos Estados Unidos com as piores ideias dominaram os debates", disse o dirigente democrata na abertura de uma conferência em Washington de três dias com um único objetivo: Take Back the American Dream (Recuperar o sonho norte-americano).
"Não estou com raiva do Tea Party, não estou com raiva deles (com os indignados) por gritarem tanto, estou com raiva de nós por estarmos calados", disse. "Como vimos uma primavera árabe, veremos um outono norte-americano", sentenciou o ambientalista.
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Os indignados norte-americanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU