23 Setembro 2011
O Papa Ratzinger chegou nesta manhã à maior cidade turca do Ocidente: Berlim. O chefe de Estado, Christian Wulff, é um católico divorciado e em segunda união. O prefeito Klaus Wowereit é um gay declarado. O presidente do Bundestag, Norbert Lammer, é um democrata-cristão, que recém assinou um texto em que pede que seja examinada a hipótese de um clero casado. Na sexta-feira, em Erfurt, no convento agostiniano onde Martinho Lutero se formou, uma mulher vai acolhê-lo em nome do Sínodo das Igrejas Evangélicas Alemãs. Bento XVI chega a uma nação onde a comunidade mais forte é a dos indiferentes e dos "não pertencentes" a nenhuma religião: 40% da população. É a secularização, rapaz!
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 22-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A polícia declarou o grau de alerta número um. Alerta total, como só ocorreu para os chefes de Estado dos EUA, Rússia, Israel e Afeganistão. No Bundestag, o Parlamento federal, espera-se um discurso sobre Deus e a Europa. Em Erfurt, a cúpula dos protestantes espera por um impulso, embora pequeno, ao diálogo ecumênico. Em Friburgo, última etapa, Bento XVI se encontrará com o Comitê Central dos Católicos Alemães, a influente organização que reúne o laicato católico.
Os problemas levantados pelo catolicismo de base e resumidos no memorando dos 300 teólogos representam um desafio para o pontífice de Roma. Na Cúria, os ratzingerianos de origem defendem que as demandas do memorando são "as mesmas coisas de sempre da contestação na Alemanha". Mas o professor Gerhard Kruip, professor de antropologia cristã e ética social da Universidade de Mainz, rebate em nome dos signatários. "São problemas que se arrastam há 50, 60 anos, e é preciso enfrentá-los finalmente. Estamos em um impasse das reformas. Enquanto isso, os fiéis se afastam, por não se encontrar mais em casa na sua Igreja".
Os problemas não são apenas alemães, mas são sentidos também na América Latina e em outras partes do mundo. "Aumenta a distância entre os fiéis e a Igreja institucional". Kruip explica que o Vaticano "não leva em consideração as Igrejas locais, não escolhe os bispos mais orientados em um sentido pastoral, não concede o nada obsta a teólogos muito livres, não permite a discussão sobre as questões mais ardentes. Tudo se torna tabu".
Discutir sobre o clero – casado ou não – é crucial, porque muitas vezes um único padre tem que correr entre quatro paróquias. "Torne-se um caixeiro viajante dos sacramentos". Não mais um "pastor de almas", ponto de referência respeitado, sempre pronto para ajudar. É a ruptura da secular tradição do pároco católico.
E como fechar os olhos diante das tantas jovens católicas que vão embora dizendo: "Não posso me envolver com uma Igreja que, por princípio, exclui as mulheres das funções principais"? Pergunto a Kruip o que ele espera. "Estou incerto. Espero que o papa diga que a Igreja se mexe e as reformas são possíveis. Gostaria que ele nos trouxesse esperança e não a perda da esperança".
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