03 Janeiro 2011
Encerrou 2010, o annus horribilis para Bento XVI e a imagem da Igreja Católica. Um ano marcado pelo escândalo da pedofilia e pela resposta papal a ele. As novas normas, que endurecem os castigos a essa chaga, serão postas à prova ao longo deste 2011. A partir de agora, a reação diante de cada caso que surgir será examinada com lupa pela opinião pública. Bento XVI diante do principal desafio do seu pontificado, para se converte no Papa que acabou com essa perversão no seio da Igreja de Cristo.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada no sítio Religión Digital, 03-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os propósitos de purificação de Ratzinger também terão seu ponto de inflexão na "solução final" que for dada à intervenção dos Legionários de Cristo. O ano concluiu com o anúncio dos trabalhos para as novas constituições da congregação fundada pelo pedófilo Marcial Maciel, cuja veneração – inclusive em nível interno – foi proibida. Qualquer saída em falso a esse processo seria fulminante para o prestígio do Papa e da Cúria vaticana.
Uma cúria que, nos próximos meses, também terá que continuar sua renovação. Especialmente importante será o nome do novo prefeito para a Vida Consagrada. O cardeal Maradiaga se apresenta como o candidato ideal para substituir Franc Rodé, que não deixará boas lembranças entre os religiosos espanhóis.
2011 também será o ano para a mudança na liturgia anunciado pelo cardeal Cañizares, cujo prestígio em Roma cresce muito. A mal chamada "volta para Roma" de grupos anglicanos, o avanço do diálogo com ortodoxos e luteranos e a solução ao cisma lefebvriano serão outros aspectos a se ter em conta neste ano que começa, assim como a crescente perseguição aos cristãos no Oriente Próximo e a escalada da tensão com a China.
Uma questão preocupa especialmente a Joseph Ratzinger, um projeto que ele quer levar a cabo a todo o custo e cujo primeiro ensaio poderemos ver nos próximos meses em Paris. Na sede da Unesco (a mesma organização que alguns acusam de querer converter em homossexuais a metade da população mundial) da capital francesa, ocorrerá o primeiro "átrio dos gentios", uma proposta capitaneada pelo cardeal Ravasi e que pretende voltar a construir pontes entre fé e razão, em uma sociedade cada vez mais secularizada.
Na Espanha, são várias as instituições que querem assumir o evento, embora tudo pareça indicar que será a Sagrada Família de Barcelona que poderia acolher um ato dessas características no final do ano. E Bento XVI ficou maravilhado com a beleza e com as possibilidades do magnífico templo sonhado por Gaudí e que ele mesmo inaugurou em sua recente visita a Barcelona.
O Papa viajará neste ano. Quatro países marcados em vermelho: Croácia, Espanha, Benin (novamente a África) e Alemanha. Na Espanha, Bento XVI encerrará com a sua presença a Jornada Mundial da Juventude de Madri, em agosto. Um evento que eclipsou qualquer outra ação pastoral na Espanha nos últimos anos. Uma jornada vivida, sonhada e trabalhada pelo cardeal de Madri e presidente do Episcopado, Antonio María Rouco Varela, que completará 75 anos – idade em que deveria apresentar sua renúncia – no mesmo dia em que o Papa irá presidir a vigília de oração com os jovens.
A JMJ é o grande desafio da Igreja espanhola, que fez suas críticas até ao governo socialista para que não interfira em nada na organização do magno evento, que prevê levar para a Espanha mais de dois milhões de jovens. Com a falta de um plano de evangelização claro, a logística e o financiamento do evento está sendo um êxito. As três administrações públicas (Ajuntamento, Comunidade e Governo) estão colaborando a todo o ritmo, e as empresas também parecem responder.
Só dois aspectos poderia perturbar a organização. No âmbito interno, as eleições à presidência da Conferência dos Bispos da Espanha, que ocorrerão em março. Hoje, todos dão por fato que o cardeal Rouco será reeleito para um novo triênio, convertendo-se no bispo que dirigiu a Igreja espanhola por mais anos. Nas relações exteriores, a futura aprovação da Lei de Cuidados Paliativos poderia significar um atrito nas relações Igreja-Estado. Apesar disso, o governo não quer abrir uma nova frente com a Igreja, depois de ter freado, sine die, a tramitação da Lei de Liberdade Religiosa.
Entretanto, nas próximas semanas poderíamos conhecer o nome do substituto de Francisco Vázquez à frente da Embaixada da Espanha no Vaticano. O ex-ministro Moratinos parece ser quem tem mais opções para substituir uma delegação-chave para a Santa Sé.
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Bento XVI e o ano-chave do seu pontificado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU