02 Julho 2011
Os vaticanistas Paolo Rodari e Andrea Tornielli apresentam seus pontos de vista sobre a indicação de Angelo Scola ao arcebispado de Milão.
O debate foi publicado no sítio da revista MicroMega, 02-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o debate.
Paolo Rodari, vaticanista do jornal Il Foglio
O historiador Alberto Melloni me disse recentemente que "não há, para um papa, uma nomeação mais importante do que Milão. Porque a nomeação é uma autoestrada para o papado e, portanto, decisiva mais para a Igreja como um todo do que para a diocese ambrosiana. Em suma, a suspeita de que o sucessor de Tettamanzi possa ter o fim de um Achille Ratti (depois Pio XI) ou de um Giovanni Battista Montini (depois Paulo VI) é grande".
Eu compartilho essa opinião. Embora não esteja realmente certo de que, no caso de conclave, Scola terá sucesso. De fato, acho que, quando acontecer, os cardeais reunidos em conclave procurarão um candidato mais jovem, que tenha as forças para levar a Igreja por pelo menos duas décadas. Mas, é claro, a nomeação de Scola diz muito sobre a Igreja, também em vista do próximo conclave. Ou seja, que Bento XVI quer que os fiéis sejam confiados a pastores de doutrina segura, de linha tradicional, mas, ao mesmo tempo, capazes de dialogar com o mundo sem ter medo dele.
Ratzinger – é a minha opinião pessoal – não defende uma Igreja conservadora no sentido mais deletério do termo, isto é, fechada ao mundo e enclausurada em dogmas e em si mesma. Ele defende, no entanto, uma Igreja fiel à sua tradição, mas, ao mesmo tempo, capaz de acolher as diversidades, as novidades, os impulsos também mais reformadores.
Scola, assim como um pouco todos aqueles que provêm da revista teológica Communio, fundada por Hans Urs von Balthasar, Henri de Lubac e o próprio Ratzinger, parece ter em seu DNA a capacidade de escuta e de encontro com todos, e acho que é por esse motivo também que, nestes dias, muitas personalidades declaradamente ateias ou distantes da fé expressaram opiniões positivas sobre ele.
Andrea Tornielli, vaticanista do jornal La Stampa
Mais de um observador lê a nomeação de Scola a Milão como uma indicação para o conclave. Pessoalmente, acho que a designação atesta a grande estima do papa pelo novo arcebispo de Milão e também a vontade de lhe confiar um papel ainda mais importante na cena da Igreja italiana e europeia.
Tenho muitas dúvidas, no entanto, para considerar a nomeação como uma abertura dos "jogos" em vista da sucessão: sobretudo porque Scola seria um candidato mesmo que ficasse em Veneza, e especialmente porque a história dos conclaves, incluindo o último, ensina como certas previsões são destinadas a ser frágeis.
Inúmeras são as variáveis a se considerar. E, sinceramente, penso que Bento XVI considerou em fazer o bem da diocese de Milão, não de colocar uma hipoteca sobre a sua sucessão.
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Scola, uma indicação para o conclave? A análise de vaticanistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU