24 Mai 2022
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos da América Al Gore instou às lideranças negras inter-religiosas e ativistas ambientais para somarem esforços para procurar soluções às “gêmeas crise climática e justiça racial”.
A reportagem é de Adelle M. Banks, publicada por Religion News Service, 24-05-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Falando na terça-feira passada (17 de maio) para cerca de 100 representantes de tradições cristãs, muçulmanas, budistas e nativas americanas, Gore disse que os líderes religiosos devem continuar seu trabalho, pois os efeitos do aquecimento global estão prejudicando desproporcionalmente comunidades pobres e vulneráveis, incluindo bairros predominantemente ocupados por pessoas de cor.
“19 dos 20 anos mais quentes já medidos com instrumentos foram desde 2002. Assistir diariamente aos noticiários da televisão internacional parece uma caminhada pela natureza através do Livro do Apocalipse”, disse Gore, que fundou o Climate Reality Project para defender respostas ao aquecimento global.
“Devemos trabalhar para construir pontes de entendimento com aqueles que estão sofrendo os piores impactos”, acrescentou em um evento organizado pelo Black Interfaith Project of Interfaith America, no Oprah Winfrey Theatre, do Museu Nacional de Cultura e História Afro-Americana do Smithsonian.
Descobriu-se que quase 70% dos estadunidenses negros vivem a 50km de alguma usina de carvão, criando ameaças à sua saúde, observou ele.
Gore e outros palestrantes observaram que os líderes religiosos afro-americanos têm procurado abordar essas disparidades ambientais e de saúde causadas pela crise climática, que, segundo ele, “em seu núcleo está uma crise espiritual”.
Mas os líderes negros de todas as religiões precisam ser mais expressivos sobre o assunto, disse o reverendo Fred Davie, consultor sênior para equidade racial da Interfaith America, que faz parceria com o Religion News Service.
“A presença negra nesta edição não foi tão proeminente e tão significativa quanto talvez pudesse e devesse ter sido”, disse Davie, que também é membro do conselho do projeto de Al Gore. “Estamos procurando mudar isso. E estamos particularmente procurando mudar não apenas de uma perspectiva, mas das muitas perspectivas de fé que compõem a comunidade negra nos EUA”.
Gore, que disse que seus estudos décadas atrás na Vanderbilt Divinity School ajudaram a moldar sua consciência da “beleza e maravilha de toda a criação”, foi acompanhado no evento por membros da próxima geração de líderes que buscam mesclar preocupação com ética e equidade com seus objetivos ambientais.
Karenna Gore, fundadora e diretora-executiva do Centro de Ética da Terra do Union Theological Seminary, a outra co-anfitriã do encontro, falou sobre a necessidade de as comunidades de fé serem “pastorais, proféticas e práticas”. A filha do vice-presidente disse que o cuidado pastoral é necessário para lidar com aqueles que negam que haja uma crise. Ela também apontou medidas práticas, como “esverdear as casas de culto” e juntar-se às que já estão na linha de frente, buscando evitar oleodutos e gasodutos que ameaçam as terras dos nativos americanos e os bairros negros.
Crystal Cavalier, cofundadora da 7 Directions of Service, descreveu como seu grupo de advocacy indígena ajudou a liderar uma campanha de oposição ao gasoduto de Mountain Valley, no estado de Virginia, que o grupo e seus aliados acreditam que pode ser prejudicial. Ela disse que seus encontros começaram com um momento de oração inter-religiosa que ajudou a construir a unidade entre os ativistas.
“Uma vez que as pessoas se sintam confortáveis e confiem umas nas outras”, disse Cavalier, que é da Carolina do Norte, membro da etnia Occaneechi-Saponi, “é muito mais fácil organizar nossas comunidades, especialmente quando se trata de todo o planeta, degradação ambiental e como todos nós temos que nos levantar e lutar”.
William J. Barber III, diretor de justiça climática e ambiental do projeto de Al Gore, observou que o atual trabalho inter-religioso envolvendo pessoas de cor segue esforços anteriores de líderes como o reverendo Benjamin Chavis, da United Churches of Christ, a quem é creditado a conceituação da expressão “racismo ambiental”.
“A presença da comunidade negra religiosa nos estágios inaugurais do movimento de justiça ambiental nos faz perceber que as tradições de fé têm e continuam sendo alguns de nossos maiores bastiões de ativismo”, disse Barber.
Gore apontou que quando o pai de Barber, o reverendo William J. Barber II, ajudou a lançar uma nova versão da Campanha dos Pobres do reverendo Martin Luther King Jr., incluiu-se justiça ambiental, bem como o foco anterior no “três males” do racismo, da pobreza e do militarismo.
Ibrahim Abdul-Matin, um ativista ambiental muçulmano, vinculou a crise climática à diminuição do voto.
“Por que você acha que negros e pardos não são eleitores tão consistentes?”, disse o autor de “Green Deen: What Islam Teaches About Protecting the Planet” (“Dīn Verde: O que o Islã ensina sobre a proteger o planeta”, em tradução livre). “Porque a crise climática está empurrando as pessoas para fora de suas casas, forçando as pessoas a migrarem que elas não necessariamente querem fazer. É muito mais fácil votar quando você vota no mesmo local de votação nos últimos 30 anos”.
O ex-vice-presidente alertou contra seguir aqueles que passaram do “negacionismo climático ao desespero climático” e perderam o ponto de equilíbrio entre esses: o agir para buscar soluções de energia limpa que, segundo ele, podem ajudar a resolver a crise climática e o racismo ambiental.
“A transição para um futuro mais limpo também pode ser uma transição para um futuro mais justo e equitativo”, disse ele. “Em vez de construir uma infraestrutura suja de combustível fóssil que arrasta as comunidades, podemos aproveitar fontes como o vento e o sol para levantá-las”.
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Al Gore diz que a crise climática é como “uma caminhada pela natureza no Apocalipse” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU