28 Abril 2011
Rodolfo Valenzuela Núñez é atualmente o bispo de Verapaces, membro do Conselho Permanente da Conferência Episcopal da Guatemala (CEG). Entre suas várias responsabilidades estão a de coordenar a Comissão de Diálogo Interreligioso da CEG e é o vice-presidente do Conselho Ecumênico Cristão da Guatemala, espaço onde convergem a igreja católica e as igrejas protestantes históricas da Guatemala.
Valenzuela representou os Bispos da Guatemala na V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, realizada em Aparecida, Brasil, em maio de 2007, e inaugurou as Primeiras Jornadas Teológicas da América Central e do Caribe, que acontecem na Guatemala de 26 a 29 de abril de 2011, no marco do Décimo Terceiro aniversário do martírio de Monsenhor Juan José Gerardi.
As Jornadas Teológicas precedem o Congresso Americano de Teologia a ser realizado, em São Leopoldo, RS, em outubro de 2012.
A entrevista é da Federação Guatemalteca de Escolas Radiofônicas - FGER e publicada por Adital, 28-04-2011.
Eis a entrevista.
De que maneira se tem em conta a mensagem de Monsenhor Gerardi, focando em temas de Direitos Humanos e povos indígenas?
Não há dúvida de que o assassinato de Monsenhor Juan José Gerardi e sua obra póstuma como foi dirigida, o REMHI, teve e segue tendo um impacto; sobretudo o impacto tem sido uma maior consciência sobre o sofrimento do povo e as situações de impunidade e injustiça que ainda permanecem.
O mesmo assassinato de Monsenhor Gerardi ainda não foi esclarecido porque ainda estamos em um ambiente em que a impunidade reina na Guatemala. Há certos âmbitos de investigação aos quais não é fácil ter acesso, no entanto, somos pacientes e conseguimos, como disse o Cardeal Quezada Toruño: "não queremos saber quem são os últimos responsáveis pelo assassinato para odiá-los, ao contrário, para saber a quem perdoar".
Mas o fato de esclarecer e de que em nosso país se faça justiça em um crime com tanto impacto, pois também pode ser programático para que muitas outras situações da vida social também sejam esclarecidas.
Como lhe tem parecido o desenvolvimento da primeira sessão de trabalho das jornadas teológicas?
É muito interessante começar a teologia partindo do ver a realidade. Estamos fazendo referência, nestas jornadas, ao Concílio Vaticano II e uma das coisas que ensinou o Concílio é que se faz reflexão sobre a fé a partir da realidade. E a teologia da libertação na América Latina também deixou isso muito claro.
A reflexão teológica se faz a partir de ver os sinais de Deus, o que Deus está nos manifestando nestas realidades duras da América Latina, como temos compartilhado: Haiti, a migração, a mulher, os problemas da terra.
Quais seriam as contribuições que deixam estas jornadas às igrejas centro-americanas e da região caribenha?
Na América Central e em toda América Latina, necessita-se de um compromisso social. O cristianismo não deve divorciar fé e vida, como repetiu muito João Paulo II em sua visita à Guatemala. E é justamente nesse compromisso com a transformação da sociedade onde se necessita uma motivação e esta vem da teologia; de refletir como nossa fé nos impulsiona a fazer o possível para colaborar em uma libertação, em uma transformação da realidade; libertação integral da pessoa.
O senhor menciona a palavra fé. Ainda existe nas pessoas, independentemente de sua nacionalidade?
Sim, a fé está muito enraizada em nossos países. Isso faz uma diferença frente à Europa, onde se está em um momento de descrença, de indiferença, de ateísmo prático. Em troca, nossa realidade latino-americana segue sendo muito religiosa, segue fazendo uma referência a Deus, à transcendência; justamente o que temos que sublinhar é que se fazemos referência a Deus e temos Fé, isso deve nos ajudar a conseguir um desenvolvimento humano integral.
Estas jornadas trazem muitos frutos para a região centro-americana e caribenha?
Sim, o fruto principal que se espera de uma reflexão da fé - profunda - é que nos ajude a todos os cristãos e cristãs, a todos os homens e mulheres de boa vontade a fortalecer nosso compromisso a serviço do reino de Deus.
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Reflexão teológica deve ser a partir da análise da realidade, afirma bispo guatemalteco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU