18 Junho 2011
Absolutamente nenhuma área da vida da Igreja nos dias de hoje está imune a difíceis questões sobre a identidade católica, refletindo a megatendência que eu tenho chamado de "catolicismo evangélico", a partir da premissa de uma robusta afirmação do pensamento, discurso e prática católicos tradicionais.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 17-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa política da identidade é o fio de ouro que corre através de uma ampla gama de transtornos, da missa em latim ao novo Missal Romano em inglês, dos debates sobre o caráter eclesial dos hospitais e instituições de caridade católicos à teologia e à formação dos seminários.
A fermentação está certamente clara na vida religiosa. É a base, por exemplo, de uma Visitação Apostólica promovida pelo Vaticano às comunidades femininas dos Estados Unidos. É também por isso que autoridades da Cúria Romana, nesta semana, dedicaram uma de suas raras reuniões conjuntas para discutir sobre a vida religiosa, focando-se principalmente em questões de autoridade.
No mundo notoriamente compartimentado do Vaticano, a comunicação entre os vários departamentos, tecnicamente conhecidos como "dicastérios", tende a ser a exceção e não a regra. Um dos poucos canais formais ocorre por meio de uma assembleia "interdicasterial", quando todos os chefes dos departamentos se reunem com o papa para discutir temas de especial interesse.
A última vez que isso aconteceu foi em novembro de 2010, para refletir sobre o papel do novo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
Na segunda-feira passada, Bento XVI convocou a primeira sessão interdicasterial de 2011. Embora o Vaticano não tenha divulgado detalhes do encontro, fontes disseram ao NCR que o assunto foi a vida religiosa, incluindo a discussão de três pontos:
O secretário de Estado do Vaticano, o cardeal italiano Tarcisio Bertone, abordou o terceiro ponto. Um elemento-chave do subtexto foram os Legionários de Cristo e o que alguns viam como um culto da personalidade ao longo dos anos em torno do fundador da ordem, o falecido padre mexicano Marcial Maciel Degollado.
Como os legionários foram forçados a reconhecer que Maciel era culpado de uma vasta gama de ofensas, incluindo o abuso sexual, uma questão inevitável é se uma noção exagerada de obediência pessoal a Maciel ajudou a permitir que essa má conduta tenha sido incontestável por tanto tempo.
Bertone é salesiano e, portanto, ele próprio é um produto da vida religiosa. De acordo com as fontes da reunião, Bertone ressaltou que as comunidades religiosas devem defender sua própria identidade, mas não às custas da responsabilização perante à Igreja como um todo.
Resta saber o que pode vir dessas discussões em termos de novas iniciativas políticas ou medidas específicas dirigidas às comunidades.
Pelo menos, a reunião interdicasterial desta semana ofereceu outra indicação de que as preocupações acerca da identidade em torno da vida religiosa, assim como em qualquer outra área da Igreja, vieram para ficar.