07 Junho 2011
Para ele, a água é mãe e irmã, um bem essencial, excluindo-se que alguém a possa roubar. Padre Alex Zanotelli (foto), missionário comboniano, já combateu diversas batalhas, sempre na vanguarda pela paz, pela não-violência, pelos mais fracos. A ideia de que alguém possa privatizar a água faz com que ele cometa seu único pecado capital: chegar ao cúmulo da sua fúria.
A reportagem é de Flavia Amabile, publicada no jornal La Stampa, 06-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele já deve ter escrito pelo menos uma dezena de cartas a todos pedindo um passo atrás. A última chama em causa os homens e as mulheres da Igreja.
Eis a entrevista.
O senhor se dirige aos sacerdotes, missionários, religiosos: o que farão?
Nos reuniremos na Praça de São Pedro, em Roma, na quinta-feira 9 de junho ao meio-dia, para fazer um grande jejum. Eu pedi que eles levassem os símbolos sacerdotais e religiosos, mas também com os manifestos pastorais, para poder elevar a todo o povo italiano o nosso clamor: salvemos a água! Saiamos às ruas, assim como fizeram os monges em Mianmar (ex-Birmânia) contra o regime que oprime o povo.
Quantos responderam?
Até hoje, chegaram as adesões de 150 comunidades.
Um bom resultado. As instituições do Vaticano também estão de acordo?
O papa Bento XVI afirma, na sua encíclica social Caritas in Veritate, nº. 27, que a água é um direito universal de todos os seres humanos. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja, no nº. 485, também adverte que a água não pode ser tratada como uma mera mercadoria. E, depois, da L`Osservatore Romano a secretários, monsenhores e bispos, muitos se posicionaram contra a privatização da água. Como cristãos, não podemos aceitar a lei Ronchi, votada pelo nosso Parlamento (primeiro na Europa) no dia 19 novembro de 2009, que declara a água como bem de relevância econômica.
O que é a água para os católicos?
É a irmã e a mãe. Deem-nos de beber!, gritam hoje milhões de empobrecidos. Em um planeta onde a população está crescendo e a água diminuindo por causa do superaquecimento, esse "deem-nos de beber!" se tornará um sempre mais angustiante. Nos rostos daqueles que têm sede, acreditamos ver o rosto daquele pobre Cristo que nos repetirá: "Tive sede... e não me destes de beber". Quem vai pagar, como sempre, serão os mais fracos. A ONU afirma que, até a metade deste nosso século, três bilhões de seres humanos não terão acesso à água potável. É um problema ético e moral de dimensões planetárias que nos toca diretamente.
Porém, também haverá muitos sacerdotes ou aqueles que professam ser católicos que não vão se somar ou até mesmo vão votar pelo "não".
É verdade, mas como isso é possível? Considerar – como faz o governo – a água como uma mercadoria é uma blasfêmia. Como se chegou a isso? O que aconteceu com o povo cristão para não perceber algo tão grande como isso? Às vezes, também é um problema de informação. Muitos sacerdotes não entenderam o problema. Às vezes, há um problema de esquizofrenia: uma coisa é o que se diz na Igreja, outra coisa é o que acontece lá fora.
Do que eles não estão informados?
É coisa de cretino entregar a água aos setores privados. Eles tornaram as pessoas imbecis, e não se explica quais negócios se escondem por trás. São enormes. O ouro azul substituiu o ouro negro, o petróleo. É o novo grande negócio, e a política sempre favorece os interesses econômicos.
E se não for alcançado o quorum?
Também estamos nos preparando para essa eventualidade. Temos grandes juristas que estão trabalhando para que a decisão do governo seja declarada inconstitucional.
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"Para os católicos, a água é irmã e mãe. Privatizá-la é coisa de cretinos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU