09 Julho 2011
Depois das polêmicas geradas por uma recente entrevista, a agência Zenit publica uma carta em que o patriarca português explica seu pensamento.
A reportagem é do sítio Vatican Insider, 08-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele tinha falado sobre o sacerdócio para as mulheres nos últimos dias. Agora, o cardeal José Policarpo, patriarca de Lisboa, retorna sobre as declarações feitas à revista portuguesa Ordem dos Advogados e explica a sua posição. Em uma carta publicada pela agência Zenit, o guia espiritual de Lisboa esclarece que, sobre a ordenação sacerdotal de mulheres, ele está "em comunhão com o papa".
Na entrevista, interpelado pela questão, o purpurado afirmou que, em sua opinião, "teologicamente não há nenhum obstáculo fundamental" à ordenação de mulheres, embora destacou que "não há neste momento nenhum Papa que tenha poder para isso. Isso traria tensões, e só acontecerá se Deus quiser que aconteça e se estiver nos planos Dele acontecerá".
Em sua explicação, o cardeal Policarpo reconheceu que "nunca tratei desse assunto sistematicamente": "As reações a essa entrevista obrigaram-me a olhar para o tema com mais cuidado e verifiquei que, sobretudo por não ter levado na devida conta as últimas declarações do Magistério sobre o tema, dei lugar a essas reações".
Por isso, Policarpo se sentiu na obrigação de esclarecer a sua posição diante dos fiéis: "Seria para mim doloroso que as minhas palavras pudessem gerar confusão na nossa adesão à Igreja e à palavra do Santo Padre. Creio que tenho lhes mostrado bem que a comunhão com o Santo Padre é uma atitude absoluta no exercício do meu ministério".
O patriarca também destacou a "complementaridade do homem e da mulher na história da salvação", que "atinge a sua plenitude na relação de Cristo e de Maria". Enraizado no Novo Testamento, o ministério sacerdotal cristão, desde o princípio, era conferido só aos homens.
"O fato de não constarem mulheres entre esses sucessores e cooperadores não significa uma minimização da mulher, mas sim a busca daquela complementaridade entre masculino e feminino, plenamente realizada na relação de Cristo com Maria".
Nos primeiros tempos da Igreja, indicou o cardeal, "é notória a harmonia entre o fato de o sacerdócio apostólico ser conferido a homens e a importância e dignidade das mulheres na Igreja".
Para o cardeal, uma das causas da reivindicação do sacerdócio feminino é "a perda da consciência da dignidade sacerdotal de todos os membros da Igreja, reduzindo a expressão sacerdotal ao sacerdócio ordenado".
Uma outra causa é "a compreensão do sacerdócio ministerial como um direito e um poder, não percebendo que ninguém, homens e mulheres, podem reivindicar esse direito, mas sim aceitar o chamado da Igreja para o serviço, que inclui o dom da própria vida".
No início, quando esse tema foi posto, não se excluía "que se tratasse de uma questão aberta, na atenção que se deve prestar à atuação do Espírito Santo, na busca da expressão do mistério da Igreja nas realidades novas".
De todos os modos, o Magistério mais recente dos papas interpreta essa tradição ininterrupta de ordenar só homens "não apenas como uma maneira prática de proceder, podendo mudar ao ritmo da ação do Espírito Santo, mas como sendo expressão do próprio mistério da Igreja, que devemos acolher na fé".
"Somos, assim, convidados a acatar o Magistério do Santo Padre, na humildade da nossa fé e continuarmos a aprofundar a relação do sacerdócio ministerial com a qualidade sacerdotal de todo o Povo de Deus e a descobrir a maneira feminina de construir a Igreja, no papel decisivo da missão das nossas irmãs mulheres", conclui Policarpo.
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A marcha a ré do cardeal Policarpo: "A ordenação de mulheres não é possível" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU