13 Abril 2011
Depois de duas greves gerais em fevereiro e março, os líderes sindicais entraram em uma greve indeterminada até que fossem recebidos por Evo Morales. O presidente sentou com a COB, mas o impasse permanece e a tensão cresce em todo o país.
Bloqueio da rodovia entre Cochabamba e Sucre organizado pela COB. Foto: Noé Portugal - Los Tiempos.
A reportagem é de Sebastián Ochoa e publicado pelo Página/12, 13-04-2011. A tradução é do Cepat.
O governo de Evo Morales e a Central Operária Boliviana (COB) continuam em desacordo sobre o aumento salarial. Enquanto o Executivo mantém a sua proposta de 10%, os trabalhadores pedem no mínimo 15%. Ontem, calculadora na mão, o presidente aymara explicou porque não pode aceitar a reivindicação da COB, argumentando que prejudicaria a economia boliviana. Os manifestantes, entretanto, mantém em todo o país bloqueios nas principais rodovias e realizam manifestações. O conflito entre o governo e os trabalhadores começou ainda em 2010, no final de dezembro, quando Morales decretou a "gasolinazo", que elevou os preços do combustível em até 82%. Os fortes protestos forçaram o presidente a revogar a medida, mas isso não impediu o aumento no custo dos alimentos.
Depois de duas greves gerais em fevereiro e março, a COB entrou em greve por tempo indeterminado na quinta-feira da semana passada, até que fosse recebida por Morales. No Palacio Quemado argumentou que a violência da COB – foi uma das principais aliadas do governo –, foi coisa de alguns líderes que estavam em "campanha" para as eleições de 1º de maio, quando os trabalhadores escolhem a nova direção da central. O Executivo afirmou que não se reuniria com COB antes de sua eleição interna.
Mas os protestos em todo o país ganharam volume, sobretudo em La Paz, onde as manifestações dos mineiros com suas características explosões de dinamite fazem sacudir as ruas da velha cidade. Na Praça Murillo, a polícia não permite manifestações. "Se eles entram aqui, dinamitam o Palácio Legislativo, o Palácio de Governo e até a mim mesmo. Pode-se até pensar em um golpe de Estado", diz Morales.
Finalmente, no último domingo o presidente aceitou conversar com os dirigentes da COB. A negociação durou 18 horas, até segunda-feira ao meio-dia. Como resultado, Morales e seus ministros assinaram um memorando com os oito pré-acordos alcançados. Os trabalhadores se recusaram a assinar até consultarem as bases.
Segundo o documento, o governo e a COB se comprometem em desenvolver conjuntamente leis que anulariam a vigência do decreto 21.060 implementado em 1985 que introduziu a Bolívia no mundo do livre mercado. Além disso, os trabalhadores seriam os responsáveis por elaborar uma proposta de reestruturação do Fundo Nacional de Saúde (CNS), que tem três milhões de membros e se encontra em uma profunda crise. Desde o dia 04 de abril, os médicos estão em greve. A reunião, entretanto, não chegou a um acordo sobre aumento salarial.
O secretário-executivo da COB, Pedro Montes, disse que rejeitavam a proposta do governo e que apresentaram uma contraproposta. "Se eu tivesse dinheiro, por que não? (aumento de 15%), mas se você não tem recursos financeiros suficientes , de onde vai tirar o dinheiro? Com os 10% repomos a taxa de inflação (2010). É um aumento racional. O Tesouro não tem capacidade de crescer e crescer ", disse o presidente em uma coletiva de imprensa.
A COB levantou duas possibilidades: a primeira, que se dê o aumento de 15% com o risco de agravamento do déficit, e a outra, usando as reservas internacionais. No primeiro caso, foi explicado que a Tesouro Geral da Nação (TGN), enfrenta um déficit de US $ 880 milhões. Um aumento implicaria em passar o déficit para 913 milhões dólares. No caso das reservas, estas pertencem a todos os bolivianos. Portanto, "acreditamos que é um pedido que não se pode aceitar", explicou o ministro da Economia, Luis Arce Catacora. Com o aumento de 10%, o salário mínimo ficaria em 815 bolivianos, cerca de 116 dólares.
Os bloqueios de rodovias não permitem o funcionamento normal dos ônibus de longa distância. As manifestações e greves, principalmente de médicos e professores, estão mais fortes nas cidades de La Paz, El Alto, Cochabamba, Santa Cruz, Tarija, Sucre, Potosí e Trinidad. As organizações camponesas e indígenas, que também mobilizam milhares de pessoas permanecem fora do conflito, apoiando Morales. Alguns dirigentes do campo advertem que poderiam rumar à La Paz para protestar contra a greve da COB. Enquanto isso, Morales pensa em outras maneiras para encerrar o conflito; a Central, por sua vez, anunciou que continuará enviando operários à La paz para pressionar o governo.
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Evo Morales e COB não chegam a um acordo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU