15 Junho 2011
Apesar dos recentes casos em que bispos católicos não denunciaram nem suspenderam padres acusados de abuso sexual infantil, os bispos, em uma reunião em Seattle nesta semana, irão propôr revisões significativas às políticas de prevenção de abusos aprovadas em 2002 no auge do escândalo.
A reportagem é de Laurie Goodstein, publicada no jornal The New York Times, 14-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os bispos haviam prometido que analisariam criteriosamente suas políticas à luz das novas acusações na Filadélfia e em Kansas City, Missouri, que abalaram muitos católicos, não apenas nessas dioceses, mas também em todo o país. Os incidentes levaram alguns católicos a questionar se os bispos estão cumprindo suas próprias políticas e se há qualquer responsabilização para os bispos que não as estão cumprindo.
Na diocese de Kansas City-St. Joseph, Dom Robert W. Finn admitiu no mês passado que havia permitido que um padre que havia tirado fotos pornográficas de meninas da paróquia continuasse celebrando a Missa e tendo acesso às crianças.
Dom Finn também reconheceu que não havia lido uma carta enviada ao seu escritório um ano antes por pelo diretor de uma escola católica, que alertava que os pais, professores e membros da escola suspeitavam que o padre Shawn Ratigan era um molestador de crianças. O padre Ratigan foi preso no dia 19 de maio por acusações envolvendo pornografia infantil.
"Não há responsabilização e não há nenhum protocolo transparente", disse Pat O`Neill, coproprietário de uma empresa de relações públicas e de marketing de Kansas City, que já atuou como consultor para essa diocese. "Nunca vi uma raiva tão profunda e disseminada como a que eu vi, ouvi e senti nessas últimas três semanas. Ela vem de pessoas que eu conheço como muito conservadoras, muito devotas, especialmente dos mais jovens".
Na Filadélfia, um Grande Júri descobriu recentemente que o cardeal Justin Rigali permitiu que 37 padres acusados de abuso ou de comportamento inapropriado permanecessem no ministério. O Grande Júri também indiciou o ex-presidente do escritório arquidiocesano para o clero, Mons. William Lynn, acusado de pôr em perigo o bem-estar das crianças – a primeira acusação desse tipo de uma autoridade da Igreja.
Em ambas as dioceses, os bispos nunca informaram seus "conselhos de revisão" sobre abusos sexuais a respeito dos casos. Em seus dois anos na diocese de Gallup, Novo México, Dom James S. Wall nunca se reuniu com seu conselho de revisão, embora a diocese supostamente estava conduzindo uma revisão dos casos de abuso, uma situação relatada pela primeira vez pelo jornal Gallup Independent.
Os conselhos de revisão, compostos principalmente por leigos com experiência na área de prevenção ao abuso de crianças, deveriam estar entre as medidas mais significativas dos bispos adotadas em 2002, conhecidas como a Declaração para a Proteção de Crianças e Jovens.
O presidente da comissão episcopal para a proteção da criança, Dom Blase J. Cupich, de Spokane, Washington, disse em uma entrevista: "O problema não é a declaração. Parece-me ser se as pessoas usam ou não a declaração como um ponto de referência apropriadamente".
Existem poucas revisões porque, segundo Dom Cupich, "nós consideramos que a declaração tem um status icônico. Acreditamos que as decisões que tomamos em 2002 foram significativas. Elas envolveram não só uma mudança na prática e nas políticas, mas também, eu acho, na cultura, e por isso nós seremos relutantes em recuar desse compromisso de qualquer forma para fazer qualquer alteração".
As únicas revisões significativas propostas na declaração são necessárias por causa das novas normas do Vaticano, emitidas no ano passado. Essas normas tornam crimes o abuso de uma pessoa com problemas mentais, assim como a aquisição, posse ou distribuição de pornografia infantil, sob o Código de Direito Canônico da Igreja.
Em seu encontro, os bispos também irão votar sobre a sua primeira declaração formal que denuncia o suicídio assistido e ouvirão um relato sobre uma nova estrutura eclesial para as paróquias anglicanas que querem aderir à Igreja Católica Romana.
A questão sobre o que fazer com os bispos que não seguem a declaração não é abordada nas revisões. A declaração diz apenas que os bispos devem recorrer à "correção fraterna" de uns pelos outros.
As mãos dos bispos estão amarradas, disse Russell Shaw, autor de Nothing to Hide: Secrecy, Communication, and Communion in the Catholic Church [Nada a esconder: Sigilo, comunicação e comunhão na Igreja Católica] (Ignatius Press, 2008).
"Um órgão de bispos como esse não tem autoridade nem poder real para punir, coagir ou castigar os membros individuais que não vão junto com a maioria, mesmo quando é uma maioria esmagadora", disse Shaw, ex-diretor de comunicações do bispos. "Essa é uma questão em grande parte nas mãos da Santa Sé no momento atual e, provavelmente, só pode ser abordada de uma forma ampla e permanente por meio das alterações na própria lei canônica".
Nicholas Cafardi, autor de Before Dallas: The U.S. Bishops’ Response to Clergy Sexual Abuse of Children [Antes de Dallas: A resposta dos bispos dos EUA ao abuso sexual clerical de crianças" (Paulist Press, 2008), disse: "A correção fraterna sempre foi um elefante branco no meio da sala".
"A menos que os bispos estejam dispostos a chamar a atenção uns aos outros", disse Cafardi, ex-reitor da Duquesne Law School, "sempre teremos bispos individuais que pensam que podem ignorar as exigências da declaração".
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Bispos dos EUA não irão debater políticas antiabusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU