06 Junho 2011
O analista Carlos Reyna afirma que a política de Humala, no Peru, será uma mistura de nacionalismo com uma socialdemocracia moderada. E que, no rumo que imprimirá à economia, irá mudar algo do modelo neoliberal.
Carlos Reyna é sociólogo, analista político e professor da Universidade Católica. Conversou sobre a vitória eleitoral de Ollanta Humala e sobre o que seria a política econômica e social de seu governo. Também fala sobre o futuro do fujimorismo após sua derrota.
A entrevista é de Carlos Noriega e está publicada no jornal argentino Página/12, 06-06-2011. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Humala terá que governar sem maioria no Congresso e com a forte oposição dos empresários e da mídia. Qual é a primeira coisa que deve fazer para dar estabilidade ao seu governo?
A primeira coisa que seguramente fará será buscar um governo de concertação nacional. Seguramente seu aliado político ao longo de seu governo será o Perú Posible (partido do ex-presidente Alejandro Toledo), com quem teria maioria no Congresso. Humala tem a oportunidade de se abrir, além de a outros setores políticos, também a setores da intelectualidade e da cultura, onde teve apoio, o que pesou em sua vitória porque esse apoio lhe deu uma imagem mais consensual e representativa do Peru.
Esse governo de concertação de Humala será um governo de esquerda?
Penso que vai ser um governo de centro-esquerda e de concertação. Sem dúvida, será um governo que terá mais sentido social que o atual e que estará mais aberto ao diálogo com os setores populares e indígenas. Humala me parece uma pessoa muito pragmática, que não arrisca muito. Tomou posturas radicais para tornar-se conhecido, mas uma vez que, lá em 2006, se converteu em uma figura presidenciável começou a empreender um rumo para o centro.
Que peso terá a esquerda que acompanha Humala em seu governo?
Terá algum peso e influirá em políticas sociais, mas creio que Humala vai tomar um rumo econômico moderado.
Mudará o modelo econômico neoliberal ou manterá a essência do modelo com algumas modificações para melhorar a redistribuição?
Creio que em certo sentido vai mudar o modelo econômico neoliberal, que é um modelo autoritário, vertical, no qual tudo é decidido pelas grandes empresas. Isso Humala vai mudar, mas não vai fazer uma política como a de Evo Morales, por exemplo. Creio que sua política será uma mistura de nacionalismo com uma socialdemocracia moderada. Humala se deu conta de que o que deu certo foi abrir-se a uma convergência de diferentes setores, que inclui não apenas a esquerda, mas também a centro-direita. Isso vai se expressar em um rumo que seguramente será de uma economia de mercado com importantes políticas sociais e mais dialogante com os setores populares.
Como será a relação do governo de Humala com os setores empresariais que se opuseram à sua candidatura?
Os empresários não votaram no Humala, mas vão estender pontes para ele. Não creio que vão declarar guerra contra ele, porque se dão conta de que têm um país que é um cenário importante para fazer negócios. Humala vai se situar a meio termo entre os empresários e os movimentos sociais.
Qual será a política exterior de Humala?
Seguramente, sua política exterior será latino-americanista, que se somará à Unasul. Sem dúvida nenhuma terá uma proximidade maior com o Brasil e o Partido dos Trabalhadores do que com a Venezuela de Chávez, ainda que também criará um clima de amizade com o governo de Chávez. Terá simpatias com os governos de Cristina Kirchner, Correa, Evo Morales, com quem terá uma política exterior mais convergente do que teve o governo de Alan García. Nesse sentido, em termos internacionais, a vitória de Humala é um golpe à hegemonia norte-americana na região, porque perdeu um dos seus aliados. O chamado Arco do Pacífico (acordo recentemente assinado pelos governos conservadores do Peru, Chile, Colômbia e México) e que Alan García impulsionou como um eixo anti-chavista, sofreu um duro revés com a vitória de Humala.
A vitória de Humala implica uma mudança para as relações do Peru com a Argentina?
Sem dúvida nenhuma Humala estará mais próximo do governo peronista da Argentina do que esteve o governo de García e do que teria estado Keiko Fujimori.
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Humala terá "maior sentido social e diálogo’, diz analista político - Instituto Humanitas Unisinos - IHU