18 Julho 2011
"Meu colete à prova de balas? É a cruz peitoral. Em vez disso, a coroa do Rosário é a minha pistola, equipada com 50 peças. O amor do povo é a minha arma preferida para me defender".
A reportagem é de Fabio Marchese Ragone, publicada no sítio Vatican Insider, 15-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, 68 anos, salesiano, arcebispo de Tegucigalpa, capital de Honduras, brinca, apesar do risco que corre. Há poucos dias, o cardeal falou na Comissão de Verdade e Reconciliação, instituída para lançar luz sobre o golpe de Estado que, em 2009, destituiu o presidente Manuel Zelaya em seu país.
Maradiaga, que sempre se declarou a favor do golpe, durante a sessão, criticou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que "tinha em mente um plano para sequestrá-lo". O cardeal, considerado um dos papáveis ainda no conclave de 2005, defendeu perante a comissão que recebeu telefonemas ameaçadores e ameaças de morte durante o período depois do golpe e que parece que Chávez pediu a Zelaya (referindo-se a ele): "Sequestrem esse filho da mãe, e vocês vão ter a Igreja e o Estado de joelhos". O mesmo Chávez que, há poucos dias, anunciou na televisão que está com câncer e que quer lutar para se curar dessa doença.
Eis a entrevista.
Eminência, o senhor está rezando pela recuperação de Hugo Chávez, apesar de tudo o que foi dito?
Às vezes, uma doença pode ser uma ocasião para se encontrar com Deus e para reconhecer os próprios erros. A caridade cristã nos pede que rezemos por todos, sobretudo pelos doentes.
O senhor sempre foi a favor do golpe, apesar de ir contra muitos, entre eles o presidente venezuelano Hugo Chávez. Como estão as relações atualmente?
Depois dos acontecimentos de 2009 em Honduras, as coisas melhoraram, e temos mais paz. O novo governo tentou com sucesso a reconciliação nacional. Além disso, nosso novo presidente, Porfirio Lobo, teve muita coragem: foi convidado para uma reunião que Chávez realizou com o presidente colombiano Santos, em Cartagena. E, nessa ocasião, o presidente venezuelano e Lobo apertaram as mãos. Todos vimos a foto!. Um gesto muito importante para o reconhecimento do novo governo. Depois do acordo de Cartagena, Manuel Zelaya retornou a Honduras e agora está tentando fundar um novo partido. Como consequência, a OEA (Organização dos Estados Americanos) voltou a admitir Honduras, com a totalidade de votos a favor, com exceção do Equador que votou contra.
Mas houve muitas ocasiões, durante o golpe (e até depois), em que o senhor arriscou a sua vida...
Graças a Deus, as coisas estão melhorando, e eu não me sinto em perigo, embora sempre me movo com prudência, nunca sem medo. De fato, sempre me desloco de carro com um policial. No dia em que o presidente Zelaya, destituído, abandonou o país, a polícia me informou que havia um plano para pôr uma bomba na minha casa. Nesse mesmo dia, explodiu uma em uma casa vizinha. Erraram de endereço! É claro que Dom Bosco me protege.
Aqueles que queriam vê-lo morto nunca se detiveram...
É verdade. Sujaram umas 26 vezes as paredes da catedral com insultos. Eles atiraram contra a minha janela, mas eu continuo com o meu povo. A droga e os traficantes quiseram se apoderar do país, mas não vão conseguir! Estamos unidos na luta contra esse mal.
A comunidade internacional lhes ajuda?
É claro, há muita solidariedade, sobretudo por parte da Cáritas. Em março passado, eu vivi uma formosa experiência na Calábria: depois de um encontro que tive com os estudantes, eles decidiram arrecadar fundos para nos ajudar a reconstruir casas para os mais pobres. E conseguimos construir cinco!
O senhor arrisca a sua vida todos os dias. Alguém insinuou que o senhor abandonaria Honduras por motivos de segurança. O senhor estaria disposto a abandonar o país?
Acredito que estamos nas mãos de Deus, que me ama e quer o melhor para todos nós. Ele me chamou para servir o povo, e eu nunca fugiria dessa missão. Mas sou sempre um cardeal, e tenho que obedecer ao Santo Padre. Mas, até agora, ninguém me pediu para abandonar Honduras.
Qual é o seu maior sonho?
Contar com mais sacerdotes para servir os jovens. Cerca de 42% da nossa população é formada por jovens com menos de 15 anos. Temos pouco mais de 400 sacerdotes, e seria necessário pelo menos o dobro. Apesar disso, a cada ano temos mais seminaristas. Isso nos dá grandes esperanças. Depois, espero que o papa venha nos visitar em breve! Convidamo-lo na nossa primeira visita "ad limina" em 2007. Gostaríamos muito de contar com a sua presença. O povo o ama!
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"Chávez queria que me sequestrassem. Agora rezo pela sua recuperação" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU